Produtos para consumo varejista e porções controladas são possibilidades interessantes para o Brasil
A ANUGA 2003, feira internacional de alimentos realizada em Colônia, Alemanha, nesta semana, indicou tendências vantajosas para o Brasil, de acordo com Miguel Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, que foi ao evento em viagem de estudo de mercado. Segundo ele, os importadores estão satisfeitos com o produto brasileiro. A rastreabilidade ofertada pelo país é um exemplo, bem como sua profissionalização e a identidade única em todos os estandes, respeitando a imagem de cada frigorifico.
Uma das tendências verificadas por Cavalcanti refere-se a produtos que podem ser comercializados pelo varejo, sem preparação extra. “Carnes congeladas, embaladas a vácuo, dentro de caixas de papelão, foram apresentadas por vários expositores, que sinalizaram a oferta em embalagens com porções para uma ou duas pessoas, o tamanho da familia moderna européia”, esclareceu.
De acordo com ele, outro ponto interessante é a utilização de carne em porções controladas, oferecendo facilidades ao varejo, à medida que as embalagens têm o mesmo peso. A tendência é oferecer carne para restaurantes já cortadas, o que demanda padrões diferentes para cada estabelecimento. “Isso apresenta várias vantagens para o Brasil, pois possibilita vender a carne como “brasileira”, identificada; agregar mais valor e receber mais por isso; criar novos canais de distribuição e aumentar as possibilidades de comercialização”, detalhou o coordenador do BeefPoint.
Um problema referente à carne brasileira, conforme analisou Cavalcanti, é o baixo preço. “A carne brasileira tem uma imagem bastante positiva, principalmente por sermos o principal fornecedor à Europa, mas nossos preços estão sempre abaixo dos de outros países”, reclamou, comparando o valor da Striploin, que gira em torno de US$ 7 o quilo no Brasil, mas chega a US$ 8 a 9 na Argentina e, nos Estados Unidos, fica entre US$ 7 e 9 por libra. Um fato positivo, por outro lado, são as relações de longo prazo entre as maiores empresas européias e o Brasil.
De acordo com Cavalcanti, o país terá certo período para aumentar sua participação no mercado internacional. “A Austrália está saindo de uma seca muito severa. A expectativa é que leve sete a oito anos para recuperar seu rebanho, e os abates tendem a ser menores devido à pouca disponibilidade de animais e à retenção de novilhas para aumentarem o rebanho. É um período muito bom para o Brasil entrar em mais mercados e, depois, firmar-se como líder. Um exemplo de destino são as Filipinas, mercado tradicional da Austrália, que tem cada vez maior presença da carne brasileira”, encorajou.
Seus relatos revelaram notável divulgação da carne inserida em uma alimentação balanceada, o que o SIC tem procurado desenvolver. Em sua opinião, ao que parece, todo mundo acredita que essa é a melhor estratégia para divulgar a carne bovina. A Argentina já tem seu “Servico de Informação da Carne” funcionando e distribuiu fôlderes aos participantes da feira. Ele constatou que vários restaurantes divulgam que a carne servida é argentina, o que não ocorre com o produto do Brasil. A rede de restaurantes Maredo, por exemplo, serve carne brasileira do frigorifico Mercosul, mas ninguém divulga isso dentro do restaurante, mesmo a carne tendo alta qualidade e sendo muito macia.
Outros países
Segundo Cavalcanti, a Austrália esteve presente na feira com vários estandes. “O MLA (Meat and Livestock Australia) está muito interessado em obter mais informações do Brasil. Considera o mercado europeu muito interessante, mas somente consegue vender dentro da cota. Os impostos dentro do Full Levy tornam sua carne inviável devido ao alto preço, o que não acontece com o Brasil, que, no ano passado, exportou mais de 150 mil toneladas dessa maneira”, avaliou.
Outros dados revelam que os Estados Unidos estão muito interessados em vender carne sem hormônios na Europa, mesmo tendo custos de produção mais elevados, buscando, porém, mercados, consumidores e restaurantes mais exigentes. “Para valer a pena, têm de vender sua carne para esses nichos por mais do que o dobro da carne brasileira. Esse mercado é potencialmente interessante para o Brasil. Em 2002, os EUA exportaram 1,2 milhão de toneladas equivalente carcaça – US$ 3,5 bilhões -, volume parecido com o do Brasil, mas a um custo muito supeiror”, comparou.
Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint