Por Luis Adriano Teixeira1
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o abate de fêmeas bovinas apresentou crescimento preocupante em 2005. Dos 28.021.425 milhões de bovinos abatidos no País, 10.220.522 milhões eram fêmeas, crescimento de 14,49% em comparação a 2004, quando foram abatidos 26.010.666 milhões de animais, dos quais 8.952.423 milhões eram fêmeas. Esses dado evidenciam uma realidade preocupante: muitos produtores estão desistindo da atividade ou reduzindo o tamanho de seu rebanho.
Os embargos comerciais à carne brasileira, a taxa de cambio desfavorável e a grande oferta de animais para abate no mercado são os principais indicadores negativos da atividade e que motivam produtores a deixar o negócio.
Mas esse não é o momento para precipitação. A realidade requer alternativas capazes de viabilizar a produção e retomar a rentabilidade até a virada do mercado. Por exemplo: quanto mais precoces e produtivos forem os novilhos destinados ao abate, maior será a receita da propriedade, principalmente se os criadores utilizarem regime exclusivo de pasto. Tais resultados, no entanto, somente podem ser obtidos a partir do investimento em melhoramento genético.
Outro indicador de que o pior já passou está na própria estrutura produtiva. A pecuária de corte é uma atividade de resultados em longo prazo: os bezerros a serem produzidos em 2007 (prenhez de 2006) serão os bois gordos de 2009, quando o mercado estará em plena recuperação. Em outras palavras: quem investir hoje estará bem posicionado na virada do cenário, principalmente – repito – se os animais possuírem as características produtivas desejadas e atenderem às exigências dos consumidores: carne macia e precoce. Mais uma vez, o investimento em genética é fundamental para viabilizar a produção no menor tempo possível e com qualidade superior.
Entre as melhores alternativas de melhoramento genético está o uso de reprodutores selecionados a pasto, prática já utilizada por grande parte dos criadores brasileiros. Recomendo a aquisição de touros com avaliação genética e certificação de produtividade. Para tanto, os pecuaristas devem procurar por empresas idôneas, com programas de avaliação genética e que confirmem a eficiência dos animais em condições de campo, ou seja, que o ambiente onde eles foram selecionados seja o mais semelhante ao da fazenda que terão de produzir.
Os animais também devem ser selecionados com base nas DEPs (Diferença Esperada na Progênie), índices que estimam o valor genético dos animais, como ganho de peso, musculosidade, fertilidade, precocidade e conformação de carcaças, entre outras características.
Outra garantia de produtividade em evidência no mercado é o CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção), emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Por sua rigidez técnica, esse selo de qualidade é emitido somente aos melhores reprodutores de cada safra – apenas os 30% melhores são certificados. Os touros que não alcançam os índices necessários para a certificação, mesmo sendo bons, são descartados do programa de avaliação e vão para o abate, garantindo que o cliente tenha acesso à melhor genética do produtor de touros com CEIP.
É preciso ter em mente que, mesmo nos momentos ruins, a genética é uma aliada importante do pecuarista e, muitas vezes, representa a diferença entre o lucro e o prejuízo. Reprodutores com avaliação genética positiva geram renda extra, mesmo em época de baixa nos preços. Está aí um investimento que, em nenhuma hipótese, deve ser descartado.
Um exemplo: Mesmo em tempos de arroba do boi gordo em torno de R$ 50,00, um touro avaliado com DEP para ganho de peso pós-desmama de 24,32 quilos (por exemplo) gera renda extra superior a R$ 6 mil ao pecuarista, quando comparado a um touro inferior. Explica-se: esse touro de qualidade produzirá bezerros mais pesados ao desmame, que irão para o abate em torno dos 24 meses – contra acima de 40 meses da média nacional – e, assim, gerarão mais receita aos criadores. Por tudo isso, genética não é custo; é investimento com retorno garantido.
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1Luis Adriano Teixeira, é médico veterinário e coordenador de pecuária da Agro-Pecuária CFM
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Muito pertinentes as palavras do Luiz Adriano.
O mercado de touros reprodutores é extremamente competitivo, embora pareça o contrário: todo macho não-castrado, é um reprodutor em potencial. E, pior, ele vai produzir bezerros. É só estimar: quantos machos nascem anualmente no Brasil e que, se não forem castrados, podem reproduzir? Agora, se os bezerros nascidos desses “touros” são bons ou não, é outro assunto.
Os criadores não podem se iludir pelo preço, mesmo em tempos de “vacas magras”, como agora. Mais do que nunca, é preciso investir em qualidade e produtividade, mesmo que custe um pouco mais do que o “touro de boiada”: o retorno é garantido pela certeza de melhor desempenho dos bezerros.
Touros selecionados a pasto, preferivelmente de alguma Brachiaria, é a chave do sucesso, pois haverá maior probabilidade de adaptação à maioria das regiões pecuárias do Brasil.
A busca de um plantel idôneo, também é muito importante para garantir a lucratividade na aquisição de reprodutores. Informar-se ou até mesmo visitar as Fazendas produtoras de genética precisa ser rotina para os criadores, para que possam avaliar se aquela genética serve para ele ou não. Importante olhar as vacas dessas fazendas, pois metade da produção de um touro em monta natural é de fêmeas.
Há, enfim, muitas precauções que o comprador deve tomar na hora de comprar reprodutores. Entretanto, a menos indicada seria a de comprar preço, pois, na maioria das vezes, “o barato sai caro”.
Eduardo Penteado Cardoso
Fazenda Mundo Novo
Uberaba/MG