As exportações não são a solução para recompor a economia do país, dizem alguns especialistas; menos ainda quando se trata de produtos básicos, quase sem valor agregado, e de baixo preço; os chamados tradicionais; em oposição aos “não tradicionais”, ou seja, modernos.
No entanto, os principais produtos de exportação do Uruguai são todos de origem agropecuária: além das “tradicionais” carne e lã, estão os couros, o arroz, os lácteos, os grãos (soja e girassol), os citros, e outros produtos menores (em exportações) que também cresceram, como mel, frutas e algumas hortaliças.
De qualquer forma, nesse mar de más notícias, o setor de carnes é bastante animador, com boas perspectivas pela frente. Até agora, neste ano, as exportações do Uruguai já estão em cerca de US$ 2 bilhões, superando o total exportado em 2002. Deste valor, a 1>sup>º de novembro, o setor de carnes em seu conjunto era responsável por US$ 353 milhões, e somente a carne bovina, por US$ 300 milhões.
Passado e futuro
O Uruguai passou por um período de mais de uma década de déficit na balança comercial, fruto do atraso cambiário. Agora, no entanto, o cenário mudou: os setores mais promissores da economia, os verdadeiramente competitivos, começam a mostrar seu potencial.
A partir da recuperação do status sanitário, a cadeia da carne do Uruguai, que estava bastante prejudicada, rapidamente, tem-se recuperado e se preparado para assumir um grande papel, a partir do próximo ano. Nesta etapa, aproveita a melhora dos preços, que significou o retorno ao mercado do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade Agreement – NAFTA), assim como os que tem recebido em destinos não tão volumosos, mas que apresentam os mais altos valores, como é o caso da União Européia (UE).
Salto alto
Existem vários aspectos relacionados à forte recuperação do rendimento no setor: em parte, devido ao aumento dos volumes exportados, que cresceram 56% no segundo semestre, com relação ao mesmo período do ano anterior (cerca de 40 mil toneladas) e, também, devido à melhora dos preços, que subiram 31% em relação aos de 2002, e 25% frente aos do primeiro semestre deste ano.
É importante ressaltar que os preços continuaram subindo nos últimos meses; e que os valores apresentados, referentes ao segundo semestre, escondem a tendência de aumento ocorrida (e que continua a acontecer) neste período; enquanto o preço médio deste segundo semestre é US$ 1.274 por tonelada de carcaça, em outubro, chegou a US$ 1410. Também se pode observar o grande aumento registrado quando se compara outubro deste ano ao mesmo mês do ano anterior.
EUA e NAFTA
Apesar de todos os mercados terem apresentado aumento dos preços, o principal responsável por esse crescimento é o mercado dos EUA, que fez compras, em menos de cinco meses, de 61,5 mil toneladas carcaça, o que equivale a 34,2 mil toneladas de carne bovina, por cerca de US$ 70 milhões.
O Uruguai tem uma cota de 20 mil toneladas de carne bovina com os EUA, ainda não completada, o que indica que cerca da metade das vendas foi feita fora da cota, ou seja, pagando as tarifas de entrada de 26,4%. O preço médio das compras dos EUA, até agora, é US$ 1.134 a tonelada carcaça, mas, em outubro, foi US$ 1.270.
Em conjunto, o NAFTA, incluindo Canadá e Porto Rico, acumula, neste ano, compras de 126,5 mil toneladas carcaça, por um valor de US$ 135,3 milhões. Em outubro, os três países compraram 68% do volume, pagando 63% do valor total. Os embarques ao Norte seguem a todo vapor, e os exportadores informam que há problemas para conseguir contêineres refrigerados suficientes.
No próximo ano, o Uruguai poderá operar no mercado mexicano, o que melhoraria os preços de alguns cortes, de forma que não haveria motivo para vender aos EUA pagando impostos. A outra alternativa interessante é a amplificação da cota dos EUA.
Má notícia: o consumo caiu
Uma notícia negativa, que deve ser levada em consideração, é que a produção de carne no Uruguai ainda não aumentou substancialmente: cresceu somente 4% em cabeças, basicamente, devido ao maior número de vacas abatidas (66 mil vacas a mais – 13% de aumento -), já que foram sacrificados, até o momento, 12 mil novilhos (1,5%) a menos que no mesmo período de 2002. A explicação do aumento do volume exportado sem crescimento da produção está na queda violenta do consumo interno, o que libera quantidade equivalente de carne destinada à exportação. Com uma análise mais profunda, pode-se estimar que a baixa do consumo deverá ficar na ordem de 37 mil toneladas, até agora, neste ano, comparado com o de 2002, quando também foi baixo.
Com o aumento previsto da produção e dos abates, o consumo tenderá a recuperar-se em parte, mas o gasto popular está associado à situação econômica geral, no que diz respeito a empregos e remuneração, que, recentemente, apresentaram tendência de baixa.
Fonte: El País, adaptado por Equipe BeefPoint