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27 de junho de 2012
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27 de junho de 2012

A falta de equipamentos e a produção de silagem

Possivelmente, a descapitalização dos pecuaristas seja o principal entrave na aquisição de máquinas. Políticas governamentais, por meio da redução de impostos e financiamento e o associativismo entre os produtores, são formas que podem atenuar este problema, principalmente quanto à compra de equipamentos para a colheita da cultura, pois esta é a etapa que inicia o processo produtivo de silagens. Erros cometidos nesta fase são irreparáveis, pois as etapas subsequentes são dependentes da mesma. Por Thiago Fernandes Bernardes e Rafael Camargo do Amaral.

Por Thiago Fernandes Bernardes e Rafael Camargo do Amaral

Recentemente, o Departamento de Zootecnia (DZO) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e o site MilkPoint realizaram um levantamento sobre as práticas de produção e uso de silagens no Brasil, o qual pode ser acessado por meio do seguinte endereço: http://www.milkpoint.com.br/pdf/EBOOK-SILAGEM.pdf.

Nesta pesquisa, diversas perguntas sobre a confecção e fornecimento de silagem para os animais foram feitas aos produtores e aos técnicos (consultores) e, ao final do questionário, eles teriam que apontar as principais barreiras ou limitações que encontravam durante o processo produtivo. Dezenas de aspectos foram relatados, mas um deles nos chamou a atenção e se destacou em relação aos demais, o qual foi: a falta de equipamentos para executar as operações, desde o plantio da cultura até o desabastecimento do silo.

Percebam, na Figura 1, que 41% dos produtores dependem dos serviços de terceiros ou até mesmo do empréstimo de máquinas de outros pecuaristas e/ou prefeituras. Como muitos não possuem equipamentos próprios, a colheita, em geral, ocorre de forma precoce ou tardia. Em ambos os casos, há efeitos negativos à logística da fazenda, bem como no valor nutritivo da silagem e no desempenho dos animais que virão a ser alimentados com o volumoso.

 Figura 1. Percentagem de produtores que possuem serviço próprio ou terceirizado no Brasil (Bernardes, 2012).

Em outro estudo realizado pelo DZO/UFLA, o qual reuniu 43 produtores de leite do Sul de Minas Gerais (segunda maior bacia leiteira do Estado), os resultados mostraram (Figura 2) que o cenário é semelhante ao encontrado na pesquisa a nível nacional. Neste levantamento, além dos serviços terceirizados e próprios, o empréstimo de máquinas (prefeituras e vizinhos) também foi considerado. Somente 21% das propriedades possuem todos os equipamentos para as operações na ensilagem. Os demais pecuaristas terceirizam (totalmente ou parcialmente) os serviços ou dependem do empréstimo dos equipamentos.

 Figura 2. Tipos de serviços (próprio; terceirizado; empréstimo) praticado em 43 fazendas do Sul de Minas Gerais (Miranda et al. dados não publicados).

Embora o uso da mecanização seja menos problemático na etapa de fornecimento da silagem, o primeiro levantamento mostrou também que o desabastecimento manual ainda é o mais utilizado nas propriedades (85%). Apenas a minoria (15%) faz uso de máquinas para desabastecer o silo.

Percebe-se que as fazendas zootécnicas brasileiras que produzem e utilizam silagem são carentes quanto ao item máquinas e equipamentos. Este cenário evidencia que as propriedades ainda são muito dependentes de mão-de-obra para executar as tarefas. Contudo, este é um aspecto que também tem gerado problemas nos últimos tempos, pois a cada dia tem se tornado mais difícil encontrar pessoas disponíveis e capacitadas para trabalhar no campo. Desse modo, a mecanização acaba sendo uma tendência na agropecuária.

Possivelmente, a descapitalização dos pecuaristas seja o principal entrave na aquisição de máquinas. Políticas governamentais, por meio da redução de impostos e financiamento e o associativismo entre os produtores, são formas que podem atenuar este problema, principalmente quanto à compra de equipamentos para a colheita da cultura, pois esta é a etapa que inicia o processo produtivo de silagens. Erros cometidos nesta fase são irreparáveis, pois as etapas subsequentes são dependentes da mesma.

Quando se trata de culturas anuais, o escalonamento do plantio também pode ser uma alternativa para contornar a falta de máquinas, pois a colheita ocorreria em etapas. Contudo, em alguns casos, as colheitas intermitentes podem dificultar a logística pela demanda de equipamentos em períodos distintos.

A terceirização vem crescendo e será o caminho das fazendas zootécnicas no Brasil, contudo, muitas empresas terão que melhorar a qualidade dos serviços prestados para que a ensilagem seja realizada dentro dos parâmetros considerados como adequados. Muitos produtores e técnicos relataram nas pesquisas que, atualmente, há carência de serviços terceirizados qualificados no nosso país.

1 Comment

  1. Egon Valter Schwerz disse:

    Excelente artigo. Preocupação a ser repassada as entidades oficiais na busca de perspectivas de melhores produções.
    Além disso precisa-se uma análise da qualidade do máquinário, vida útil e valores aos produtores descapitalizados.