Existem alguns pontos onde o gestor do negócio pode influenciar de maneira significativa. Um bom exemplo é a equipe de funcionários de uma fazenda. Eis um ponto decisivo e pouco explorado pelos produtores rurais nas suas empresas. Sim, você leu certo; "empresa". É assim que o produtor rural deve ver a sua fazenda ou sítio. Num mercado cada vez mais competitivo e agressivo, o negócio de final de semana deixou de existir para dar lugar a um escritório de negócios. É lá que tudo acontece.
A pecuária brasileira atravessa mais uma vez por tempos difíceis. As constantes dificuldades do setor – preço do boi gordo, preço dos insumos pecuários, questões sanitárias, baixa capacidade de investimento do produtor, endividamento bancário e outros tantos – somam-se ao atual nervosismo do mercado por conta da situação dos Frigoríficos. Neste cenário de incertezas o que o produtor rural pode fazer para manter a saúde financeira do seu negócio pecuário?
Sobre parte dos elementos desta realidade o produtor rural não tem controle algum. Exemplo disso é o preço recebido pela arroba do boi gordo (@). Como produtores / vendedores de carne – uma commodity do agro – sem nenhum tipo de valor agregado, recebe-se o valor referente ao seu peso, ou seja, “vale quanto pesa”. Esse é um excelente exemplo de como o pecuarista é um mero tomador de preços, onde apenas aceita o preço imposto pelo mercado (frigoríficos), pois não tem força (já que não é diferenciado) para pautar a valorização do seu produto.
Porém, existem alguns pontos onde o gestor do negócio pode influenciar de maneira significativa. Um bom exemplo é a equipe de funcionários de uma fazenda. Eis um ponto decisivo e pouco explorado pelos produtores rurais nas suas empresas.
Sim, você leu certo; “empresa”. É assim que o produtor rural deve ver a sua fazenda ou sítio. Num mercado cada vez mais competitivo e agressivo, o negócio de final de semana deixou de existir para dar lugar a um escritório de negócios. É lá que tudo acontece.
Neste enfoque, a gestão de pessoas é um ponto decisivo para o sucesso do “negócio” pecuário. Ter uma equipe de funcionários capacitados, responsáveis e comprometidos com os afazeres da propriedade é condição indispensável para a o perfeito funcionamento dos sistemas de produção.
Nessa nova concepção – de grandes mudanças – o funcionário deixou de ser visto apenas como mão-de-obra; agora eles são os recursos humanos da empresa. O “peão” passou a ser tratado modernamente como um “colaborador”.
E porque houve essa revolução de nomenclatura e concepção? Porque precisamos de “seres pensantes”, dotados de raciocínio, capazes de entender as funções que devem executar e o seu papel dentro do sistema. O funcionário não deve ser visto apenas com uma força bruta dentro da fazenda. Ele deve estar habilitado para tomar decisões que sejam de interesse do produtor rural, afinal de contas, é ele quem está diariamente envolvido com as atividades da propriedade.
Os recursos humanos de uma propriedade possuem uma gigantesca variação, tanto em quantidade quanto em qualidade. Existem fazendas com um ou dois funcionários e outras até com dezenas. Em ambos os casos é necessário que se explore a heterogeneidade, ou seja, a diferença que existe entre essas pessoas.
Cada funcionário possui uma habilidade, tem um perfil, uma religiosidade, uma maneira de se expressar e de se relacionar com o meio, diferente dos demais. Grande equívoco é cometido quando se trata todos da mesma maneira, pressupondo que todos são iguais. Enquanto gestor do negócio, à que se aprender a identificar essas diferenças, pois são elas que vão nos permitir conduzi-los da melhor maneira.
Na maioria das fazendas existe mais de um funcionário. Pois bem; façamos dessa pluralidade, um time. Temos que ter uma equipe formada; de preferência, a melhor equipe. Claro que existe uma grande dificuldade em formar grupos sólidos e imbatíveis / perfeitos; mas a busca deve ser neste sentido.
Para atingir esse objetivo, de formar uma boa equipe, a capacitação técnica-profissional de cada colaborador é fundamental. Não importa qual a área de atuação de cada um. Todos devem receber treinamento e orientações constantes. Do tratorista à cozinheira, do peão ao “salgador de cocho”, todos devem ser instruídos. Muitos funcionários desempenham as suas funções de forma errada achando que estão fazendo a coisa certa. Nunca alguém chegou e lhe disse que o que ele esta fazendo é errado, e tampouco lhe ensinou a maneira correta de fazê-lo.
Propicie ao seu colaborador momentos de aprendizagem. Existem órgãos governamentais e privados que oferecem esses serviços de capacitação, muitos deles, inclusive, gratuitos. Leve-o a eventos técnicos, palestras e momentos onde técnicas agropecuárias são discutidas. Toda e qualquer informação é bem vinda.
