Síntese Agropecuária BM&F – 31/03/2005
31 de março de 2005
3ª Etapa do Circuito Boi Verde de Julgamento de Carcaças
4 de abril de 2005

A cooperativa e os produtores rurais

Por Leonardo Galvão Netto1

Estive analisando as duas reuniões feitas pelo FNPC em Goiânia e Cuiabá, onde estive e participei. Fizemos varias propostas, e nas duas reuniões ficou decidido pela retenção do boi no pasto.

Apoiei esta decisão, e mais tarde comecei a perceber que não teríamos sucesso, pois temos vários produtores com varias situações diferentes, foi dito e feito, a retenção do boi não se concretizou.

Toda indústria defende o seu negócio comprando matéria prima da melhor maneira possível e vendendo seus produtos no melhor preço possível, e os frigoríficos já aprenderam esta estratégia.

E nós produtores, como vamos defender a nossa sobrevivência? A meu ver não há outra solução a não ser atuando no ramo de frigorífico. Mas como? A solução mais viável seria na forma de Cooperativas, pois cada pecuarista não pode construir o seu próprio frigorífico.

Não existe outra maneira de vender melhor o nosso produto sem que ele seja industrializado por nós produtores. É outro ramo, concordo, mas nós devemos entender que será preciso expandir nossos negócios ou então em breve seremos meros integrados dos frigoríficos, pois eles já começaram a entrar no nosso ramo.

Mas acho também que esta formação de cooperativas deve ter um fundamento básico, a união entre todas as cooperativas criadas para o mesmo fim, comercializar carne. Onde seria criada uma rede de cooperativas, em várias regiões do Brasil, com a finalidade principal de exportar carne para o mundo através de uma central única de vendas.

Com isto, nós produtores conseguiremos mandar em nosso negócio. Não será uma tarefa fácil, primeiramente por ter que convencer o pecuarista desta mudança e segundo pela dificuldade de aglutinar esta classe. Mas estou convencido que será uma ótima revolução.

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1Leonardo Galvão Netto é presidente do Sindicato Rural de São José do Xingu, e agropecuarista

0 Comments

  1. Paulo E. F. Loureiro disse:

    A entrada de pecuaristas no ramo de frigoríficos pode ser uma solução ou um novo problema.

    Como donos de frigoríficos, os pecuaristas terão de negociar com as grandes redes de supermercados, que dominam o mercado interno, pois concentram grande parte da venda ao consumidor ou com os importadores que querem qualidade, constância e preço.

    Administrar um frigorífico é complexo, requer profissionais capacitados, planejamento estratégico e capital de giro.

    Muitos pecuaristas administram seus negócios de forma amadora e podem se dar mal caso entrem no negócio de frigoríficos com o mesmo pensamento.

  2. Luciano O. Debs disse:

    Parabéns pelo raciocínio lógico e coerente.

    Eu sou médico e pecuarista em Goiânia. Fundamos uma cooperativa há uns 30anos. Foi o que nos salvou.

    Vamos lutar pela pecuária.

    Abraços,

  3. Leonardo Galvão Netto disse:

    Caro Paulo Loureiro,

    Sendo solução ou problema, acho que nós pecuaristas não devemos dormir, e esperar para ver qual será o nosso fim.

    Não sei qual é o seu ramo, mas posso te dizer que aquele pecuarista que administra seus negócios de forma amadora nem sequer terá capacidade de aderir a uma “cooperativa indústria”.

    Além do mais como todo negócio tem suas dificuldades. Acho também que estas não serão empecilho para aqueles com a mente aberta a novas idéias.

    Profissionais capacitados e planejamento estratégico são premissas de qualquer negócio bem administrado.

    Grande abraço,

    Leonardo Galvão Netto

  4. Andre Luis Castro Nunes disse:

    Concordo plenamente com o Sr. Leonardo.

    É necessario que nossos lideres, Federações e CNA (estas entidades têm tomado atitudes corretas em nossa defesa), coordenem uma consultoria especializada para apresentar projetos que viabilizem a implantação de cooperativas regionais e central, mas isto não pode esperar, pois os demais elos da cadeia estão agindo de forma predatória, e a presa somos nós, pecuaristas.

