No final de outubro a BM&FBovespa promoveu, em São Paulo, o "Workshop sobre o Indicador de Preços de Boi Gordo Esalq-BVMF, com intuito de esclarecer como é feito o levantamento de preços do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e discutir assuntos relacionados com a negociação de contratos futuros de boi gordo na Bolsa.
No final de outubro a BM&FBovespa promoveu, em São Paulo, o “Workshop sobre o Indicador de Preços de Boi Gordo Esalq-BVMF, com intuito de esclarecer como é feito o levantamento de preços do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e discutir assuntos relacionados com a negociação de contratos futuros de boi gordo na Bolsa.
Durante a reunião foram apresentas as seguintes palestras: Principais aperfeiçoamentos do Indicador de Preços do Boi Gordo; A negociação de derivativos de boi gordo na BM&F; A influência de São Paulo na formação do preço do boi gordo e as de bases de preços regionais; e Metodologia e o processo de cálculo do indicador. Depois foi realizado um debate com todos os participantes, grandes pecuaristas, frigoríficos e operadores do mercado futuro.
O BeefPoint participou e transmitiu o evento pelo twitter. Veja o que foi discutido neste evento que reuniu especialistas no mercado de boi gordo.
Ivan Wedekin, da BM&FBovespa iniciou o encontro informando que BM&F está passando por um processo de certificação ISO 9000 e apresentando as principais mudanças do indicador de preços do boi gordo. Destacando, “não iremos mais divulgar escalas de abate e taxa de juros implícita. Queremos que o indicador represente apenas o preço à vista”.
As outras mudanças que serão feitas:
• inclusão de regras de arbitramento do Indicador em casos de excepcionalidade no número de informações e casos de forças maior;
• recadastramento anual e ampliação da base de colaboradores;
• aplicação de Índice de Efetividade dos Colaboradores a cada 60 dias, que pode determinar a sua exclusão do cadastro.
• incorporação da informação de preço do “boi contratual” a partir de 02/12/2010;
• não divulgação do preços regionais do estado de São Paulo a partir de 01/06/2010;
• divulgação da posição em aberto por tipo de participante em base semanal (e não diária)
Ele explicou que o plano de não se divulgar mais preços regionais de SP (em jun/10) busca reduzir o ruído no mercado de boi gordo.
Comentando sobre a importância do Estado de São Paulo como formador de preço Wedekin comentou que, “São Paulo tinha 8% do rebanho do Brasil (1997) e agora tem 6% (2007), assim o Estado perde participação no rebanho, mas ainda é o segundo maior estado do Brasil em número de plantas com SIF, 21. MT tem 29 plantas. Além disso SP exportava 60% da carne brasileira em 2000, em 2008 exportou 43%”.
Fabiana Perobelli, da BM&FBovespa apresentou dados mostrando variações de preços em SP e em outras praças. “SP influencia muito (o preço nos outros estados) e é pouco influenciado”. De acordo com os estudos apresentados, “entre Campo Grande, Dourados e Três Lagoas, o mais influenciado (como já era esperado) é Três Lagoas”.
Segundo Perobelli, em outros estados (GO e em especial MT), a influência de SP é menor. “Rondônia e Tocantins são os estados menos influenciados, mas ainda há influência. O professor Sérgio de Zen, do Cepea lembrou que “Tocantins é um provedor tradicional de carne para a região nordeste, o que não ocorre em Rondônia. Por isso o impacto maior de SP em RO”.
A conclusão dos estudos apresentados é que SP é líder em abate e exportações, além de ser o maior centro de consumo no Brasil. Por isso forma preço. Outros participantes questionaram que existem outros fatores que influenciam essa relevância na formação de preços, ou seja, o preços de SP é o mais “famoso”, o mais falado. “Será que esse é o motivo?”
Fabiana explica simulações em que a “praça” (o preço de referência) muda de SP para GO. Neste caso simulado, não há uma influência significativa de GO no MT, MS. Além disso ela mostrou as variações nas bases, de 2002 a 2005. “Os preços nos estados variam mais do que indicador. A volatilidade de 2009 não está sendo muito maior do que nos anos anteriores. Não há grandes surpresas.”
Sérgio de Zen, do Cepea apresentou a metodologia de cálculo do indicador. Segundo ele o mercado está mudando e essas mudanças estão sendo acompanhadas de perto pelo Cepea e pela BM&FBovespa para adequar o Indicador à nova realidade do mercado. “Em setembro/09, 15 plantas estavam abatendo durante todo o mês em SP. Em ago/09 foram 17. No início do indicador eram 73 frigofígos abatendo em SP. Em 99, eram 33. Diminuiu muito o número de plantas abatendo”, informou de Zen.
