Do nascimento até o desmame são necessários alguns cuidados, como no caso de fêmeas, o não oferecimento de grande quantidade de concentrado, para que não ocorra a formação de gordura em regiões como útero e glândula mamária, o excesso de concentrado pode causar, tanto nos machos como nas fêmeas, a inibição do desenvolvimento dos órgãos internos. A falta de concentrado nessa etapa torna o desenvolvimento lento, causando prejuízo na produção.
Meu nome é Bruno Uehara e atualmente curso o 10° semestre de medicina veterinária. Residi no Japão por 13 anos, onde me graduei em Zootecnia pela Shizuoka Prefectural Agriculture and Forestry College. No Japão conheci a raça bovina Wagyu, que possui uma carne de excelente qualidade e marmoreio perfeito.
Tive oportunidade de fazer estágios em propriedades de criadores de Wagyu, e acompanhei cada etapa de criação dessa raça, sendo que cada etapa possui técnicas para manejo e nutrição diferentes. Os criadores sempre buscam novidades para o melhoramento do seu rebanho através de pesquisas desenvolvidas pelas universidades contando com o apoio e incentivo de órgãos governamentais como Japan Agricultural Co-operatives.
A história do Wagyu iniciou-se aproximadamente no ano 1900 quando o Japão importou animais de raças como Simental, Pardo Suíço e Ayshire para fazer cruzamentos. Após anos de melhoramento genético e da qualidade da carne, em 1944 a raça foi denominada como Wagyu. O Wagyu foi dividido em dois tipos, Wagyu de pelagem preta (Japanese Black) e de pelagem marrom avermelhada (Japanese Brown), a diferença entre o Wagyu de pelagem preta e o de pelagem marrom avermelhado é no seu cruzamento. O Wagyu Japanese Brown surgiu do cruzamento do Japanese Black com a raça Simental, objetivando aumentar o ganho de peso de carcaça, mas com esse cruzamento perdeu-se o grau de marmoreio, ficando inferior em comparação a Japanese Black. Com a importação da raça Aberdeen Angus, e trabalhos de seleção foi desenvolvido o Wagyu mocho.
Em 2011 o Japão possuía aproximadamente 70mil produtores de gado de corte, 1,8 milhão de cabeças da raça Wagyu Japanese Black, e 24 mil cabeças de Japanese Brown. Por ano são abatidos aproximadamente 524 mil cabeças, sendo que a produção é voltada ao consumo do mercado interno. A carne Wagyu é muito consumida por pessoas que possuem alto poder aquisitivo, podendo também ser apreciada em restaurantes especializados.
O Japão é um país de território pequeno, por esta razão, dificilmente encontramos pecuaristas que atuam em sistemas de cria, recria e engorda na propriedade. O sistema de criação é praticamente confinamento, exceto em Hokkaidou (estado localizado no norte do Japão) que possui fazendas com áreas maiores, o que permite o sistema de pastagem para os animais.
Todo o gado Wagyu produzido no território Japonês possui documentação de origem da propriedade onde nasceu, onde foi criado e do seu pedigree. A venda ou compra desses animais ocorre através de leilões. Os compradores fazem a pré-pesquisa dos animais que serão leiloados, onde os animais são vendidos separadamente e não em lotes.
Segundo os criadores Japoneses para que seja produzido o Wagyu bem terminado e com muita qualidade são necessários muitos estudos, tecnologia e principalmente muita dedicação. Os produtores relatam que o cuidado da criação de Wagyu inicia-se desde a compra do animal em leilões, pois a aquisição de um animal errado poderá causar grandes prejuízos na produção final. Os objetivos dos criadores do Japão não é só produzir uma carne com carcaça pesada, é também produzir uma carne de excelente qualidade, atingindo marmoreio de número 12.
