Por Liliane Suguisawa1
O Brasil atualmente possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, e devido o tipo de sistema de crescimento de bovinos e a pequena participação da cadeia bovina brasileira no mercado internacional, a classificação de carcaças e o desenvolvimento de sistemas de determinação da qualidade da carne ainda são incipientes.
Animais com grau de sangue Bos indicus (maioria Nelore) e um inapreciável número de seus cruzamentos com animais com algum grau de sangue britânico e continental em regimes de pastagens extensivas perfazem 80% da população bovina.
A adoção de novas tecnologias e o emprego de metodologias mais eficientes em programa de Melhoramento Genético vem causando profundas mudanças nos procedimentos adotados pelos criadores, quanto ao manejo seletivo e reprodutivo dos seus rebanhos. A disponibilidade de informações mais precisas sobre o mérito genético de cada indivíduo candidato à seleção, aliadas às técnicas que permitem ampliar as taxas de multiplicação de genótipos de interesse, têm tornado as decisões dos criadores mais objetivas, principalmente no que se refere à escolha dos animais para reprodução. Estas metodologias permitem mudanças genéticas em um ritmo cada vez mais acelerado dentro da população.
Sabe-se que existe grande variação genética entre indivíduos dentro de uma raça, o que possibilita a realização de melhoramento genético através de seleção. Considerando que a base do rebanho brasileiro possui grande variabilidade genética, e que apenas uma minoria sofre qualquer tipo de seleção, onde também testes de progênies demonstram-se dispendiosos e levam muito tempo para serem realizados, qualquer acréscimo ocasionado pela detecção de genes que proporcionem melhorias na produção e qualidade de carne atribuídos à pecuária brasileira, proporcionariam retorno econômico incalculáveis. Com isto, dados de mapeamento genético podem ser utilizados tanto para determinar a amplitude da variação genética em uma dada população, indicando quão diferentes são os indivíduos avaliados, como para disponibilizar ferramentas decisivas para o progresso genético das raças.
O aumento na eficiência de produção dos sistemas existentes poderá ser alcançado através da utilização de reprodutores selecionados com características desejadas. Assim, o conhecimento dos principais genes determinantes do crescimento, composição de carcaça e qualidade de carne, aparece como alternativa interessante e promissora para o melhoramento genético dos rebanhos comercias. Como estas informações ainda são muito pouco conhecidas e extrapoladas para a raça Nelore, estas poderão ser utilizadas para a seleção de reprodutores em programas de seleção de bovinos, visando a produção de animais com maiores rendimentos de cortes comerciais para atender à demanda crescente da necessidade do melhoramento do rebanho brasileiro.
Contudo, a utilização de testes genéticos baseados no conhecimento do potencial genético dos indivíduos em idades ainda muito jovens, se mostra cada vez mais promissora em programas de seleção de bovinos de corte. Estes testes baseiam-se exclusivamente em decifrar as informações contidas no DNA de cada animal, e por demonstrar características importantes como a qualidade de carne, eficiência reprodutiva, resistência à carrapatos, mosca-do-chifre e vermes nos bovinos, mostram-se muito eficientes para utilização em rebanhos comerciais. Para se obter informações sobre o potencial genético de cada indivíduo, basta coletar uma amostra de sangue ou pelo, e enviá-la à técnicos especializados em Biologia Molecular que farão uso da tecnologia dos marcadores moleculares.
Os marcadores moleculares são por definição todo e qualquer fenótipo molecular oriundo de um gene expresso. Na área de produção animal, estes compreendem os genes conhecidos e responsáveis, parcialmente ou em sua totalidade, por uma característica de interesse econômico importante. Atualmente, existe uma enorme gama de marcadores moleculares que podem nos fornecer informações sobre o potencial de desempenho, crescimento, precocidade, qualidade de carne, e até mesmo doenças congênitas importantes dos bovinos. A Austrália, maior exportador de carne bovina do mundo, depois de muitos estudos comprobatórios, adquiriu a patente de 2 marcadores moleculares que fornecem características de maciez e marmorização. Desta maneira, realizando testes genéticos específicos (GENENOTE 4/3/2/1- GENESTAR), pode-se identificar qual o potencial dos animais em produzir carne macia ou marmorizada no abate, ainda quando estes são muito jovens. Este tipo de informação é de grande valia para centrais de reprodutores, pois selecionando animais com potencial de produção de carne macia ou marmorizada e utilizando os animais testados positivamente como reprodutores, esta característica passará com maior facilidade para sua progênie, incidindo em maior freqüência de carne de qualidade nos rebanhos.
Da mesma maneira que a Austrália utiliza estes testes genéticos para identificação de animais com potencial para produção de carne de qualidade, há uma infinita aplicação na identificação de mais marcadores moleculares para características de crescimento, precocidade, rendimentos de cortes cárneos, fertilidade, resistência à parasitas, etc. Lembrando que a base do nosso rebanho é constituída basicamente de sangue zebuíno, na sua grande maioria proveniente da raça Nelore, o Brasil se mostra como um promissor campo de estudos para identificação dos marcadores moleculares mais importantes para o nosso sistema de produção. A utilização destes marcadores moleculares serão muito importantes para complementar os modelos de seleção de bovinos já existentes, garantindo uma maior acurácia da seleção, que invariavelmente incorrerá em maior retorno econômico da atividade após a utilização dos reprodutores testados a campo.
Referências Bibliográficas
GeneNote4 – GeneStar Tenderness – Genetic Solutions Ltd – Austrália http://www.geneticsolutions.com.au
Barense, W.; Bunch, R,; Thomas, M.; Armitage, S.; Baud, S.; Donaldson, N. The TG5 DNA Marker Test for marbling capacity in Australian feeflot Cattle. CSIRO Molecular Genetics Centre Level 3 – Austrália
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1Liliane Suguisawa é doutoranda em Nutrição e Produção Animal – UNESP/Botucatu
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Prezada Liliane
Meus parabéns pelo excelente texto, você sabiamente constituiu em um texto de 2003 uma realidade que estou vivendo hoje, desde o segundo semestre de 2007 até agora já existe uma ferramenta de marcadores moleculares comercial no Brasil, o nome dela é Igenity e a detentora é a Merial Saúde Animal, existem vários painéis para as diferentes espécies Taurinos e Zebuínos de leite e corte, quanto aos Zebuínos, o interessante é que todo o processo de validação foram baseados em dos rebanhos apenas do Brasil.