Austrália tem queda nas exportações de carne bovina
15 de dezembro de 2005
A aftosa foi ruim pra todo mundo?
19 de dezembro de 2005

A freqüência e o local de compra de carnes em Pelotas-RS

Por Rafael Gastal Porto1

Introdução

O mundo vem passando por intensas e profundas transformações que se estendem às esferas política, econômica, cultural, social e tecnológica, o que tem gerado novas tendências de mercado. Estas transformações, advindas do processo de globalização, trariam consigo a modificação dos mais diversos hábitos das pessoas.

Conforme essa perspectiva, estas transformações estariam modificando os hábitos de consumo de alimentos da população. O consumidor de carnes também estaria inserido nesse processo de mudança de hábito alimentar e de características no seu perfil.

Desenvolvimento

Antes de qualquer tipo de análise do consumidor de carnes, fez-se necessário, no que diz respeito ao agronegócio brasileiro, a abordagem de teorias importantes relativos à Economia dos Custos de Transação, bem como a noção de Coordenação Estratégica de cadeias produtivas, também chamada de Gestão da Cadeia de Suprimentos – Supply Chain Management, à luz da Nova Economia Institucional.

Na revisão bibliográfica também abordou-se temas relevantes à área de mercados em agronegócios, tais como: características dos agentes e das transações, necessidade do enfoque sistêmico, alianças mercadológicas ou estruturas de governança, competitividade, concorrência e comportamento do consumidor.

Todas estas vertentes teóricas para que se pudesse entender o ambiente onde os agentes das cadeias e o elo final (consumidor) estão inseridos, dada uma realidade sócio-econômica, cultural e geopolítica das organizações e regiões a serem estudadas e analisadas.

Realizou-se uma pesquisa exploratória por amostragem, com variáveis quantitativas. Para os níveis de mensuração dos critérios avaliados na pesquisa, utilizou-se escalas, intervalar e ordinal, respectivamente, para a análise da freqüência de compra e do local de compra das carnes por parte dos consumidores na cidade de Pelotas-RS.

Para se obter uma amostra significativa do universo da população, estabeleceu-se uma margem de erro máxima de 5%, considerando um intervalo de confiança de 95%. Os cálculos indicaram a necessidade de coletar dados de cento e cinqüenta indivíduos. Optou-se, então, por realizar entrevistas pessoais através da aplicação de questionários, com questões fechadas. Estes foram divididos proporcionalmente às características de sexo, idade e áreas (bairros) da cidade.

Os questionários foram aplicados por um grupo de cinco alunos devidamente treinados, fundamentalmente em estabelecimentos de venda. As áreas administrativas da cidade analisadas, segundo lei municipal no 4.398 de 20 de julho de 1999, foram: Areal, Centro, Fragata e Três Vendas, as quais respondem por 87,0% da população da cidade. Após a coleta dos dados, passou-se ao processamento, análise e interpretação dos mesmos.

De posse dos resultados pode-se observar, na tabela 1, a freqüência de compra das carnes pelos consumidores. Esse fator se mostra de suma importância, pelo fato de que irá determinar o fluxo de movimentação (produto, capital e informações) na cadeia produtiva das carnes. Ou seja, tendo-se o conhecimento dessa informação e a tendência do mercado, o planejamento de estratégias de comercialização se torna mais visível a longo prazo para os diversos agentes das cadeias.

Tabela 1. Freqüência de compra de carnes dos entrevistados.


Em relação à freqüência de compra de carnes dos entrevistados vê-se que a maioria dos consumidores, 34,7% compra carnes uma vez por semana. A compra diária e a compra de três vezes por semana ficam muito próximas com valores de 23,3% e 20,0%, respectivamente. Portanto, esses dados indicam que a maioria das compras são realizadas em periodicidade semanal com 78,0%. Já, as compras acima de quinze dias responde por 22,0%.

Com estas informações, pode-se estruturar melhor a disponibilidade de produtos (seja por preço, marca, conveniências e etc) apresentados nos estabelecimentos de venda. Essas informações demonstram que os consumidores preferem comprar carnes com uma certa regularidade no tempo, ou seja, gostam de adquirir com freqüência um produto fresco.

Na tabela 2, têm-se os locais de compra de carnes preferidos pelos entrevistados. Primeiramente, destaca-se a importância de diferenciar “casa de carnes/conveniências” de “açougue”.

A primeira estaria relacionada ao estabelecimento de venda que, além da comercialização de carnes, disponibiliza ao consumidor a facilidade de obtenção de produtos correlatos ao consumo de carnes, ou seja, comercializa produtos como bebidas em geral, carvão para churrasco, utensílios da culinária, fumos, temperos, etc, sendo considerado dessa forma um estabelecimento de conveniências.

Já o segundo, seria aquele estabelecimento que comercializa somente as carnes e não apresenta essa gama de produtos acessórios relacionados ao consumo de carnes.

As grandes superfícies (hipermercados e supermercados) mostraram-se como os locais preferidos pelos consumidores para a compra de carnes com 40,0% dos entrevistados, seguido dos açougues com 28,7%. As casas de carnes/conveniências aparecem logo após os açougues com a fatia de 16,7%. As mercearias e minimercados ficam por último com 4,0%.