Em modo geral os animais são criados em estábulos individuais ou coletivas, sempre respeitando 5 a 7 m² por cabeça. A grande vantagem desse sistema de criação é que todos os dias os produtores podem observar se há alguma alteração nos animais, como perda de apetite, apatia e doenças. Outra vantagem no confinamento é a produção de grande quantidade de dejetos que são processados nas propriedades, sendo comercializados para aumentar a renda dos produtores.
Para produzir o Kobe beef é necessário entender a fisiologia do crescimento do animal, e não podemos pensar que o Wagyu já nasce com grande quantidade de marmoreio. Para produzir um Wagyu temos que respeitar cada etapa do seu crescimento.
Tabela 01: Desenvolvimento do Wagyu do nascimento até o final do seu crescimento
O inicio do desenvolvimento é da cabeça e dos ossos, após 14 -15 meses de idade começa a ter desenvolvimento dos músculos, e somente após esta etapa começa a adquirir gorduras. De acordo com a tabela acima observamos que a gordura intramuscular (marmoreio) só aparece na etapa final da produção. Por isso, para produzir um Wagyu é necessário no mínimo 30 meses.
Do nascimento até o desmame são necessários alguns cuidados, como no caso de fêmeas, o não oferecimento de grande quantidade de concentrado, para que não ocorra a formação de gordura em regiões como útero e glândula mamária, o excesso de concentrado pode causar, tanto nos machos como nas fêmeas, a inibição do desenvolvimento dos órgãos internos. A falta de concentrado nessa etapa torna o desenvolvimento lento, causando prejuízo na produção.
O volumoso é praticamente oferecido a vontade em todas as etapas da produção, e o concentrado é controlado de acordo com a categoria. Alguns dos principais componentes do concentrado são: farelo de arroz, milho em grão, farelo de soja, cevadas laminadas, sal e cálcio. O arraçoamento é realizado 2 vezes por dia, sendo que o concentrado é fornecido somente no período da tarde.
Tabela 02: Exemplo de quantidade de concentrado fornecido por dia (kg)
Do desmame até o inicio do confinamento a idéia é praticamente a mesma, não deixar acumular gorduras desnecessárias nessa etapa, praticamente a alimentação é composta de feno de boa qualidade, palha de arroz e silagem, e uma pequena quantidade de concentrado.
Tabela 03: Métodos de Engorda
Com o confinamento ideal podemos alcançar a mais alta qualidade de carcaça como A5, sabendo que a marmorização da carne varia entre a raça, pedigree e a nutrição adequada. Os machos são castrados aos 5 – 6 meses de idade, e são desmamados aos 9 meses de idade, nesta fase são alimentados com volumoso e com pouco concentrado até chegar na etapa do confinamento.
Enquanto na produção precoce, o macho é castrado entre 3 – 4 meses de vida e é desmamado aos 6 meses de idade, quando se inicia o confinamento. O grande problema da produção precoce tanto machos como fêmeas é a coloração da carne que geralmente não passa do grau 2, e a marmorização da carne por ser um animal novo dificilmente alcança grau 5.
Na etapa final do confinamento o animal apresenta pouco apetite e o ganho de peso diário é baixo, por isso uns dos métodos que os japoneses utilizam é de oferecer cerveja ou licor a base de arroz para estimular o apetite, e esse método é utilizado quando os animais são transportados em longas distâncias para minimizar o estresse.
O abate do Wagyu é realizado em frigoríficos sob rigorosa inspeção de avaliação da carcaça com o minucioso acompanhamento de médicos veterinários especializados na área. A carcaça é cortada entre a 6ª e a 7ª costela, e o grande diferencial entre o Brasil e o Japão está na evisceração, os Japoneses não retiram os rins e nem as gorduras renais, por isso o rendimento da carcaça é maior.
São avaliados os graus do rendimento da carcaça e os graus da qualidade da carne, como o marmoreio, coloração, textura, firmeza, cor da gordura, e rendimento. O rendimento de carcaça é calculado da seguinte forma:
Valor referencial do rendimento = 67.37
Se for bovino de corte soma-se mais 2.049, se for de origem leiteira não é adicionado esse valor. Com o resultado obtido através do cálculo são classificados em 3 graus diferentes, A ,B e C . O A apresenta grande rendimento, o B apresenta rendimento normal e o C apresenta o rendimento abaixo do normal.
