Caros leitores, cansei! Desta vez me enfezei. Os europeus passaram do limite e o Governo brasileiro ultrapassou qualquer barreira da inação. Na última quinta-feira (13) cedo, durante meu desjejum, fui tomado por uma onda negativa de notícias sobre o setor agropecuário brasileiro.
De um lado, projeções negativas e indicadores rurais divulgados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do outro, a inflamada notícia de que os principais Sindicados e Associações de Agricultores e Cooperativas da União Européia teriam solicitado – formalmente – à Comissão Européia a adoção de medidas restritivas (proibição) contra produtos alimentares brasileiros.
Não bastasse tudo isso, para acabar com meu desejo de devorar ovos mexidos com bacon naquela manhã, a indigesta acusação de que passamos a contrabandear alimentos, como carne suína, e exportar irregularmente ovos para aquele bloco econômico, desde janeiro de 2005, também afetou meu voraz apetite.
Sempre ouvi falar que: “o novo nome do protecionismo é a sanidade animal e a vegetal”. Pois é, sempre foi e será, mas com alguns toques a mais de libertinagem e a cada dia mais. Percebo, no entanto, que a nova ordem “sanitária” internacional versa também sobre crimes, que não aqueles ligados às políticas sanitárias dos países e da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
Por isso, agora, eles (produtores europeus) rebaixaram o discurso; o que nos leva a aumentar o tom da nossa resposta com fatos reais e incontestes. O Brasil não pode se calar diante de acusações infundadas e incoerentes que tem por objetivo principal a manutenção do atual e vergonhoso nível de subsídios recebidos pelos produtores europeus, bem como perpetuar as piores práticas de produção em diversas cadeias produtivas.
Se, de um lado, desenvolve-se intensa atividade contra países como o Brasil, verifica-se, cada vez mais, que há conflitos de interesses dos que ora nos acusam. Seja pela perda de competitividade, capacidade de produção ou, mesmo pelo completo desespero que alguns países “ilhados” se deparam com o cada vez mais escasso subsídio agropecuário que lhes garantiam sombra e água fresca.
Não se pode esquecer que esses países, que hoje nos acusam e se dizem estar acima do bem e do mal, são os que tentam inverter o ônus de terem provocado a maior crise no setor de alimentos e abalado a confiança do consumidor mundial, após graves e sucessivas crises sanitárias.
A tentativa de se confundir a opinião pública interna e internacional da verdade dos fatos trata-se de artifício para que se manipulem parâmetros conceituais a serem utilizados de forma equivocada pelos consumidores. Há um termo para isso: competição desleal e antiética, ou, se preferirem, desespero mesmo.
O Brasil tem, sim, suas fragilidades que permitem este tipo de campanha difamatória. Mas, atenção: nada que nenhum outro país também não tenha. O teto de vidro é comum a todos, uns já estilhaçados, como o dos europeus, e outros como o nosso, com leves arranhões. O Brasil reúne, hoje, e em todo o mundo, a melhor capacidade de saúde e inspeção animal e de produção com sanidade, do campo à mesa.
No entanto, para os que leram o noticiário, há um evidente descompasso entre a tomada de consciência sobre a natureza dos problemas essenciais para a agricultura e a economia brasileira e a capacidade política de resolvê-los. O Brasil vive um momento de inação governamental na sua política de comércio exterior, em particular no agronegócio.
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Parabéns pelo artigo no qual é relatado a ponta de um imenso iceberg. Sou da opinião de que devemos agir através dos setores competentes com rigor e determinação.
Como medida doméstica, acredito que devemos, cada vez mais, nos profissionalizar e nos adaptar, bem como também criar uma poupança interna, pela qual possamos atravessar momentos de turbulência com maior tranqüilidade, além de termos menores pressões na hora de negociar.
Creio que o que mais falta no Brasil é realmente acreditar e lutar por seus direitos. Não podemos aceitar mais imposições e continuarmos calados como crianças que fizeram arte. Temos que agir e reagir contra as mentiras e difamações de países que certamente utilizam de nossa fragilidade em beneficio próprio.
