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Perspectivas para a pecuária nacional quanto ao impacto na emissão de gases de efeito estufa

O Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Segundo Urquiaga, iniciou sua palestra no Congresso Internacional da Carne, realizado em Campo Grande/MS, afirmando que é preciso ajudar a desmistificar algumas questões sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE). "Pela importância econômica e social da bovinocultura para a sociedade brasileira, é fundamental evitar que o foco nas emissões GEE ofusque a vital contribuição dos ruminantes em transformar "palha" em carne e leite".

O Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Segundo Urquiaga, iniciou sua palestra no Congresso Internacional da Carne, realizado em Campo Grande/MS, afirmando que é preciso ajudar a desmistificar algumas questões sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Segundo comentou que o problema do aquecimento global começa com o início da civilização. Ele lembrou que nos primórdios a abundância de alimentos naturais distribuídos ao acaso favoreceu a vida do homem caçador e coletor, que ele chamou de “O Homem Nômade”. Quando deixamos essa condição, passando a viver em “cidades”, e através da domesticação de plantas e animais, criando a agropecuária, começamos a gerar novos impactos no meio ambiente.

“Com a Revolução Verde, nos anos 60, terras improdutivas começaram a produzir grãos e carne após a adoção de tecnologias – melhoramento genético, fertilizantes e insumos”, lembrou Urquiaga. “Como fomos nós que desenvolvemos essa tecnologia e aprendemos a produzir, também temos que conhecer os problemas que elas geram e saber o que temos que fazer para resolvê-los”.

O pesquisador apresentou um gráfico que mostra a evolução da matriz energética no mundo. Esta matriz está mudando e devido à escassez de algumas fontes ou pressões para reduzir os impactos sobre o meio ambiente ela deve mudar ainda mais nos próximos anos, com aumento da importância das fontes de energia renováveis.

Após comentar dados do relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), publicado em 2007, que avalia que a maior parte (56,6%) das emissões de gases de efeito estufa vêm da queima de combustíveis fósseis, o professor Urquiaga apresentou um gráfico (abaixo) que mostra as emissões de gases de efeito estufa no Brasil.

Ele comentou que já conseguimos diminuir em 70% o desmatamento e assim estamos contribuindo para a preservação do meio ambiente e a redução das mudanças climáticas. “Agora precisamos analisar o perfil da produção brasileira, pensando no aumento da produtividade”, completou.

Chamando a atenção para as fotos acima,- a primeira de um pasto degradado com baixos índices produtivos e a segunda de um sistema de produção com maior eficiência – o palestrante falou sobre os impactos da bovinocultura na emissão de gases de efeito estufa. “Precisamos recuperar as pastagens degradadas e produzir mais na mesma área”.

Apresentando a metodologia desenvolvida pela Embrapa para medir as emissões de GEE pelos animais (fezes e urina) ele afirmou que os pesquisadores brasileiros têm encontrado índices bem abaixo dos 2% considerados pelo IPCC em suas avaliações. “Os dados de emissões de N são insignificantes”.

Urquiaga informou que os dados preliminares indicam que o fator de emissão de N da urina como N2O está entre 1,2 a 1,4 % no verão e é mínimo no inverno. Já o N das fezes é também muito baixo (0,1 a 0,2 %). “Em condições de pastagens extensivas raramente mais de 60% do N se encontra excretado na urina, logo o fator de emissão ponderada ficaria ao redor de 0,5 a 0,7%, bem abaixo do valor estimado pelo IPCC”.

“Nossos solos são diferentes dos existentes no hemisfério norte e isso ajuda no menor volume de emissões de GEE”, ressaltou. As menores emissões em Latossolos estariam relacionadas a alta drenagem e as condições favoráveis de evapotranspiração em regiões tropicais, por isso os pesquisadores brasileiros precisam intensificar seus estudos e apresentar os dados reais da pecuária brasileira.

Assim dados de pesquisas realizadas pela Embrapa apontam que as emissões da pecuária de corte são menores do que o fator de emissão entérica de 56 kg CH4 animal ano -1, proposto pelo IPCC.

Ainda sobre os impactos da bovinocultura nas emissões de GEE, Urquiaga lembrou que os bovinos são adaptados para se alimentar de forragem, transformando esse material em proteína de alta qualidade.

Falando um pouco sobre a fisiologia dos ruminantes, o professor explicou que o metano (CH4) é produzido naturalmente na fermentação entérica dos ruminantes e sua produção é fundamental para remoção de H+ do rúmen, evitando intoxicação do animal.

Porém ele frisou que o consumo pelos bovinos de forragem de qualidade, com alta digestibilidade, promove menor emissão de metano por unidade de produto, conforme representado no gráfico abaixo.

O professor afirmou que existem maneiras para reduzir a produção de metano e algumas alternativas seriam:
• usar estratégias de nutrição diferenciadas, mas que em alguns casos não tem eficiência comprovada: Ionóforos, Glicerol, Taninos, Saponinas, Óleos, Gorduras, Vacinas, Anticorpos Policlonais, Malato e Fumarato, óleos essenciais, especiarias, etc;
• trabalhar com pastagens bem manejadas e consorciadas;
• fixação biológica de N2 em gramíneas;
• melhoramento genético animal e das forrageiras;
• aumentar a eficiência reprodutiva.

Urquiaga ainda apresentou dados que evidenciam que a taxa de emissão de metano (gCH4/kg GPV) varia com o ganho de peso vivo e isso está relacionado com a qualidade da dieta e eficiência de engorda.

Segundo o palestrante, o aumento da carga animal, do rendimento de carcaça e da produção por área, promovem o aumento da produtividade e isso ajuda a melhorar o balanço das emissões de GEE. “Desta forma a evolução da pecuária nacional já contribui para a redução da emissão de gases de efeito estufa”, avaliou.

“Produzindo mais por animal em um ciclo mais curto, conseguiremos produzir mais com menos animais e assim se reduz os impactos nas mudanças climáticas, através de um menor nível de emissões”.

Urquiaga acredita que para alcançar as metas na redução das emissões de GEE, a pecuária deve utilizar estratégias combinadas e citou a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta como um sistema interessante nesse sentido. “Outros sistemas também podem ser pensados, como consórcios de Braquiárias com leguminosas, que fixam mais N do que sistemas onde se usa apenas a adubação”.

Urquiaga frisou que academia e produtores precisam interagir para aplicar as tecnologias disponíveis e produzir alimentos para o mundo e finalizou sua apresentação ressaltando que “pela importância econômica e social da bovinocultura para a sociedade brasileira, é fundamental evitar que o foco nas emissões GEE ofusque a vital contribuição dos ruminantes em transformar “palha” em carne e leite”.

0 Comments

  1. celso de almeida gaudencio disse:

    Infelizmente o Professor não aborda que para proteger os continentes as gramíneas são essências, por estar em processo contínuo de crescimento e através da fotossíntese diminuindo as emissões de gás carbônico através do acumulo de material orgânico nos tecidos e nos grãos, ao contrário das espécies florestais, ao atingir seu clímax vegetativo, cessam de contribuir nesse sentido.

    Comenta aspectos de emissões gás metano dos animais e esquece-se da contribuição do agente fotossintético renovável forragem, colocando de forma inadmissível e incompleta. Abordar o equilíbrio do sistema boi- gramínea de forma extensiva é fundamental. Agora aumentar a produtividade por área continuadamente, parece que a equação não apresenta solução. Esquecer das gramíneas é o mesmo esquecer das florestas e centrar somente atenção ao boi e a fauna nos respectivos domínios ecológicos.