Com a virada do século, foram divulgados inúmeros estudos sobre futuro do mundo. Qual será a população mundial? Qual será a demanda mundial por alimentos? Os sistemas tradicionais de produção serão capazes de atender à demanda crescente? Haverá água em quantidade e qualidade suficientes? Etc, etc, etc…
Se as projeções feitas estão corretas, só o tempo poderá dizer, porém, é fato que as mudanças que vêm ocorrendo são profundas e irão afetar todos os setores da sociedade. Daly (2005) argumenta que a economia mundial deve ser transformada de forma a: limitar o uso de recursos em níveis que resultem em resíduos passíveis de serem absorvidos pelo ecossistema; explorar recursos renováveis em níveis que não excedam a capacidade de reposição do ecossistema; e exaurir os recursos não renováveis a taxas que, na medida do possível, não excedam o ritmo de desenvolvimento de seus substitutos.
A maior parte das fazendas de pecuária no Brasil se dedica à produção exclusiva de bovinos de corte e/ou leite. A pecuária é considerada como atividade de fronteira agrícola, sendo implantada logo após a abertura de novas áreas. Os sistemas adotados não são sustentáveis1 e há forte pressão das atividades agrícolas, geralmente mais rentáveis, sobre as áreas utilizadas para pecuária.
A importância da sustentabilidade e da conservação dos recursos naturais está se tornando cada vez maior. Diante desse contexto, é preciso perguntar: Como será a fazenda do futuro? Quais serão os desafios enfrentados por técnicos e produtores?
Alguns especialistas acreditam que a fonte de renda da “Fazenda do Futuro” será mais diversificada. Atividades relacionadas à preservação de recursos naturais e manutenção da sustentabilidade podem vir a representar mais da metade dos recursos gerados por uma propriedade agrícola (Gibbs, 2005). Gibbs (2005) cita cinco exemplos de “serviços” que podem ser oferecidos pela “Fazenda do Futuro”: preservação de áreas de floresta natural e outros habitats de espécies ameaçadas de extinção; seqüestro de carbono; produção de “energia limpa”, como aquela gerada por cata-ventos; produção de “madeira certificada”; preservação dos mananciais de água. Esses “serviços” seriam remunerados pelos mais diversos atores como, por exemplo, ONGs, agenciais governamentais, indústrias etc.
Como as fazendas de pecuária poderiam se beneficiar desses novos mercados? Um estudo conduzido por Boddey et al. (2005) mostra que o estoque de carbono em solos sob pastagens produtivas é elevado e está distribuído até 100 cm de profundidade. Por outro lado, quando a produtividade do pasto decresce, devido às falhas de manejo ou à baixa fertilidade do solo, o carbono proveniente da forragem é perdido e é encontrado apenas até 40 cm de profundidade (Figura 1). A venda de “créditos de carbono”, portanto, pode vir a ser uma nova fonte de renda em propriedades que possuem pastagens produtivas.
Comentários dos autores: As mudanças no cenário mundial estão ocorrendo em ritmos cada vez mais acelerados. O conhecimento das novas tendências mundiais e dos novos mercados pode ajudar técnicos e produtores a se prepararem para atuar no novo cenário que está se delimitando. A venda de “crédito de carbono” sequestrado em áreas de pastagens parace uma alternativa viável.
A intensificação da produção do pasto por meio de práticas adequadas de manejo e da aplicação de fertilizantes pode ampliar ainda mais a capacidade de sequestro de carbono da área. Muitos estudos, no entanto, ainda serão necessários antes que esse mercado se concretize. Até lá, é preciso ficar atento às oportunidades.
1Sustentabilidade ambiental na agricultura é a capacidade de agroecosistemas de manter padrões de produção no tempo
DALY, B.H. Economics in a full world. Scientific American, v.293, n.3, p.78-85, 2005.
GIBBS, W.W. How should we set priorities? Scientific American, v.293, n.3, p.86-93, 2005.
BODDEY, R.M.; BRAZ, S.P.; SANTOS, R.S.M.dos; ALVES, B.J.R.; URQUIAGUA, S. Carbon accumulation under Brachiaria pastures in the Brazillian Cerrado in relation to their productivity (compact disc). In: International Grassland Congress, 20., Dublin, 2005.
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Concordo plenamente com os autores do artigo, vamos ter que intensificar a produção e conservar uma parte da fazenda, mas para isso vamos depender de incentivos internacionais e governamentais.