Não podemos pensar apenas em aumento da produção nos esquecendo que os preços ofertados a nossa mercadoria, tem relação direta com o volume produzido versus a demanda. Outra triste constatação, é que a ação primeira dos invernadores, seja pressionar os preços pagos aos criadores, quando o correto seria agir primeiro sobre frigoríficos e varejo, estes últimos com margens de lucro absurdas. A maioria dos produtores demonstram não ter noção da necessidade de que todas as fases da produção sejam lucrativas, para termos uma pecuária sustentável a longo prazo.
O leitor do BeefPoint Julio M. Tatsch, de Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul, enviou um comentário ao artigo “José Luiz M. Costa Kessler: mais incentivo para a cria“. Abaixo leia a carta na íntegra.
“Caro amigo e colega José Luiz,
Entendo que como técnicos da produção temos o vício de origem de acreditar que aumentando a produção total, aumentaremos a nossa rentabilidade. Frequentemente nos esquecendo que os preços ofertados a nossa mercadoria, tem relação direta com o volume produzido versus a demanda.
Frigoríficos e varejo, tem apostado e acertado na maioria dos anos, de que sempre existirão produtores “dispostos” a vender abaixo do seu custo total de produção, seja por desconhecimento deste custo ou por necessidade.
Neste sentido, acho desaconselhável na maioria dos casos, nos utilizarmos de financiamentos, que resultarão em aumento do nosso custo unitário total de produção e acrescentarão outro efeito negativo, via aumento da oferta final, que se não for acompanhada do aumento da demanda, resultará na redução dos preços ofertados aos produtores.
Destaco que muitos setores da economia, fazem um acompanhamento atualizado dos volumes ofertados e da demanda, procurando defender suas margens de lucro. A pecuária de corte está a anos luz disto!
Outra triste constatação, é que a ação primeira dos invernadores ou terminadores, seja pressionar os preços pagos aos criadores, quando o correto seria agir primeiro sobre frigoríficos e varejo, estes últimos com margens de lucro absurdas. A maioria dos produtores demonstram não ter noção da necessidade de que todas as fases da produção sejam lucrativas, para termos uma pecuária sustentável a longo prazo.
Quanto ao RS, entendo que deveríamos buscar uma equalização ou equilíbrio nos tributos e benefícios fiscais das carnes que entram no estado, com as aqui produzidas, reduzindo a competição desleal e predatória. Onde certamente os maiores perdedores são os produtores.
Este passeio das carnes pelos vários estados do Brasil, onde tributos, crédito fiscais, destinos, conformidade dos cortes e valores constantes nas notas fiscais com a carga “real” somado a dificuldade e falta de estrutura fiscal para aferição, facilitam as fraudes. Explicando em parte os verdadeiros milagres de preços praticados nas gôndolas, quando comparados a distância do local de produção das carnes.
Por último, se este problema é antigo e de conhecimento de muitos, qual o motivo de não ter sido enfrentado por nossos representantes de classe? Lembro, os que vivem da produção necessitam de resultados, pois o efeito prático das “ações” que não ultrapassam as páginas dos jornais, é apenas dar mídia aos interessados nos votos dos pouco esclarecidos.
Saúdo o trabalho realizado por grupos de trabalho e associações da zona sul do RS, das quais o amigo José Luiz faz parte, buscando conscientizar os produtores e pela justa rentabilidade.
Grande abraço”