Sem dúvida, estes resultados não vão se repetir em 2009, mas também não irão baixar a patamares muito inferiores a ponto de gerar uma crise profunda na pecuária por um longo período. Os primeiros sinais de recuperação começaram a mostrar a realidade de estoques internacionais praticamente zerados.
A crise da economia globalizada teve efeito dominó afetando todos os países e segmentos de forma diferente. As exportações de carne bovina brasileira vivenciaram momentos de resultados além dos previsíveis em 2007 e em boa parte de 2008.
O primeiro bimestre de 2009 refletiu a realidade do quadro recessivo mundial, em particular o fato de que os principais importadores do Brasil foram também afetados pelo quadro econômico, sobretudo a Rússia com a queda do preço do petróleo.
Assim, os resultados das exportações no último bimestre de 2008 e no começo de ano foram desanimadoras, com reflexos nos volumes e receitas do setor. Apesar do quadro, o ano 2008 foi mesmo excepcional com um volume de um pouco mais de 2 milhões de toneladas de equivalente carcaça, uma receita cambial de ainda expressivos US$ 5,12 bilhões de dólares (aproximadamente 17% mais que em 2007).
Sem dúvida, estes resultados não vão se repetir em 2009, mas também não irão baixar a patamares muito inferiores a ponto de gerar uma crise profunda na pecuária por um longo período. Os primeiros sinais de recuperação começaram a mostrar a realidade de estoques internacionais praticamente zerados.
O quadro mundial de demanda em 2008, mesmo com o embargo da UE, possibilitou um conjunto de fatores que fomentaram preços com menos volume que em 2007. Passamos um ciclo importante em que a economia mundial testou os limites do mercado de commodities. Mas é importante lembrar que as crises mundiais sempre estiveram seguidas de ritmos acelerados de expansão econômica que deverão dar ao âmbito produtivo um novo impulso.
A realidade é que os principais importadores mundiais do setor carnes têm problemas econômicos sérios, como Estados Unidos, Rússia e Japão e os exportadores de petróleo perdem receita e, com isso, importam menos.
Este novo ciclo foi evidenciado nos números de exportação do setor de carnes brasileiras do último bimestre de 2008 e no primeiro de 2009. No último bimestre de 2008 os exportadores brasileiros tentaram cumprir embarques, renegociando preços e forçando o cumprimento de contratos.
Mesmo assim, os resultados oferecem o novo ambiente que teremos que enfrentar neste primeiro semestre. Este último bimestre mostrou ainda amplitude das influências da economia mundial sobre o setor de carne bovina.
Em dezembro o Brasil embarcou apenas 126,8 mil toneladas em equivalente carcaça. A desvalorização cambial amenizou, mas não alavancou os importadores estrangeiros que precisam de capital de giro para realizar o fechamento de negócios. Mas o mês de março deste ano o embarque de carne in natura teve um crescimento de 24% sobre fevereiro, que já tinha mostrado os primeiros indícios de recuperação e há uma retração de oferta no mercado físico neste início de mês com ligeira recuperação do preço do boi gordo e o preço da reposição estabilizado.
Para concretizar uma visão mais otimista, dependemos da evolução do cenário internacional e de ações internas de governo: sistema de rastreabilidade, desoneração fiscal dos frigoríficos não exportadores e liberação dos créditos tributários para os frigoríficos exportadores. Mas há indícios de retomada das exportações.
O Brasil é responsável por aproximadamente 13% do abate mundial e 30% da carne exportada. Mesmo com uma crise mundial de proporções gigantescas, o consumo mundial de carne bovina, segundo a FAO, deverá manter-se ao redor de 65 milhões de toneladas, e deve ser sustentado essencialmente pelo aumento de população nos países emergentes.
Os problemas decorrentes da falta de crédito para os importadores mundiais deverão ajustar-se para atender a demanda mundial. Neste cenário, os grandes concorrentes do Brasil têm ainda outras restrições.
A forte intervenção do governo, a disputa da terra com grãos e a estiagem na Argentina, o alto custo de produção e também a concorrência com o milho para produção de etanol nos USA, a seca e o alto custo da mão-de-obra na Austrália, a falta de estrutura industrial da Índia.
A carne brasileira tornou-se mais competitiva com a desvalorização cambial: o preço médio da carne in natura em média foi de US$ 3.289 por tonelada ou R$ 5.755,00, com o dólar a R$1,75 no ano 2008. No mês de março de 2009, o preço médio foi de US$ 2.845 com o dolar a R$ 2,33, o que equivale a R$ 6.628 e volta a ser atrativo para o exportador.