Para comprovar a qualidade do funcionário nada substitui a presença constante do gestor do negócio, seja ele um técnico ou o próprio dono da empresa. Investir em treinamento e capacitação da sua equipe é investir na sua fazenda.
A pecuária de corte ou leite se destaca como uma das principais atividades econômicas do país. Ela não é a que oferece a melhor remuneração, mas nem por isso deixa de ser atrativa; pelo contrário. Muitos, milhares de pessoas buscam a atividade como forma de investimento ou renda principal pela segurança que se tem. As margens dos ganhos são pequenas. Uma forma para obter lucratividade do negócio, é o efetivo controle dos custos da propriedade e o gerenciamento de como os recursos são aplicados no sistema de produção.
Neste sentido a seriedade e a responsabilidade do funcionário têm um papel decisivo. Não é possível entregar um programa de pastejo rotacionado na mão de um funcionário que não cumpre a risca o que foi pré-determinado (período de pastejo, período de descanso dos pastos, números de animais por piquete, altura dos pastos para entrada e saída dos animais). Sem respeitar os critérios da técnica, vai tudo por água abaixo.
Outro bom exemplo é um programa de inseminação artificial. Da mesma forma, quando não se domina a técnica da inseminação e/ou quando o funcionário não respeita os horários de observação de cio e inseminação das vacas, o resultado fica comprometido. Nesta situação perde-se tempo e dinheiro (sêmen, materiais utilizados, botijão e carga de nitrogênio líquido).
Por isso, o bom funcionário é aquele que cumpre os seus afazeres com seriedade, com compromisso. Rotina e o respeito aos horários são itens que devem ser cumpridos rigorosamente. Não podem ficar na dependência da cobrança. Bom funcionário é aquele que executa suas tarefas com critério e perfeição, independente de estar sendo vigiado pelos olhos do patrão.
Para que o funcionário possa desempenhar suas funções adequadamente é indispensável que sejam fornecidas todas as condições necessárias. Neste ponto, saúde, higiene, segurança e bem-estar são quesitos que devem ser preenchidos. A não observância desses aspectos pode comprometer os resultados finais. Não se trata de luxo e sim de condições mínimas de trabalho.
Agora, abordemos o assunto remuneração. Você, produtor rural, já parou pra pensar se esta remunerando adequadamente o seu funcionário? Este é um assunto muito delicado, que tem muitas minúcias e requer uma discussão mais ampla. Por isso, as orientações são àquelas básicas: 1 – pague o seu funcionário de acordo com aquilo que foi estabelecido no contrato de trabalho; 2 – respeite as leis trabalhistas e 3 – assine a carteira de trabalho dos seus funcionários.
Uma boa recomendação, que vem sendo adotada por muitos produtores rurais Brasil a fora, é o pagamento de comissão aos seus colaboradores. Adota-se um fixo (salário-base) e remunera-se cumulativamente por desempenho de cada um. A lógica é a seguinte: os melhores funcionários exercem melhor as suas funções (logo a propriedade ganha com isso); então nada mais justo do que repassar parte do excedente dos lucros àqueles que ajudaram nestas conquistas. A partir desse ponto de vista criou-se inclusive uma denominação para esse tipo de remuneração; é a participação nos lucros. Dessa forma, quanto mais a propriedade arrecadar com a eficiência dos seus funcionários, mais eles vão se beneficiar. Todo mundo ganha mais.
Essa é uma excelente maneira de fazer o funcionário vestir a camiseta da empresa. Tendo acesso aos lucros, ele está automaticamente comprometido. O sucesso da fazenda deixa de ser apenas o sucesso do patrão e passa a ser o sucesso e a melhor remuneração dele próprio. Noutras palavras, se a fazenda for mal ele deixa de ganhar dinheiro.
Um bom exemplo para ilustrar essa abordagem é o funcionário que cuida do rebanho de cria de uma propriedade que vende toda a sua bezerrada à desmama. Tecnicamente é recomendável que cada fazenda tenha um (ou mais) responsável pelos lotes de parição. Essa pessoa terá grande responsabilidade, pois é ele que vai acompanhar o nascimento e o crescimento inicial dos bezerros (…o insumo básico para a fábrica de bois). Supomos que nessa propriedade nascem anualmente 350 bezerros e que a taxa de mortalidade de bezerros até o desmame foi historicamente 14% até o ano de 2005 (o que representa um grande prejuízo).
