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A batalha pela qualidade

No jornal O Valor Econômico de 13/03/2003 foi publicada uma notícia sobre café com o título: “Café pode perder a batalha da qualidade”. Apesar de entender muito pouco sobre café, aprecio bastante um bom expresso.

Nessa notícia, Ernesto Illy (da empresa italiana Illy, líder mundial em café de alta qualidade) falava sobre uma batalha pela qualidade. Segundo ele só será possível aumentar o consumo de café com a oferta de um produto de alta qualidade. Ele lastimava que o consumo de café no mundo vinha caindo mesmo com a diminuição do preço do produto no varejo.

O café brasileiro tem enfrentado momentos difíceis nos últimos tempos, mas alguns produtores (muito poucos por sinal) estão satisfeitos com a atividade. Qual o segredo? Conseguem produzir um café de alta qualidade e, mais importante do que isso, conseguem vender esse café por preço compatível a um café de alta qualidade.

Essa situação parece estar longe da cadeia da carne, mas acredito que podemos traçar um paralelo. Hoje, frigoríficos (salvo raríssimas exceções) e supermercados não se preocupam com a qualidade da carne adquirida, ou pelo menos não oferecem nenhum tipo de estímulo por esse produto superior (ex.: sobre-preço). Ao mesmo tempo vemos o frango ganhar cada vez mais espaço, no Brasil e no mundo.

Em nosso setor, muito pouco tem sido feito para se organizar melhor a cadeia e oferecer um produto que agrade o consumidor. O frango é um exemplo muito bom de organização da cadeia e oferta de produtos de acordo com tendências de consumo atuais, com seu lado positivo e negativo.

É possível aprender bastante com a cadeia do frango, que hoje é organizada e consegue produzir grande quantidades de produtos dentro de um mesmo padrão. Outra lição importante é que essa mudança foi liderada por empresas frigoríficas e não pelos produtores. Essa é uma das razões dessas empresas estarem auferindo mais lucros que produtores.

Para que os produtores brasileiros consigam aumentar sua lucratividade ao oferecerem produtos mais adequados ao mercado e com maior qualidade é preciso que esse movimento de melhoria seja feito pelos próprios produtores.

Todos sabemos que o Brasil tem capacidade de produzir carne de alta qualidade e de acordo com as mais recentes demandas do consumidor moderno, como respeito ao meio ambiente, segurança alimentar, bem-estar animal, etc.

Mas é preciso deixar de ser uma promessa e passar a produzir essa carne de qualidade. E mais, para alcançar credibilidade é necessário ter qualidade certificada por instituições com renome.

Não será possível obter lucros satisfatórios vendendo produtos comoditizados que têm suas cotações diminuídas ano após ano.

A batalha por produzir uma carne de alta qualidade pode trazer bons frutos. O primeiro é alcançar maior lucratividade, o segundo é aumentar o consumo de carne de maneira generalizada. Esses também são os objetivos de Ernesto Illy. O primeiro, ele já consegue há muito tempo: o preço médio no mundo de sua xícara de café é US$1,00, sendo possível fazer 4.000 mil xícaras com uma saca (60 kgs) de café. O valor dos melhores cafés brasileiros não ultrapassa US$ 400 a saca e o valor de mercado está em torno de US$ 50/saca.

Será que essa brutal agregação de valor alcançada pelo Illy Café, por oferecer qualidade excepcional e marca reconhecida, não serve de estímulo para a cadeia da carne entrar nessa batalha pela qualidade?

0 Comments

  1. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Tudo bem. Vamos produzir café de alta qualidade, porém lembrando que:

    1 – Dificilmente se consegue produzir mais que 25% de café fino sobre a colheita total;

    2-temos que encontrar mercado para os restantes 75%.

    Então como fazer? Digam os especialistas, atendento às limitações do produtor que não consegue operar milagres.

  2. Eloísa Muxfeldt Arns disse:

    Cavalcanti, parabéns pelo paralelo entre a cadeia da carne e a indústria cafeeira.

    Sem dúvida o fato de algumas cadeias produtivas terem sido lideradas pela indústria foi fator determinante, não só para o rápido desenvolvimento, como para a maior concentração de receita neste elo da produção.

    Existem alguns estudos que mostram a evolução da distribuição da renda na cadeia da carne bovina nos últimos anos, e nota-se a migração da renda em favor da distribuição e varejo.

    Também o elo dos insumos está concentrando uma parcela um pouco maior da renda da cadeia em função da adoção de novas tecnologias (suplementação alimentar, rastreabilidade e maior utilização de pastagens cultivadas).

    Um abraço

  3. Angélica Simone Cravo Pereira disse:

    Parabéns pelo artigo Miguel.

    Concordo em todos os aspectos e acredito que a carne bovina brasileira, infelizmente, ainda está distante de ser um produto com alto valor agregado, pelo menos enquanto os elos que formam tal cadeia não se unirem para a produção e exportação de um produto, que garanta alta qualidade.