Mesmo o Brasil exportando menos de 2 milhões de toneladas de equivalente de carcaça, o equilíbrio entre produção e mercado interno e externo vai ser favorável à valorização da arroba.
O restabelecimento dos embarques para a Rússia, a retomada do comércio com a UE e o Chile, assim como a abertura de novos mercados, devem ajudar a alcançar estas metas em 2009, se o sistema de rastreabilidade bovina no Brasil avançar.
Quase todas as estimativas sobre a população de gado bovino brasileiro convergem para uma redução do contingente de 2 a 3% e números mais conservadores apontam para um valor entre 180 a 185 milhões de cabeças para 2009.
O abate de fêmeas teve um crescimento geométrico em alguns estados. Tocantins e Bahia tiveram aumentos de quase 1000% e 600% respectivamente nos últimos cinco anos. O rebanho brasileiro não se recompõe em 2009.
Desta forma a oferta reduzida de animais e a dificuldade da reposição deverão puxar para acima as cotações da arroba de boi, mesmo no quadro atual de queda de 5% do abate nacional.
A ociosidade da indústria frigorífica nacional deverá crescer e a falta de crédito favorece ainda mais a concentração dos grandes grupos, que com menos ímpeto de crescimento, deverão consolidar a concentração que foi bem alicerçada pelo BNDES. Se o governo persiste em continuar favorecendo a indústria frigorífica exportadora através do crédito presumido (PIS e Cofins), o grau de concentração aumentará em 2009.
O consumo interno se mantendo no nível atual de 36 kg a 37 kg per capita deverá também ser compensado pelo aumento de população e a redução da margem do varejo poderá favorecer o consumo interno de 7 a 7,5 milhões de tonelada de equivalente de carcaça no ano 2009 .
No início de ano, o preço do boi gordo refletiu a indefinição mundial, mas a baixa oferta de boi gordo e a dificuldade de reposição vão determinar o mercado em 2009.
Tanto a demanda internacional, quanto o consumo interno, deverão manter-se estáveis e o rebanho brasileiro começará sua recomposição. Não devemos esperar altas consideráveis, mas a arroba de boi gordo deve voltar ao patamar de R$90,00/@ e o segmento da cria e de ciclo completo com aplicação crescente de tecnologia deverá ser o mais rentável.
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As estatísticas que eu tenho são as seguintes, obtidas no website da ABIEC:
a)EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA DO BRASIL, JAN-DEZ
2007 – US$ 4,424,544.09
2008 – US$ 5,325,479.53 (+20,4%)
b)EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA DO BRASIL, JAN-DEZ
2007 – 2,532,237.63 Ton Eqc / CWE
2008 – 2,163,309.80 Ton Eqc / CWE (-14,5%)
Que me conste, houve aumento de 20,4% na receita em dólares, e não queda de 17%.
Existia um erro de digitação no artigo original, que foi corrigido em 22/04/09. Pedimos desculpas pelo inconveniente, Equipe BeefPoint
O sr. Pineda nos apresentou uma síntese bastante interessante e lúcida da conjuntura atual da pecuária de corte, face à crise internacional na qual o mundo inteiro vive há vários meses.
Apresento meus aplausos pela qualidade e clareza do texto. Não obstante, seria o caso de indagarmos a razão pela qual há o entendimento de que o rebanho brasileiro começará sua recomposição em 2009. A conclusão, do ponto de vista da demanda de carne bovina, quer doméstica, quer externa, de um comportamento de estabilidade, suscita a idéia de que diante de uma oferta menor, o mercado venha a apresentar uma tendência de alta, ainda que nada espetacular.
O efeito dessa tendência na produção bois para abate, entretanto, passa necessariamente pela consideração da duração do ciclo de produção. Assim para que o rebanho brasileiro possa começar sua recomposição, de fato, será necessário um tempo que vai muito além do ano corrente.
Se mesmo os pecuaristas que preservaram seus plantéis de matrizes decidirem ampliá-los hoje, retendo mais fêmeas do que as necessárias para a reposição, os frutos dessa atitude não serão colhidos em 2009, pois as estações de monta só começarão no segundo semestre, mas a produção consequente dessa retenção irá proporcionar um início de recomposição, através do desmame de bezerras, somente em 2010.
Entretanto, os pecuaristas que não reduziram seus plantéis de matrizes, infelizmente, não constituem a maioria. Por essa razão fica a pergunta: diante da estabilidade da demanda e da previsível redução da oferta, que patamar de preços será estabelecido pelo nosso imperfeito mercado de boi gordo em 2009?