Tabela 04: Rendimento de carcaça
O marmoreio é dividido em 5 graus diferentes:
Tabela 05: marmoreio de grau 1 – 5.
O B.M.S (Beef Marbling Standard) Representa o número de marmoreio que é de 1 -12. O grau de marmoreio é definido através de padrões. Acima do número 8 recebe a classificação (2+), do número 5 a 7 recebe a classificação de (1+ – 2),do número 3 a 4 recebe a classificação (1‾ – 1), o número 2 recebe a classificação (0+) e o número 1 recebe a classificação (0).
Tabela 06: Graus de marmoreio
Imagem 01: Classificação B.M.S
A coloração da carne é classificada em 5 graus diferentes. E o B.C.S.(Beef Color Standard) varia entre 1 -7, sendo que grau 5 o B.C.S é de 3 -5, grau 4 o B.C.S é de 2 -6, grau 3 o B.C.S é de 1 ~ 6, grau 2 o B.C.S é de 1 -7 e o grau 1 não entra nessa classificação.
Tabela 07: Graus de coloração da carne
Tabela 08: Relação de grau de coloração com B.C.S
Imagem 02: B.C.S.
A classificação da textura e da firmeza da carne é dividida em 5 graus diferentes.
Tabela 09: grau de textura
A coloração da gordura e a qualidade também são classificados em graus 1 – 5, e dentro dessa classificação o B.F.S. (Standard Fat Beef). A classificação da cor da gordura que varia de numero 1 – 7.
Tabela 10: Coloração da gordura e da qualidade da gordura
Imagem 03: B.F.S
A determinação do grau de qualidade da carne é feita através do resultado obtido de: marmorização, coloração da carne, coloração e qualidade da gordura, textura e firmeza. Exemplo:
Nesse caso é usado o número inferior para determinar o grau da qualidade da carcaça. A exibição de grau da carcaça é feito através do resultado do rendimento da carcaça + grau da qualidade da carne.
Após essa classificação da carcaça são realizados leilões da mesma. Os principais compradores são açougues especializados em Wagyu, restaurantes e supermercados. Antes dos leilões os compradores podem avaliar os produtos que serão leiloados.
Nos últimos anos o Brasil tem mostrado muito interesse em melhoramento da qualidade da carne, buscando animais europeus como Red angus, isso mostra que cada dia os consumidores procuram carne com mais maciez e maior qualidade. O Wagyu é uma raça que se adapta em diversos tipos de clima e foi bem aceito no Brasil.
Hoje, no Brasil, o Wagyu é mais utilizado para cruzamento com Nelore ou F1 Nelore x Angus, e com essa cruza já mostra uma qualidade superior de carne e com marmoreio diferenciado. Nos próximos anos podemos consumir uma carne de qualidade superior, pois as pesquisas e investimentos estão avançando, o que consequentemente possibilitará o desenvolvimento de melhor produto final.
4 Comments
Soy Ignacio Devincenzi de Uruguay, criador de Wagyu. Me gustaria saber la direccion de correo de Bruno Uehara para intercambiar informacion de la raza Wagyu.
Sou Jose Maria estudante medicina veterinária em Goiânia e grande adimirador dessa raça wagyu, parabéns pelo seu conhecimento e por vc nos ajudar a conhecer um pouco mais sobre a raça.
Obrigado pela leitura Jose Maria Alves Gomes, A raça Wagyu apresenta um grau de marmoreio incrível e sua carne é muito macia e saborosa.
Pretendo publicar mais trabalhos sobre Wagyu.
gostei de sua postagem,se possível gostaria de saber mais sobre o manejo dos animais,sou estudante de zootecnia e me interesso pela raça,para poder quem sabe fazer um melhoramento genético dos animais desta raça com os presentes no Brasil
desde já agradecido