Interessante notar que os consumidores que não tem preferência de local de compra figuram com um percentual de 10,7%, posicionando-se atrás das casas de carnes/conveniências, mas à frente das mercearias/minimercados. Ou seja, com isso têm-se uma fração de consumidores passíveis de serem absorvidos pelos estabelecimentos de venda através de investimentos em marketing e propaganda para a fidelização destes.

Tabela 2. Local de compra de carnes dos entrevistados.


Considerações finais

Pode-se afirmar que em relação a freqüência e local de compra das carnes, observa-se que o consumidor pelotense gosta de comprar carnes com uma freqüência semanal e em hiper e supermercados, pois possivelmente estes dados sinalizam a tendência de satisfação da praticidade e do preço.

Este trabalho procurou fornecer subsídios a respeito deste elo tão importante das cadeias produtivas de alimentos – o consumidor final. Os dados apresentados demonstram a complexa interrelação existente entre os diversos fatores envolvidos no processo de compra das carnes, fundamentalmente baseado na freqüência e no local de compra das carnes.

Denota-se que as “carnes” é um produto muito importante para o consumidor de Pelotas, porém muito ainda pode ser feito no que diz respeito à utilização de mecanismos de comunicação e promoção para o aumento de consumo.

Referências bibliográficas

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed – São Paulo: Atlas, 1999. 206 p.

SOUKI, G. Q.; SALAZAR, G.T.; ANTONIALLI, L.M.; PEREIRA, C. A. Atributos que afetam a decisão de compra dos consumidores de carne bovina. Organizações Rurais e Agroindustriais – Revista de Administração da UFLA, Lavras, v. 5, n. 2, p. 36-51, jul/dez. 2003.

________________________
1Rafael Gastal Porto, Professor do Departamento de Ciências Sociais Agrárias, FAEM/UFPEL

0 Comments

  1. Dartangnan Aquino disse:

    Nosso país está abarrotado de carne e neste ano aumentou sua produção em aproximadamente 30%, as dificuldades de crescimento no da participação do país no mercado internacional ainda são grandes, principalmente por falta de credibilidade nos controles sanitários e rastreabilidade.

    Trabalhos como estes têm uma grande importância para que possamos ter a percepção do mercado que ainda absorve 80% da produção nacional. Não podemos correr o risco de descuidar deste mercado.

    Conhecendo suas reais preferências podemos abastecê-lo adequadamente.

    Parabenizo Dr. Rafael Gastal Porto pela iniciativa e espero a continuidade do trabalho na busca das preferências dos cortes, assim como a extensão deste trabalho a outras regiões através de parcerias com outras universidades.

    Como produtor, ficam aqui meus agredecimentos.

  2. Rafael Gastal Porto disse:

    Prezado Sr. Dartagnan Aquino;

    É com muita satisfação que recebo sua mensagem a cerca do artigo de minha autoria publicado no site da BeefPoint.

    Primeiramente, como um profissional do setor produtivo e bem informado como o senhor, certamente a nossa produção vem aumentando ano a ano, apesar de alguns focos de doenças e outros contratempos inerentes aos sistemas de produção. Mas mesmo assim, isso demonstra o potencial do produtor brasileiro, tanto no mercado nacional quanto internacional.

    Pretendo enviar mais trabalhos para os sites especializados na cadeia da carne bovina, pois esse artigo saiu de um trabalho maior que fizemos aqui em Pelotas, onde inclusive também analisamos como o senhor mencionou, a preferência dos cortes (ordem de preferência, o que é diferente de ordem de compra, pois o consumidor pode preferir mas pelos mais diversos motivos pode não comprar) e o conhecimento de rastreabilidade por parte do consumidor (como o consumidor vê a rastreabilidade, é ou não um diferencial qualitativo na visão deste).

    Portanto, este trabalho procurou realmente mostrar que a cadeia das carnes (com todas as suas particularidades e realidades), precisa observar como esse mercado se move e o quê o consumidor final quer, pois em última instância é ele quem determina o fluxo de informações, capital e produto de uma cadeia.

    Sendo assim, é importante se passar essa idéia de gestão profissional de todos os elos da cadeia, sem descuidar, obviamente, que tanto o produtor quanto o frigorífico e a distribuição precisam ter lucro e focar a harmonia desta cadeia para que a economia brasileira cresça e possamos usufruir dos benefícios.

    Quanto a extensão deste trabalho a outras regiões e universidades, saiba que a vontade é grande mas os acertos são um pouco demorados, pois depende da boa vontade de muitas pessoas, bem como a disponibilidade de recursos para a realização dos trabalhos.

    Mas saiba que pretendo tocar esse projeto a frente, pois este trabalho aqui em Pelotas é inédito.

    Atenciosamente,

    Prof. Rafael Gastal Porto
    Eng. Agrônomo
    Especialista em Agronegócios
    DCSA-FAEM-UFPel
    Pelotas-RS