Será suficiente para estimular um número maior de criadores a reterem mais fêmeas, ou empregarem mais tecnologia?
Em suma, volta à casa dos 90 reais, ou consegue ir mais longe?
Da resposta a essas indagações depende o ritmo de crescimento da pecuária de corte nos próximos anos.
Parabéns pelo artigo!
Precisamos de informações sempre explicações sobre o mercado
Grato,
Antônio Henrique
Caro Nelson com otimismo espero que os preços se realizem, pois estavamos em desvatagens a anos e obtivemos um pequeno impulso em 2008 e no inicio de 2009 uma queda nos levando a momentos de temor e atençao. Sabemos que o mundo vive momentos dificeis, mas não podemos mais uma vez pagar a conta, necessitamos de vender o nosso boi e de R$ 100,00 a arroba este ano e vende-los a compradores que nos pagem.
Saudacoes
Prezado Humberto,
Boa noite. Obrigado pela sua revisão de fato quis dizer 17% a mais que em 2007, são os dados que tenho disponiveis do MDIC.
Pediria a redação do BeefPoint fazer a correção.
Grato e muito obrigado,
Nelson Pineda
Prezado Deniz,
Obrigado pelos seus comentários, sobre sua pergunta: “Em suma, volta à casa dos 90 reais, ou consegue ir mais longe?” A situação é altamente sensivel a oscilações, mais problemas com os frigorificos, maior retomana dos embarque para Rússia e a UE com aninciado hoje, retomada do Chile, são muitas variáveis que podem ter impacto sobre o preço da @.
Vamos acretitar num patamar de R$ 90 frente ao atual cénario.
Grato,
Nelson Pineda
Prezado Andre,
Concordo que hoje o problema não é preço mais se receber. Continuamos vendendo à vista, recebendo menos, mas os indicadores da bolsa para outubro devem ir para R$ 90.
Grato,
Nelson Pineda
Prezado Antonio,
Muito obrigado pelo seu comentário.
Grato,
Nelson Pineda
Prezado Luciano,
A nossa indústria está passando por sérios problemas, infelizmente para toda a cadeia. Talvez esta crise tenha o lado construtivo de tentar soluções ao longo da cadeia para resolver o problema sistemico que nos afeta. Mas tem segmentos muito mais afetados que o nosso.
Acredito que @ a R$ 90 vai nos permitir passar o ano pagando nossas contas e nos preparar para uma retomada para 2010.
Grato,
Nelson Pineda
Quero parabenizar o Pineda pelos esclarecimentos do mercado da carne, estavamos precisando saber o comportamento deste mercado que perdeu os parametros convencionais de negociação e as dúvidas foram diversas sem obter qualquer resposta plausível para uma situação inédita e totalmente atípica.
Obrigado pelas valorosas informações.
Caro Nelson,
A arroba ou o kg do boi vivo, como é comercializado no RS deve subir, talvez a 2,80 a arroba de 30 kg.
Quando vou aos grandes supermercados na grande porto alegre, encontro preços da carne abusivos, se relacionados ao preço pago ao produtor atualmente, falo de R$ 24,00 o kg da alcatra de determinadas raças britânicas. Se a ponta final da cadeia da carne se mantém com preços estratosféricos, certamente vai chegar novamente o momento de termos uma melhor remuneração no produtor. O que levará ao retorno destes patamares será o equilíbrio da velha relação de oferta/procura em contrapartida a uma pressão de baixa dos frigoríficos.
Grato pela tua análise muito bem posicionada.
Um abraço
O que me intriga é que, mesmo com toda essa crise, os principais afetados da cadeia (os frigoríficos) não cedem para os principais prejudicados (os produtores). Eles compram a preços ínfimos (já chegou a R$ 64/@ aqui no Maranhão), nos obrigando a optar pelos retalhistas de beira de estrada. O frigorífico do Grupo Arantes daqui de Imperatriz, recentemente pediu recuperação judicial. O governo está de prontidão para ajudá-los, mas nós, os fornecedores, temos que nos moer para continuar nossa jornada de cabeça erguida, mesmo sem força para levantá-la.
Obs.: Também tenho, acima de tudo, fé e esperança de a arrôba chegar aos seus R$ 90.
Belo artigo, Nelson Pineda.
Prezado Josias,
Prezao Marco Aurelio,
Prezado Julio César,
Muio obrigado pelas sua palavras, fatos novos apareceram, ontem o Chile credenciou várias plantas brasileiras, as exportações nas três primeiras semanas de abril mostram crescimento. Tenho temor de afirmar que o pior passou, pois os ganhos do varejo continuam presionando para baixo o consumo. Temos necessidade de aproveitar a crise para negociar um pacote amplo que possa trazer ganhos para toda a cadeia, é o ponto que precisamos pressionar nossos representantes politicos, tentar aproveitar oportunidade para concretizar ações de consequencias duradouras e permanentes.