Após capacitar um funcionário sobre o correto manejo dessa categoria animal (como recorrer os pastos, auxiliar nos partos sempre que necessário, cuidar do umbigo dos recém nascidos, verificar se mamaram o colostro, não interferir desnecessariamente nas relações vaca/bezerro, entre outros) a taxa de mortalidade foi reduzida para 10, 7 e 3%, respectivamente, nos anos de 2006, 2007 e 2008. Num comparativo com 2005, essa fazenda desmamou em 2008, 39 bezerros a mais (graças apenas a boa atuação do funcionário). Convertido nos atuais valores de mercado do bezerro desmamado em Rondônia (R$ 500,00/cab.) resulta em aproximadamente R$ 20.000,00 a mais, ou seja, a fazenda não estava ganhando esse valor. Só passou a ganhar devido à dedicação e zelo do funcionário. Neste sentido, não é justo a fazenda ganhar mais sem repassar uma pequena parcela desse montante ao grande responsável por isso tudo, o colaborador.
Em tempos difíceis, ajustes como esses são de extrema importância e podem fazer toda a diferença entre o lucro e o prejuízo. O investimento em recursos humanos tem retorno garantido. Pense nisso.
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Não só na pecuária, mas também trazendo para o lado da “agricultura”, digo que hoje em dia, é muito difícil de pequenos proprietários, ganharem mais dinheiro. Pois muitas vezes o preço do arroz esta em baixa, e na época de plantação, quando necessita-se de uma “adubação” para uma boa produção, o adubo está “lá em cima”. Ficando uma variabilidade entre os preços, prejudicando esses produtores.
Parabéns Roberto,
Importantíssima a abordagem. Gostei muito do exemplo final.
Abraço
João Inácio
Gostaria de parabenizar o M.Sc Roberto Andrade Grecellé, pelo exelente artigo.
E dizer que concordo plenamente com o que foi dito em um dos primeiros parágrafos “é lá que tudo acontece”.
Ja foi o tempo em que fazenda era apenas uma poupança, hj ela e bem mais que isso, além de poupança se tornou tambem um negócio lucrativo e com giro rápido de capital investido. Com isso a qualificação dos funcionarios se tornou ponto de equilibrio do sistema de produção , se os colaboradores não possuem qualificação para atuar o melhor possivel em sua função, a propriedade tambem não cumprirá, metas e não alcançará objetivos lucrativos para o proprietário.
Tudo se move muito rapido hoje em dia, e devemos estar atualizados, não só observando o que acontece na propriedade ou na região em que esta localizada, mas também observando criticamente o que acontece em regiões diferentes.
Ao invés de olhar apenas do outro lado da cerca, porque não observar criticamente o que acontece na “janela”.
Prezado Regis Murilo Vieira s. Rodrigues, fico agradecido pelas suas considerações.
Realmente acredito muito na importância do empregado rural. É ele quem cuida do patrimônio do produtor. Tenho muita facilidade de concluir que o despreparo, a desatenção ou até mesmo a falta de vontade e zelo por parte do nosso colaborador tem impacto negativo e “automático” no negócio pecuário.
Da mesma forma, concordo com a necessidade de uma visão do todo.
Bom trabalho.
Excelente artigo, pena que ainda grande parte de produtores de nosso estado ainda não enxergam dessa maneira.
Como por exemplo manter um gestor em sua propriedade.
Prezado Diérlei Domingos Dantos, obrigado pelas suas considerações. a questão levantada por você “conscientização do produtor rural” sempre foi um limitante do setor. cabe a nós, técnicos, encontrar a melhor forma de convencimento. não é um tarefa fácil, mas acredito que a únca maneira que existe para quebrar esses paradigmas é através da exemplificação com cases de sucesso. não desanime. sucesso profissional.
Prezado João Inácio Marques da Silva, muito obrigado pelas considerações. É nesse tipo de conceito que acredito estar o inicio de uma grande e necessária mudança no meio rual. trata-se de uma nova (mas há muito difundida) concepção.
Grande abraço.
apos aquerra de 45,os paises ricos adotou-se a gestão da qualidade , os 5 S, que nada mais é do que, descate,limpeza, higiene, organização, e manter a ordem, olha onde esta 45, ja sugeri a muitos politicos que estes fudamentos deveriam ser inseridos nas escolas cursos fundamentais, na preescola, so assim poderemos ter esta sangria cortada.a delegação de poderes é um problema cronico nos empresarios brasileiros, e como eu digo , aqueles que enchegam o lado escuro da lua ganham dinheiros, 95% perdem, por não praticar ou inserir a metodologia da gestao da qualidade, é por ai , agua mole em pedra dura, bate aré que fura.parabens.
Prezado Sr. Jose Eduardo da Silva, ciência, conhecimento e informação. Se o senhor me permitir, lhe sugiro seguir esse caminho. Não se afaste do que o senhor acredita e dos seus princípios profissionais. Persista. Bom trabalho e obrigado pelo seu depoimento.
Parabens Sr.Roberto Andrade Grecellé, pela matéria. acredito muito na valorização do ser humano de um modo geral, somente com valorização e respeito é que conseguiremos atingir os objetivos. Acredito que muita coisa esta mudando.
abraço