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A arroba do boi sobe ou não sobe?

Por Leonardo Souza1

O ano de 2004 foi um ano de paradoxos para a cadeia da carne bovina. De um lado o grande sucesso das exportações favorecendo exclusivamente os frigoríficos e de outro o produtor amargando um ano marcado pelo aumento dos custos (cerca de 10% a mais que em 2003) e preços estáveis (a arroba ficou por volta dos R$ 60,00 o ano todo e cerca de 2% a mais que 2003).

Este retrato não teria uma imagem tão ruim não fosse o fato da grande expectativa que a arroba chegasse a R$ 70,00 no segundo semestre de 2004. Especulações não faltaram neste sentido. Entretanto, toda esta euforia foi a própria causa da frustração.

Os produtores acreditando nesta previsão desde o início do ano, se programaram para vender o máximo de seus estoques no segundo semestre. De que maneira? Segurando bois que poderiam ser abatidos ainda no primeiro semestre e investindo em suplementação e confinamentos para antecipar o abate de animais do ano de 2005. No primeiro semestre o fato do pecuarista ter segurado seus bois não afetou os preços porque os frigoríficos foram abastecidos por fêmeas oriundas de fazendas que saíram da pecuária para a soja.

Já no segundo semestre os frigoríficos, principalmente os exportadores, acreditando que poderia haver uma pressão sobre o valor da arroba com as exportações em alta também se preveniram. O Bertin, por exemplo, operacionalizou um frigorífico de 100 mil bois e outros como o Friboi desenvolveram parcerias com grandes confinadores para garantir a oferta na seca. O resultado foi uma super oferta de animais terminando no final de 2004 e a estagnação do valor do boi nos R$ 60,00. Excelente para os frigoríficos que aumentaram bastante suas margens e péssimo para os pecuaristas que além de receber pouco pelo boi elevaram seus custos de produção em ano que o correto era gastar pouco.

E em 2005 o que podemos esperar? Primeiramente gostaria de fazer uma análise do estoque de animais e dos pastos brasileiros. Como os preços ainda estão deprimidos a maioria dos criadores tem vendido somente a quantidade de animais necessária para pagar as despesas mensais. Portanto, deve haver uma grande quantidade de animais superlotando as pastagens brasileiras que agora no período das águas todo santo ajuda.

Mas e quando acabarem as chuvas, o que irá acontecer? É inevitável que estes bois “prontos” tenham que ser vendidos neste primeiro semestre. Como não haverá reserva de pastos para a seca seria prudente colocar bezerros no lugar dos bois, gerando uma grande procura por esta categoria, que devido ao grande abate de fêmeas nos últimos dois anos pode não ser suficiente para a demanda, mesmo faltando pasto no segundo semestre.

E com relação aos bois gordos no segundo semestre? Acredito que a estratégia que os criadores adotaram de anteciparem o abate dos animais para o final de 2004 e início de 2005 tenha gerado um buraco de oferta de bois para o segundo semestre de 2005. Além disso, o resultado do ano passado não deverá incentivar os produtores a suplementar ou confinar grande parte de sua produção acreditando em altos preços no segundo semestre, como fizeram em 2004. Espero, portanto, uma oferta mais restrita de animais para abate no segundo semestre.

Mas e o valor da arroba do boi sobe ou não? Neste cenário que descrevi poderíamos esperar que a arroba do boi valorizasse se tivéssemos a certeza de que as exportações de carne bovina continuassem em alta e que o consumo de interno de carne também aumentasse. Entretanto, isto depende, de fatores internos como a vontade do governo em manter as exportações em alta e da eficiência no combate da febre aftosa e de fatores externos como uma taxa de câmbio favorável e do crescimento econômico dos países importadores de nossa carne. Já consumo interno depende de uma melhor distribuição da renda, pois, o crescimento econômico do país neste ano é consenso de todos.

Concluindo, se tudo isso ocorrer o ano deverá ser bom para o produtor de bezerros que poderá iniciar a recuperação dos prejuízos dos últimos três anos de preço deprimido em cerca de R$ 370,00. Para o terminador será razoável se os preços melhorarem no segundo semestre, pois, não acredito no aumento da arroba até junho, devido ao grande estoque de bois gordos nos pastos.