Muio obrigado a todos,
Nelson Pineda
Caro Nelson,
Fica mais uma indagação, gostaria de saber se o efeito dominó da cadeia produtiva de carne, mesmo com os prejuizos que nossos frigorificos exportadores nos deixaram, podemos aplaudir essa quebra de grandes grupos frigorificos. Pois isso podera ser um reflexo do aumento do preço e na procura de carne por não ter estoque o suficiente?
Também isso pode ajudar produtores de carne a se recomporem do prejuízo aos poucos até que os grupos falidos se recomponham ou até novos grupos surgirem?
Obrigado!
Com o retorno da crise em forma de L até 2013, não vejo este cenário, sem falar na crise dos cartoes de creditos dos eeuu, que ainda não estorou , vejo um patamar de no maximo para 84 ou 85 r$/@. é preciso que se faça uma politica de ganha-ganha, os hipermercados, supermercados, casa de carnes, não querem perder e querem ganhar muito e como tenhe ganahado, o nosso mercado interno é grande , com esta politica ganha-perde não ha consumo. quem sempre banca é o produtor, sustentar os urbanos, precisamos urgente do i.v.a, imposto agregado de valor.
Olá, boa noite a todos
Tenho muita fé que a arroba do boi chegue a esse patamar, mas, sei que isso depende muito de qual postura, os pecuaristas, como nós, irão adotar.
No meu entender, os pecuaristas como um todo, deveriam tomar medidas de forma a reduzir sua capacidade reprodutiva do rebanho, por meio de descartes de matrizes, reduzindo assim a oferta de reposição, e forçando assim a alta de preços em toda a cadeia.
Prezado Rafael,
Nehuma quebra dentro da cadeia produtiva tem beneficos para os outros elos da cadeia. Mas se criam cenários para iniciar uma reordenção da cadeia, é esta oportunidade que devemos aproveitar. Criar sistemas de comercialização para no dar estabilidade e reconhecimento pela qualidade.
Atenciosamente,
Nelson Pineda
Prezado Luciano,
A reprodução é o fator economico determinante na pecuária, seria um desastre limitar a capacidade de produção do rebanho, seria suficiente eliminar as vacas que não produzem um bezerro por ano.
Atenciosamente,
Nelson Pineda
Desde 2008 tenho escutado a conversa de que está faltando gado no mercado, mas os leilões estão sempre cheio de gado de todas as idades e sexo e os preços dos animais para recria e engorda não condizem com os preços dos animais acabados. Hoje o pecuárista recebe, em minha região, Triângulo Mineiro, por um boi de 17@, com 30 dias de prazo, R$ 1.173,00. E frigoríficos estão em dificuldade financeira. Estamos todos com mêdo dos frigoríficos não nos pagarem. Como que podemos ser otimistas, numa situação desta?!!! Como é que vamos acreditar que a @ possa chegar até mesmo em R$ 90,00?!!! É bom ver colegas otimista, mas acredito que o momento é de cautela.
O momento ainda e de muita insegurança para o pecuarista porque desde outubro de 2008 ainda nao retornamos aos preços praticados naquela epoca, onde desde entao começaram apresentar varios fechamentos de frigorificos e os preços da @ praticado naquela epoca aqui na regiao era 83 reais e hoje 72 reais e os preços de insumos continua em alta, frigorificos ainda pagam com 30 dias. preço do boi magro tem pouca diferença do gordo.
Prezado Sr. Mario,
Prezado Sr. Antonio,
A @ do boi vai a 90 em 2009. Foi sim, na BMF nov. está a R$ 90, este valor fixa referência para os confinadores e o mercasdo fisico esta correndo atras deste valor. Situações particulares de regiões são tipicas num Brasil destas dimensões.
Vejam o grafico da Carta Pecuaria de hoje que mostra claramente o aumento da @ nos ultimos 50 dias e dados recentes do Rabobank, o rebanho brasileiro encolheu 12%. Não estou sendo otimista, a curvas de tendências marcam esta perspectiva, o bezerro esta a R$100/@, ou o preço do boi aumenta ou o preço do bezerro cai. Leilões arrebentado de gado com liquidez, normal pois é esta a forma de comercialização hoje no mercado de reposição.
Esperemos porque o ano 2009 não fechou ainda.
Atenciosamente,
Nelson Pineda