Rabobank espera que as ofertas globais de proteínas diminuam em 2012, à medida que a produção ficará atrás do crescimento no Produto Interno Bruto (PIB). A não ser que ocorra algum importante contratempo econômico, o Rabobank acredita que isso levará a outro ano de preços recordes na maioria dos mercados para a maioria das proteínas em todo o mundo.
A produção de carnes vermelhas e brancas nos Estados Unidos deverá apresentar um forte declínio em 2012. A tendência estrutural de baixa de longo prazo no rebanho bovino está sendo exacerbada pela seca extrema nas regiões sul e sudoeste. A indústria de carne de frango está sofrendo provavelmente sua pior queda já registrada em lucratividade, o que está levando a cortes na produção. A lucratividade na indústria de carne suína tem se mantido estável até agora, à medida que os maiores preços dos suínos têm compensado substancialmente um aumento dramático nos custos dos alimentos animais, mas existem alguns sinais precoces de um maior abate de fêmeas, à medida que a indústria enfrenta uma das ofertas mais escassas de milho da história.
O Rabobank acredita que a produção de carnes vermelhas e brancas dos Estados Unidos poderá declinar quase 5% com relação ao ano anterior no meio de 2012. No geral, o Rabobank espera que as ofertas globais de proteínas diminuam em 2012, à medida que a produção ficará atrás do crescimento no Produto Interno Bruto (PIB). A não ser que ocorra algum importante contratempo econômico, o Rabobank acredita que isso levará a outro ano de preços recordes na maioria dos mercados para a maioria das proteínas em todo o mundo.
Introdução
O dramático declínio na produção de proteínas nos Estados Unidos provavelmente terá um impacto significante não somente nos preços, mas também, na disponibilidade, o que poderá criar preocupações para os compradores, como operadores de serviços alimentícios e varejistas. Como os Estados Unidos são um grande e significante exportador de proteínas de carne, o declínio também afetará os mercados mundiais, bem como a demanda por alimentos animais, notavelmente milho.
Esse relatório avalia o impacto nacional e as perspectivas globais para cada um dos três principais setores de proteínas dos Estados Unidos. Deixando de lado o impacto da seca no rebanho bovino dos Estados Unidos no momento, o grande cenário é que a produção global de carnes vermelhas e brancas está no meio de um processo de vários anos de ajustes aos maiores e mais voláteis custos dos alimentos animais. O Rabobank acredita que os preços para os principais insumos da produção de proteína, como milho e soja, vão levar a maiores custos de produção, que foi estimado em cerca de US$5 por bushel e US$12 por bushel, respectivamente, somando um fator aos rendimentos de capital.
Apesar da grande recuperação na produção agrícola na região do Mar Negro em 2011, ainda não existe margem para erro para as ofertas globais de produtos agrícolas, devido principalmente aos baixos rendimentos nos Estados Unidos. Os custos de produção agrícola têm se movido estruturalmente para cima e os custos para produção proteína da carne estão se adaptando, em parte através de ajustes na oferta para obter compensação dos preços.
Tabela 1: Crescimento da produção de proteína animal dos EUA com relação ao ano anterior, 2011-2012 (previsão) – porcentagem
Previsão para o mercado de carne bovina dos EUA: liquidação do rebanho bovino
O Estado do Texas e a região ao seu redor estão sofrendo com a pior seca da história. Essa região possui cerca de 25% de todos os bovinos de corte dos Estados Unidos e, recentemente, foi responsável por aproximadamente 50% dos bovinos de corte entrando no mercado, significando uma liquidação significativa do rebanho.
O número de bovinos confinados em julho aumentou 22% em relação ao ano anterior e está continuando em um ritmo rápido em setembro. Embora isso claramente indique que as ofertas de carne bovina dos Estados Unidos serão abundantes quando esses animais chegarem ao mercado no final de 2011 e começo de 2012, a liquidação do rebanho de cria nesse nível terá um impacto de longo prazo e o Rabobank acredita que causará um declínio potencialmente dramático na produção de carne bovina até o meio de 2012.