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1Leonardo Souza é veterinário e representa o Núcleo de Zootecnia de Rio Preto

0 Comments

  1. Carlos Arthur Ortenblad disse:

    Muito bom artigo, apresentado de forma objetiva e articulada.

    Gostaria de poder me deixar contaminar com a visão de dias melhores para a pecuária de corte, conforme acena o autor, embora ele o faça de forma prudente e com ressalvas.

    Recuso-me, porém, ao otimismo. Mesmo que moderado.

    Fato é que, no cenário apresentado no artigo, as leis de mercado terão efeito apenas circunstancial e limitado.

    E por que afirmo isto?

    Porque o cartel dos 5 grandes frigoríficos (i.e. Abiec) cederá também e apenas, de forma circunstancial e limitada. Passado o momento, a ausência das leis de mercado se fará sentir novamente.

    Mas o que mais me desanima não é ausência de sadia competição, que prejudica não apenas os pecuaristas, como também a enorme maioria dos frigoríficos.

    O que realmente me entristece á a FALTA de REAÇÃO ORDENADA de nossa classe.

    Se não pudermos defender nossos próprios interesses, de forma eficiente, quem o fará por nós?

    Mas, embora eu discorde em parte do autor, devo congratula-lo pela redação clara, embasada e objetiva – atributos cada vez mais raros.

    Atenciosamente,

  2. Carlos Henrique Ribeiro Do Prado disse:

    Caro amigo,

    Sem aumento real no consumo interno favorecido pelo aumento do poder de compra do consumidor, sem aumento do dólar, sem alteração climática que diminua a oferta prolongada de animais ao abate não teremos melhora no preço da @.

    Temos atualmente super produção de bois.

    O preço histórico é o mesmo de hoje: 20 dólares.

  3. Carlos Zaratin Neto disse:

    Parabenizo o colega redator do artigo, aproveitando a oportunidade em ressalvar a forte tendência no abate de fêmeas em regiões produtoras de bezerros em benefício de abertura de novas áreas de lavouras de soja.

    É visível, notório e preocupante quanto à reposição que será insuficiente, beneficiando aqueles pecuaristas criadores que reteram fêmeas e possuem lastro em bezerros para a reposição em Maio. Assim que a safra de bois passar, que as linhas de abate se desabastecerem e a necessidade de reposição se torne eminente, faltará bezerros no mercado e os preços reagirão.

    Uma oportunidade de mercado será a baixa no valor de terras em arrendamento uma vez que a oferta de animais de reposição será insuficiente, a ocupação de terras também será menor e os preços baixos da saca de soja desestimulará abertura de novas áreas de lavoura, refletirá positivamente na diminuição dos custos de produção e injeção de capital no segmento de recria quando o cenário se apresentar com muito pasto e pouco bezerro.

    Carlos Zaratin
    Médico Veterinário
    Coordenador Comercial de Produtos Veterinários

  4. Leandro Carlos Freling disse:

    Meus Amigos

    Acredito que as lei do mercado são claras, em qualquer atividade, sendo que antes de ficarmos só na reclamação e acusar frigoríficos pelo nosso mal desempenho na comercialização, deveríamos ver que os mesmos nos últimos anos se prepararam para tudo isso e como! É só dar uma examinada e ver que para os mesmos serem exportadores passaram antes por processo de INVESTIMENTO alto em tecnologia e melhoramento, foram atrás para negociar e defender seu negócio. Quase a maioria trava preço a mercado futuro, sabem suas margens de ganho e com isso fazem projeções futuras com estratégias embasadas na realidade do mercado….já o nosso pecuarista ainda insiste no fato de ser o coitado da história, mas segue negociando sua mercadoria como mero especulador, esperando o melhor momento… quando não tem sucesso, a culpa dos frigoríficos.

    Devemos nós, pecuaristas, melhorar nossa forma de negociar, buscar alternativas sérias e seguras, travar nossas margens de lucro, investir em tecnologia, sanidade … SÓ COLHE QUEM PLANTA e precisamos gradativamente nos adaptarmos as mudanças do cenário do mercado.

    Agradeço esse espaço e comecemos a olhar as coisas de outro ângulo.