Ele explicou que ao calcular o indicador de preços do dia, se descarta valores informados com variação duas vezes maior que o desvio padrão. O descarte médio é de 30-40% dos dados coletados, no trabalho de formação do indicador, por vários motivos. “Para a equipe que levanta o indicador não interessa se vai subir ou baixar. Interessa se o indicador é confiável ou não” ressalta o professor da Esalq.
Ivan Wedekin lembra que não há diferença considerável no número de informações válidas ao longo dos meses. “É estável durante o ano”.
Um dos participantes pergunta porque não tiram o limite de 2 desvios padrão, pois há muito poucos frigoríficos. Geraldo Sant´Ana, do Cepea, explica que mercado o do boi é disciplinado, comparado com outros. “Os limites precisam existir e o atual é grande”.
Sobre as compras contratuais Sérgio de Zen comentou, “esse ano não teve boi a termo, foi o discurso geral. Na verdade, houve, e muito, mas não travado na bolsa”.
Após as apresentações os participantes discutiram as formas como os preços devem ser coletados e a maneira ideal para determinar a ponderação de peso de cada informante no momento do cálculo do indicador. Afinal da discussão os diretores da BM&F reforçaram que estão abertos a discussões e opiniões para adequar o Indicador à realidade do mercado.
Rogério Goulart, editor da Carta Pecuária postou o seguinte comentário no twitter, ao final do evento, “muita política e pouca novidade, para mim, foi o resultado final da conversa”.
Leonardo Alencar também emitiu sua opinião postando “a maior falha que vejo é não considerar o número de animais negociados por preço. Sem ponderação, a realidade pode ser distorcida”.
Goulart continuou a discussão e postou o seguinte comentário: “Concordo, o volume é crucial. Os dados já são anônimos, o volume deveria ser exigido – e checado, como o restante dos dados”.
Participe, comentando abaixo sobre o que é preciso mudar, visando o aprimoramento do indicador de preços do boi gordo.
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Independente do que pensam os gestores e definidores do regramento do índice do boi gordo, a avaliação de maior impacto e relevância é a do mercado, ou seja das instituições e pessoas que operam neste mercado ou que utilizam o índice como indexador de contratos.
No momento, sua opinião está dita em alto e bom som, com a redução a metade do número de contratos em aberto, hoje na faixa de 14 mil contratos. Lembrando que em passado recente foram mais de 60 mil contratos, evidenciando que o mercado está descontente com o atual regramento. Isto que nem mencionei o ridículo número de contratos em aberto do tradicional vencimento de maio de 2010.
Creio que aumentamos a credibilidade e o desenvolvimento de produtos, através do histórico de boa conduta, com o aumento da transparência e da adoção de evoluções nos procedimentos.
No sentido da transparência, os gestores caminham no sentido inverso, propondo excluir informações antes fornecidas. Ainda quanto a transparência, novamente nem é cogitado o aspecto de divulgarem as fontes, os preços informados, e os percentuais atribuídos para formação do índice, fato que permitiria aos integrantes do mercado (em particular os pecuaristas), poderem checar a veracidade dos preços informados. Pois é de conhecimento da maioria, que habitualmente os frigoríficos trabalham com dois preços, um para a mídia e órgãos de pesquisa e outro para fecharem negócios com os pecuaristas. A divulgação dos preços e fontes amenizaria este problema, pois alguns pecuaristas sempre saberiam os reais valores praticados e poderiam contestá-los junto a BM&F ou Cepea/Esalq.
Quanto a questão do volume negociado ser considerado junto com o respectivo preço, acho lógico e racional, todavia necessitando de um método operacional crível e transparente para sua implantação.
Outro aspecto prático quanto ao levantamento dos preços, com solução a ser construída, é o “congelamento” dos preços praticados em SP, promovido pelos grandes frigoríficos, mediante a compra “preferencial” de bovinos em outros estados, por determinados períodos, evitando a alta dos preços mesmo que momentânea, e onde os frigoríficos locais passam a representar de forma mais fidedigna os reais preços praticados em SP.
Finalizo lembrando que a arrogância e o medo de implantar melhorias reais, são os primeiros passos para a destruição de empresas e de índices, quanto a sua utilização pelo público.
Sugiro aos gestores que ouçam a mensagem dada pelo mercado, que no final das contas é quem paga as contas e seus salários. Estamos num mundo global, com uma infinidade de diferentes produtos, praças de operação e variedades de opções, somado a participantes bem informados e com um nível de conhecimento acima da média, desconsiderar isto é no mínimo imprudência ou ingenuidade.