A defesa sanitária do nosso país

Por Samuel Carvalho de Aragão¹

Sábado à noite, estava na minha casa comendo um delicioso churrasco preparado pelo meu irmão Dr. Marcos Aragão, juntamente com todos meus irmãos em especial o querido Daniel que veio de Cuiabá e promoveu uma festa para comemorar o meu aniversário.

Antes do lindo discurso efetuado pelo Daniel o meu celular tocou, era o grande amigo Doutor Luiz Álvaro, professor que eu consegui trazer da UNESP de Botucatu SP, que está dando aula no curso de Medicina Veterinária na UNIGRAN, pós-doutorando em patologia. Irmão, tenho uma péssima notícia para você, a Argentina importou milhares de aves dos Estados Unidos, passado certo tempo estas aves começaram com uma patologia gravíssima mortal, a suspeita é da gripe aviária, e o material já está no laboratório do Instituto Biológico de São Paulo para ser examinado.

Discutimos também sobre a Febre Catarral Maligna que está em estado avançado no Chile, doença gravíssima, de grande abalo na economia de qualquer país.

No Domingo de manhã quem me ligou foi uma colega médica veterinária responsável por um Serviço de Inspeção Federal localizado em Campo Grande, conversamos sobre a possível greve dos Fiscais Federal Agropecuário onde, em todos os postos de fiscalização portos, aeroportos, fronteiras e S.I.Fs deverá ocorrer uma paralisação que envolverá toda a classe, que está para ser deflagrada a qualquer momento apartir da semana que vem.

Lembrei também da aula por mim ministrada na sexta-feira no curso de Medicina Veterinária da UNIGRAN, que tinha como tema o Médico Veterinário e a Defesa Sanitária, a Vigilância Sanitária e a Inspeção, preparei todo o conteúdo e confesso a vocês que o tempo expirou e somente consegui falar sobre o Médico Veterinário e a DEFESA SANITÁRIA. Foi uma aula fantástica muito debatida, expus para os meus alunos como a Peste Suína entrou no Brasil no Rio de Janeiro, onde um funcionário sem qualquer instrução de seus superiores pegava resto de comidas dos vôos internacionais e domésticos levava para a sua chácara e dava para os seus porcos, até que, num belo dia ensolarado do Rio de Janeiro, num vôo lindo chegando da Europa em especial da Espanha, não estou ironizando, pois tive o privilégio de chegar da Europa e desembarcar no Rio não tem coisa mais linda no mundo, porém deixando as brincadeiras de lado, neste vôo da Espanha, este funcionário levou comida contaminada para os seus porcos onde todos morreram e o diagnóstico foi contundente Peste Suína. Imagina o prejuízo para o país.

E um poderoso ministro da década de 80, no maior surto da doença de New-Castle na Europa e América do Norte, o todo poderoso Ministro, desembarcou no aeroporto internacional de Brasília com 5 gansos para embelezar o seu lindo lago em sua mansão em Brasília, animais estes sem nenhum documento que atestasse a sanidade porém, graças a um heróico fiscal de defesa sanitária, enquanto o poderoso discutia e ameaçava, com sua arrogância, prepotência e “poder” os funcionários da Defesa Sanitária, este valente foi até onde estavam as aves e degolou todas.

Conversei muito com os meus alunos sobre a nossa fronteira com o Paraguai e a Bolívia, e os sérios riscos que traz para a economia do nosso estado e país, a entrada não só de febre aftosa, como de qualquer enfermidade de notificação obrigatória.

Com certeza esta discussão vai voltar na próxima aula, porque estou indignado, por mais que seja material suspeito da gripe aviária, como que as autoridades deixam material virótico tão nocivo, tão agressivo entrar dentro do nosso território. Creio que nossas autoridades não descobriram, o que o resto do mundo já sabe e é consciente de que o Brasil é o celeiro do mundo, que aqui de norte ao sul de leste ao oeste como diz a letra da música do melhor cantor gaúcho Leonardo, aqui tudo o que se planta cresce neste país. Tudo o que se cria engorda, dá lucro, aqui é favorável a tudo.

Porém, me desculpe se estou ofendendo alguém, não devemos agir com ingenuidade, um material suspeito deste tinha que ir para onde estão ocorrendo surtos da doença para ser analisado. Por mais seguro que seja o laboratório, não podemos arriscar nunca.

Nossos produtos são competitivos e de ótima qualidade, nossas barreiras tem que ser eficientes, rápidas e prudentes. Não se pode colocar em risco tudo o que se conquistou com tanto sacrifício, temos que sermos agressivos e vigilantes no que se concerne a Defesa Sanitária.

A Defesa Sanitária do nosso país é mais importante do que qualquer reforma que o Presidente queira implantar, é mais importante do que qualquer missão que a nossa Autoridade máxima queira fazer.

BRASIL ACORDA, é o CAMPO que tem sido o esteio na nossa nação há décadas.
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¹Samuel Carvalho de Aragão é médico veterinário, mestre em Vigilância Sanitária e professor da Unigran – Dourados MS.