Prezado Sr. Otávio,
Quando a falta de eficiência do controle pelo governo e a ignorância de partes dos produtores não garantem a produção de alimentos dentro de padrões estabelecidos, a sanidade animal e vegetal precisa de protecionismo.
Infelizmente existem na agricultura brasileira que hoje mais que nunca depende do mercado externo para colocar a sua produção, muitos “jeitinhos” para acelerar certos processos considerados burocráticos, e enquanto a cadeia produtiva não se conscientiza que estes “jeitinhos” prejudicam a classe toda, o Brasil vai ficar vulnerável a fiscalizações humilhantes e embargos aos seus produtos.
Para os produtores que preenchem as exigências sanitárias não existem as “barreiras sanitárias” das quais os outros reclamam tanto. Se não tiver causas e argumentos para duvidar da qualidade de produtos ninguém poderia justificar um embargo para qualquer um.
Diethelm Hammer
INTERPLAN Agropecuária Ltda.
Itararé-SP
É com um certo conforto que lemos o escrito pelo Otavio, jovem nacionalista de opinião e respostas firmes quando se trata da defesa Nacional.
Vejam que apesar dos ataques dos produtores irlandeses, no Brasil não houve a vaca louca, não houve dioxina, não houve listeria nos alimentos oferecidos à população.
Não temos dúvidas que a saúde animal, o bem estar dos animais e o meio ambiente servirá de barreira não-tarifária para nossas exportações, tendo ou não nossos detratores razão.
Com isto não estamos querendo dizer que não temos nossos pecados e nossas mazelas, quando comentamos tudo isso, porém, nossos dirigentes têm que conhecer a cultura da Organização, vide programas do Mapa, para saber responder à altura as críticas das autoridades que nos visitam. Tivemos oportunidade de ver a rastreabilidade, por exemplo, nascendo na França, e para atingir-se o status quo levaram cerca de 14 anos. Tivemos ocasião de ver com nossos próprios olhos, durante um treinamento de lácteos na França, que os latões de leite de animais tratados com antibióticos eram assinalados para a Usina de leite com uma fita azul amarrada na alça dos continentes.
Nesse treinamento estavam várias autoridades do Mapa que comprovam nossas palavras, dentre os quais na ativa, destacamos o Dr. Francisco Sergio Jardim ex-Superintendente do Mapa em São Paulo e o Dr. Olavo da Superintendência do Mapa no Espírito Santo.
O Brasil iniciou o Sisbov, Sistema de certificação e identificação de bovinos e bubalinos em junho de 2002, num momento que poucos técnicos conheciam um pouco de rastreabilidade. O Sisbov com todas as imperfeições e aprendizado do inicio, aí está, e deve ser aprimorado com a IN 17.
Esperamos que haja um compromisso de todos os segmentos da cadeia produtiva, compromisso este de fazer as coisas seriamente, de não procurar chicanas nem subterfurgios para burlar e/ou tirar proveito da legislação , e aí então teremos um Sistema confiável, e poderemos dar munição a jovens como o Otavio.
Gostaria de parabenizar o artigo do Dr. Otávio Cançado pela forma inteligente e sútil de mostrar a realidade do mercado de exportação de carne, uma vez que a cada dia vemos notícias desatrosas em relação ao setor do agronegócio, mostrando a total falta de preparo e de vontade deste governo de trabalhar seriamente neste assunto.
Precisamos de pessoas que conheçam verdadeiramente os problemas enfrentados por este setor e esclareçam a opinião pública os verdaderios desejos da Comunidade Européia em desmoralizar o nosso sistema de controle sanitário, de forma a proteger seus próprios interesses.
Sabemos das dificuldades existentes em relação aos problemas sanitários e não podemos, nem devemos, fazer que os mesmos não existem, pois desta forma não estaríamos contribuindo com uma imagem séria de tratar esta problemática. De posse destes conhecimentos, é urgente que existam ações conjuntas por todos os segmentos interessados em prol de um setor competitivo, sustentável e que contine a trazer divisas para o nosso país.
Que o nosso país tenha uma política agrícola séria é o que todos desejamos, mas será que um dia veremos esta realidade?