    Ações:

    -Conforme proposto nas reuniões, colocar imediatamente em funcionamento as centrais de venda regionais, ligadas as centrais estaduais e por sua vez a federações;

    -No médio prazo a criação das cooperativas, inicialmente com utilização de plantas já existentes, e nas regiões onde que não possuem esta disponibilidade, apresentação de projetos para construção, junto a Bancos de Fomento. Sugiro ainda que as diretorias eleitas, sejam restritas a Presidência, vice-Presidência e conselho administrativo, evitando assim o uso pessoal e político das mesmas, ficando diretorias comercial, financeira, industrial com profissionais de mercado, contratados junto aos frigoríficos.

    Esta tarefa não é fácil, porém temos capacidade para empreender.

    Quanto às dificuldades de negociação junto aos grandes varejistas, não há como fugir no curto prazo, mais vale lembrar que quem fortaleceu este grupo, foram os próprios frigorificos, que ainda hoje oferecem melhores condições a estes em detrimento dos pequenos.

    Sem mais,

  5. manoel marques junior disse:

    Não acredito em solução alguma se não estiver atrelada a um plano de redução de cabeças de bovinos no Brasil, pois nosso estoque elevou-se substancialmente e o desfrute igualmente, então obtivemos o que se chama de a pior praga da lavoura, que é a fartura, com a oferta em alta não tem quem segura os preços, pois o mercado é soberano e ninguém segura, e como podemos ver em alguns casos há dias em que o preço da arroba do boi no atacado é menor do que o que o pecuarista recebe, logo podemos chegar a conclusão de que o frigorífico dá lucro em alguns casos, principalmente quando se sonega, o que é o caso de alguns frigoríficos.

  6. Rubens Ernesto Niederheitmann disse:

    Prezado Leonardo,

    Li o seu artigo e como trabalho aqui no Paraná num Programa de Pecuária de Corte entendo sua angústia.

    Tenho defendido um raciocínio que pode parecer meio difícil de aceitar pelos pecuaristas, mas eu tenho a convicção de que apesar de difícil é o único caminho.

    Na minha opinião é preciso ter claro que:

    1. O pecuarista tem espírito individualista;

    2. Nem o pecuarista de um modo geral, nem a maioria dos técnicos que atuam na área, conhecem bem os demais elos da cadeia da carne bovina;

    3. Temos qualidade, pontualmente, mas não temos um padrão constante de qualidade e,

    4. Normalmente o pecuarista sozinho não consegue volume e nem constância de oferta com qualidade, para poder negociar com os frigoríficos.

    Em função destes pontos a saída é:

    1. O fortalecimento do produtor através da melhoria contínua da qualidade e na gestão de suas propriedades (mesmo que ainda não esteja recebendo por isto). Para que a falta de qualidade não seja motivo para o comprador baixar o preço;

    2. Um esforço de todos (pecuaristas, técnicos e lideranças do setor) no sentido de conscientizar o pecuarista e de criar, fortalecer, incentivar formas associativas (seja Cooperativas, Associações ou Agências). Para que seja possível a formação de volume e garantir oferta constante, e com isto aumentar o poder de negociação dos produtores;

    3. Buscar conhecer os demais elos da cadeia da carne bovina (os frigoríficos já conhecem o elo produtor). Para que o pecuarista unido possa estabelecer melhores estratégias de negociação. Não é destruindo um elo que o outro se salvará;

    4. Ter perseverança, não buscar alternativas salvadoras ou milagrosas. O que se busca precisa ser construído e o será com muito esforço.

    Finalizando, estão surgindo várias iniciativas em todo o Brasil (Associações de novilhos precoce, Alianças Mercadológicas, Associações de Produtores, Cooperativas) iniciativas estas divulgadas aí mesmo no BeefPoint, que eu acho, devem ser conhecidas e apoiadas e copiadas, sempre tendo o cuidado de entender que cada caso é um caso, não existe modelo igual para todas as realidades.

    O lado bom é que esta crise está forçando a cada dia, mais e mais pessoas discutam e busquem a saída para o problema.

    Um abraço,

    Rubens Ernesto Niederheitmann
    Produção Paranaense de Carnes e Leite a Base de Pasto