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A cadeia alimentar em exposição

Por Donário Lopes de Almeida1

Ao longo dos últimos anos temos visto uma grande evolução na maturidade do consumidor, que passou a buscar mais informações a respeito dos produtos e serviços que utiliza ou tem interesse em adquirir. Talvez o setor mais impactado por esta mudança seja o alimentício, onde as demandas por informações referentes à rotulagem, origem e certificação dos produtos consumidos são cada vez mais freqüentes, não sendo mais apenas uma escolha baseada nos sabores e aparência destes produtos. Esta alteração de atitude faz sentido, afinal de contas, o produto escolhido pode ter impacto direto sobre a saúde das pessoas.

A decisão de compra, em geral, está cada vez mais baseada na imagem mais ampla que os produtos oferecem. No caso dos alimentos, alguns fatores passaram a ter importante peso nesta tomada de decisão, como o conteúdo nutricional, a condição sanitária, o ambiente em que o alimento foi produzido e, para os consumidores mais exigentes, chegando ao bem estar animal e impacto ambiental causado pela atividade produtiva. Portanto, as variáveis e estímulos no momento da compra transcendem o preço e aparência do produto. A qualidade percebida pelo consumidor mudou e, estando a agropecuária na base da cadeia alimentar, é inevitável que esta mudança de atitute do consumidor venha a impactar de alguma maneira o produtor rural.

Em recente visita ao Salão Internacional de Agricultura (SIA), em Paris, considerada a maior exposição agropecuária da França, ficou claro o novo conceito de visão do agronegócio por parte dos produtores daquele país. Chega-se a conclusão que o ato de produzir alimento, seja este a partir de cereais, carnes ou leite, deve estar intimamente ligado aos desejos do consumidor, sendo necessária uma comunicação eficaz entre as duas pontas. Diferente do que se vê em uma exposição agropecuária por aqui, o SIA devota uma grande atenção ao público urbano, valorizando os produtos agropecuários e criando esta visão de cadeia. Os expositores apresentam de forma clara e didática as características e vantagens dos diversos alimentos, facilitando a interação e troca de informações entre os produtores rurais e o público urbano, ou seja, o destinatário final dos produtos oriundos do campo.

Como na maioria das Exposições Agropecuárias, o Salão Internacional de Agricultura, é a grande vitrine da genética francesa, onde são julgados os melhores animais, oriundos de exposições regionais, sendo nominados os grandes campeões nacionais das diversas raças de corte e leite. Além disso, é o ponto de encontro das lideranças do melhoramento animal do país com os diversos elos da cadeia, seja de insumos ou de processamento e distribuição. O grande diferencial e pioneirismo desta Exposição está na comunicação com o consumidor, possibilitando a troca de informação e a demonstração das características dos produtos e suas formas de produção, desmistificando o tema e criando empatia entre produtores e consumidores. Na busca desta interação é dada especial atenção as crianças, que apesar de ainda não serem consideradas consumidoras ativas, tem grande influência na decisão de compra, mas que, em breve, passarão a ser os novos consumidores.

Neste papel de comunicação com o consumidor são primordiais as organizações de produtores que divulgam os seus produtos. Os serviços de informação ao consumidor na França, como o CIV (Carnes), CIDIL (Leite) e vários outros no caso dos cereais, executam os programas de divulgação e interação das respectivas cadeias produtivas com o consumidor, informando e valorizando o trabalho dos produtores rurais. Esta experiência vem sendo amadurecida já há muitos anos, tendo sido a forma encontrada pelo setor produtivo para garantir o crescimento sustentado do setor agropecuário, assegurando renda e a devida valorização dos agropecuaristas na economia do país.

No Brasil a mudança de perfil do consumidor também vem acontecendo, sendo cada vez mais comum o questionamento a respeito da origem e forma como os alimentos foram produzidos. Logicamente que esta mudança é muito mais lenta, afinal de contas, uma grande parcela de nossa população ainda luta para poder ter um prato de comida na mesa, ou seja, muitas vezes a qualidade do alimento ainda não é a maior prioridade. Apesar disso, nossos agropecuaristas já começam a ser questionados a respeito de vários aspectos do processo produtivo, sejam eles com referência a qualidade do produto, impacto ambiental, bem estar animal ou possível contaminação dos alimentos antes da chegada à gôndola do supermercado. Esta mudança de comportamento é irreversível e, certamente, com a melhoria das condições econômicas e educacionais de nossa população teremos uma exigência maior sobre nossos produtores.

Assim como na França, onde houve a organização das cadeias produtivas e a devida comunicação eficaz com o consumidor, devemos estar preparados para atender estas demandas, que mais cedo ou mais tarde estarão presentes em nosso país. Neste sentido, algumas iniciativas em andamento no Brasil são pioneiras, como o SIC – Serviço de Informação da Carne – e a Láctea Brasil, que, respectivamente, atuam com objetivo de informar a respeito da importância da carne e do leite na composição de uma dieta saudável. O que precisa ser feito é expandir estas ações, divulgando melhor a importância de nossa agropecuária e de seus produtos, trazendo o público urbano para mais próximo e valorizando o trabalho de nosso homem do campo. Enfim, a cadeia do alimento precisa ser valorizada, mas somente conseguiremos isso com uma melhor comunicação com o consumidor.

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1Donário Lopes de Almeida é engenheiro agrônomo, agropecuarista e ex-presidente da ASBIA – Associação Brasileira de Inseminação Artificial.

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