O mundo passa por rápidas transformações. Conceitos estão sendo revistos e verdades questionadas. A Pecuária de Corte também e, principalmente sua relação com o meio ambiente, notadamente a chamada "produção sustentável"!
O leitor do BeefPoint João Francisco S. Vaz, de Pelotas/RS, enviou um comentário ao artigo “A bovinocultura de corte brasileira na linha de tiro“. Abaixo leia a carta na íntegra.
“O mundo passa por rápidas transformações.
Aliás: “ultra-rápidas”!
Conceitos estão sendo revistos e verdades questionadas.
A Pecuária de Corte também!
E, principalmente sua relação com o meio ambiente, notadamente a chamada “produção sustentável”!
É natural que haja uma certa inquietação motivada por mudanças na legislação (reserva legal), aliadas às constantes exigências como rastreabilidade, bem estar animal e principalmente a “guerra dos mercados”, na qual a proteina vermelha sofre ataques constantes de seus concorrentes!
Sempre disse que nossos produtores (gaúchos), em sua maioria só se mobilizam para evitar “invasões de propriedades”, e que existe um trabalho muito grande a ser feito no sentido de promover a Pecuária de Corte como um todo!
A tributação a que são submetidas as indústrias da carne no país é absurda, levando à oligopolização rápida, onde apenas meia dúzia de grandes frigoríficos sobreviverão no Brasil.
Então, o que temos a fazer é realmente: “cuidar melhor de nosso negócio”!
Antes que seja tarde!”
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Conteúdo do artigo original:
A pecuária brasileira vive a ação de múltiplas frentes incógnitas dispostas a fomentar a desestruturação da produção. Seja desmotivando o consumo da carne bovina e/ou embargando os frigoríficos e os comerciantes, porém sempre com a alegação generalizada de enfoque ambiental.
A produção deve seguir os “Domínios Ecológicos Brasileiros” e não basear-se nos “Biomas do Brasil”, para que não ocorram surpresas onde quer que a bovinocultura se estabeleça de maneira legal, sem sofrer contestações de qualquer espécie, o que vem desqualificando a carne tanto para o consumo interno quanto prejudicando a exportação, como está acontecendo no momento.
Os biomas impostos se estendem erroneamente (como exemplo o da Mata Atlântica) e devem ser corrigidos, no tocante aos ecossistemas rurais tecnologicamente implantados. A pecuária bovina paranaense, em sua preponderância, está estabelecida no domínio ecológico de Florestas e Campos Meridionais, circunscritos por situações de campos naturais, mata de araucária, solo roxo, vermelho, amarelo, litólico, terra roxa estruturada e outros. Todos com capacidade produtiva apropriada ao desenvolvimento da agropecuária, e não naquele bioma Atlântico que abrange o Litoral até a Serra do Mar.
O mesmo deve estar acontecendo na chamada Amazônia Legal, ao serem esquecidos os milhões de hectares de campos e cerrados, no mal traçado “Biomas do Brasil”.
São mostradas estatísticas que não separam os animais exclusivos para a produção de leite dos animais de corte, como se todos tivessem igual aptidão, tornando a população bovina para carne, embora portentosa, maior do que realmente é. A simples separação do gado de corte na estatística oficial modificará substancialmente o índice de desfrute para o sistema preponderante de produção de carne com qualidade natural a pasto.
No passado foi preciso haver as “filas da carne”, para que a pecuária florescesse. Após os retrocessos havidos no passado, a pecuária teme que o mesmo ocorra no presente.
A desobediência civil não se constitui na única arma dos produtores rurais, mas também é arma a adoção de uma política de flexibilidade produtiva, cadenciando a oferta de bois em função de demanda e do retorno econômico.
Os preços anômalos, em plena entressafra, traduzem os óbices impostos por muitos – orquestrados por não sei quem – sem reconhecer a pujança tecnológica da bovinocultura de corte, impondo defeitos de toda ordem. Deixa transparecer que, em algum momento, a carne bovina apresentou problema de segurança alimentar, mesmo sabendo da qualidade superior dessa proteína em qualquer rincão brasileiro.
No preço final da carne descobriu-se que o maior vilão, pela ordem, é a alta tributação e a ponta final da comercialização.
Como o couro e outros subprodutos que davam sustentação aos abatedouros estão em crise, urgiu-se em socorrê-los para que não ocorresse o desabastecimento imposto pela quebra geral do comprador do boi pronto.
A intenção é manter o sistema produtivo combalido, sem forças para reagir, esperando que muitos desistam do negocio e desocupem o espaço, daí transcendem os aumentos das exigências nos índices de produtividade – mas ignoram que a intensificação produtiva usa de recursos não renováveis como o fósforo.
Com a diminuição tributária, a indústria sobrevive e lucra, descontando na compra do boi o valor correspondente ao couro o que se constitui em fator determinante para que o boi gordo não suba em plena entressafra.
O pecuarista, ao vender os animais no segundo quadrimestre de 2009, não recebe duas vezes pelo couro, sebo e outros subprodutos, já que houve contenção deliberada pela “colocação da botina”, achatando o preço da carne no varejo, com prejuízo ao pecuarista e reflexos negativos na oferta futura.
Diante disso, o prudente é não aumentar a oferta de bois para abate – em especial de gado confinado – para que possa haver alinhamento econômico evitando, sobretudo, que ocorra a falta do produto e o retorno das filas para compra de carne do passado.
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Me desculpe o Sr. João S. Vaz mas “a absurda tributação a que são submetidas as industrias de carne no Brasil” leva não a uma “oligopolização rápida” mas, sim, a um processo crescente de concentração monopolística no mercado de carne. Isto é, como ele mesmo sugere no seu texto, acaba ocorrendo uma concentração dos abates na mão de poucos frigoríficos.