O Rabobank estimou que, até o final de 2012, a produção de carne bovina dos Estados Unidos estará a uma taxa 7% menor do que os níveis de 2011. A expectativa é de que o consumo per capita de carne bovina continuará seu declínio de vários anos, mas que esse não cairá tão rápido quanto a produção na segunda metade de 2012 (considerando as taxas de câmbio próximas às atuais). Mesmo se o dólar continuar caindo, a queda na produção pode resultar nos Estados Unidos se tornando um importador líquido novamente por um tempo.
Embora as ofertas abundantes no começo de 2012 devam pesar nos preços, a forte queda na primavera de 2012 deverá levar a outro ano de preços recordes para bovinos e para a carne bovina nos Estados Unidos. O Rabobank estimou que os preços dos novilhos gordos em 2011 ficarão em média em US$ 113/100 libras (cerca de US$ 249/100 quilos), comparado com US$ 96/100 libras (US$ 212/100 quilos) em 2010, o que mostra um aumento de 18%. Além desse forte aumento e apesar do aumento na produção no começo do ano, o Rabobank acredita que os preços dos novilhos gordos aumentarão mais e ficarão em média em US$ 116/100 libras (US$ 256/100 quilos) em 2012. Alguns impactos estão destacados abaixo:
Esses desenvolvimentos ocorrerão com todas as compras de carne bovina e também terão conseqüências em proteínas como carne suína e de aves. Parte disso já está sendo refletida nos preços futuros, mas a disponibilidade total pode se tornar um problema.
Considerando a crença do Rabobank de que o consumo doméstico não cairá tanto quanto a produção, mas continuará sua tendência de declínio de longo prazo, o banco espera que a questão da disponibilidade será especialmente pronunciada para os importadores de carne bovina dos Estados Unidos. Contínuos declínios no dólar dos Estados Unidos poderão tornar a importações pelos Estados Unidos mais caras, adicionando potenciais desafios futuros às ofertas domésticas.
Os frigoríficos de carne bovina dos Estados Unidos enfrentarão desafios para administrar a capacidade de utilização de forma a cobrir os custos fixos com a menor produção, mas a indústria vem fazendo um bom trabalho em administrar para margens ao invés de participação de mercado nos últimos anos. As plantas do Texas e de Arizona terão os maiores desafios para manter a capacidade de utilização. A seca acelerará a necessidade para mais capacidade na indústria frigorífica e causará mais problemas para o setor de engorda de gado, que têm ainda mais capacidade em excesso. O Rabobank acredita que a capacidade em excesso é de cerca de 10% na indústria frigorífica e de cerca de 20% no setor de engorda de gado.
O Rabobank acredita que a disponibilidade de carne bovina para exportação dos Estados Unidos pode cair em níveis de dois dígitos na segunda metade de 2012, o que poderá ser uma preocupação para os importadores, mas pode criar oportunidades para os exportadores do Brasil e da Austrália, ambos em fase de reconstrução do rebanho e que deverão aumentar a produção em 2012.
A recuperação da seca será um esforço para a indústria de carne bovina dos Estados Unidos. Considerando o longo ciclo de produção de bovinos, bem como uma taxa relativamente alta de conversão alimentar, a carne bovina é o setor de proteínas menos capaz de lidar com preços estruturalmente maiores e mais voláteis do milho.
Os produtores estão envelhecendo, com o rendimento e o estilo de vida oferecidos pela indústria se tornando menos atrativos. Usar a terra que era usada como pastagem para gado de corte para caça ou outros usos recreativos se tornou mais atrativo. Infelizmente, alguns meteorologistas acreditam que uma seca dessa magnitude pode ser auto-reforçada e durar vários anos. O Rabobank não previu reconstrução do rebanho para curto ou médio prazo.
Impacto na demanda de milho
A menor produção de carne bovina, suína e de frango dos Estados Unidos claramente terá um impacto na demanda por milho. Com o etanol representando 40% do uso da colheita de milho de 2011, o impacto será menor do que no passado, mas ainda assim significante. O Rabobank estimou que a demanda por milho declinará mais de 50 milhões de bushels no terceiro trimestre e 100 milhões de bushels no quarto trimestre de 2012 comparado com 2011.
Os participantes precisarão levar em consideração esse componente de baixa nas dinâmicas de mercado. Se o Rabobank também incluísse algum impacto no segundo trimestre, o total seria de 1,5% da produção atual prevista pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Embora isso não pareça muito, esses 175 milhões de bushels é uma quantidade significante no contexto da atual estimativa do USDA de estoques finais de milho para o ano safra de 2011/12 de somente 672 milhões de bushels e a razão decorrente disso de estoques: uso de 5,3% – o segundo menor nível da história.
Três observações conclusivas
Primeiramente, o consumo per capita de carnes dos Estados Unidos parece ter atingido um pico. Isso devido a uma combinação de fatores, que podem incluir um envelhecimento da população, aumento da preferência por culinárias étnicas, onde a carne não é o item central do prato e algum interesse maior em dietas vegetarianas entre os consumidores mais jovens. Isso provavelmente inclui algum impacto da economia em recessão, especialmente para o consumo de alimentos fora de casa.
Dito isso, o consumo não se equipara à demanda, como evidenciado pelo fato de que os consumidores mostraram disposição em pagar preços maiores, ainda que para quantidades menores. Uma importante conclusão nesse ponto, entretanto, é que a indústria de carnes, particularmente a de frango, não deve mais contar com a maior demanda para aumentar a saída de produtos em situações de excesso de produção.
Em segundo lugar, uma importante diferença entre os mercados de hoje e os do passado é a maior demanda das economias em desenvolvimento. A demanda por proteína tende a aumentar mais rápido quando o PIB de consumo per capita está entre US$3.000 e US$5.000 por ano. Países com grandes populações, como China, Índia e Indonésia, estão no ponto ideal, o que suporta a demanda global por proteínas quando as economias desenvolvidas estão fracas.
Esse não foi o caso durante a crise financeira da Ásia, quando houve destruição da demanda. Então, enquanto o crescimento da economia é mantido no mundo em desenvolvimento, o Rabobank acredita que a demanda por proteínas permanecerá forte. O banco reconhece que esse crescimento não é uma certeza, à medida que alguns importantes mercados em desenvolvimento estão sofrendo com a inflação e existem maiores taxas de juros prejudicando isso, com a Índia sendo esse caso no momento em que esse relatório foi preparado.
Tabela 2: Taxas de crescimento econômico, regiões selecionadas, 2010 vs. 2011
Terceiro e finalmente, com o maior PIB no mundo em desenvolvimento, a demanda por proteínas da carne está aumentando globalmente. Esse é um importante direcionador dos maiores custos dos alimentos animais, que, por sua vez, aumentam os custos da produção de proteína animal. A produção global de carnes vermelhas e de aves continua significantemente atrás do crescimento do PIB. Isso é, obviamente, um fator importante por trás dos maiores preços.
De fato, o Rabobank estimou que, em 2012, a produção mundial de carnes vermelhas e de aves desacelerará de forma significante com relação ao crescimento estimado pelo USDA de 1,5% em 2011, para 0,6% em 2012. Isso é somente cerca de metade do ritmo do crescimento populacional, implicando em escassas ofertas e altos preços.
Fonte: relatório “Where´s the Beef?” (Food & Agribusiness Research and Advisory, Rabobank International – Setembro/11), traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint.
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Uma reportagem como essa,nos da um alento bastante grande a respeito das projeções futuras a respeito de produção e demanda de consumo das proteínas vermelhas.Agora vem o grande problema brasileiro, será que estamos preparados para um crescimento na produção? Será que as condições sanitárias de nossos rebanhos atenderão as exigências internacionais?Será que nosso parque industrial está em condições de atender as exigências Higiênico-sanitárias . Porque senão vamos ficar vendo a caravana passar numa boa!!!