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A gramática e a prática

“Na prática a teoria é outra”.

Essa afirmação é conhecida e constantemente utilizada em diversas situações para quem, de alguma forma, leva conhecimento ao campo.

Sem dúvida, não deixa de ser uma defesa ante qualquer mudança que esteja ocorrendo e que exige alguma atitude diferente.

Certa vez, em uma palestra de mercado de leite, ministrada pela Scot Consultoria, foram explanados os fatos ocorridos durante toda a década de 90 no mercado de leite, e que acabou culminando na crise do setor.

Os fatos, relatados de forma organizada, foram apresentados de maneira pedagógica, fazendo um apanhado dos dados sobre tudo que afligia a produção e chamava a atenção dos produtores naquele momento.

Ao final da apresentação, um senhor se levantou e disse que a apresentação era muito boa, mas não passava de teoria, pois na prática a verdade era outra.

Observe que, segundo o entendimento deste ouvinte, a realidade, depois de registrada no papel, virará teoria e perderá o valor.

Quando se fala de mercado então, não existe teoria, mas um relato dos fatos práticos que influem nos preços. Afirmações contrapondo teoria e prática, tornam-se ainda mais comuns quando o assunto abordado trata de tecnologias de produção.

Quem não sabe fazer, ensina

Existe outro tabu no mercado que diz que “quem não sabe fazer, ensina”, também usado para desmerecer os créditos de professores, técnicos e pesquisadores que aparecem com alguma inovação. Porém, o que estes profissionais fizeram? Elaboraram uma tese (teoria), estabeleceram um cronograma de experimentação (ensaios) e analisaram os resultados (medições e conclusões). Como em toda boa pesquisa, refizeram todo o procedimento várias vezes de acordo com o delineamento experimental até chegarem à certeza de que o procedimento dá certo, ou não.

A partir daí levam o conhecimento ao mercado via televisão, revistas, sites e palestras. Atraem produtores, fazem dias de campo e a técnica vira moda. Alguns passam a implementá-la sem conhecimento técnico e acabam obtendo resultados aquém do esperado.

Quem faz

Outros produtores, mesmo sendo assistidos pelas melhores autoridades na técnica de produção, implementam na propriedade e da mesma maneira não obtêm os resultados esperados, o que é comum de acontecer. Contra o primeiro caso, há argumentação, mas e no segundo? Apesar de tudo indicar que na prática a teoria é outra, a verdadeira razão do fracasso está nos indivíduos que irão implementar a técnica.

A biologia é a mesma dentro de uma universidade, centro de pesquisa ou numa propriedade. Tendo-se conhecimento dos dados ambientais, a teoria funcionará quando posta em prática. A única diferença evidente entre uma situação e outra são as pessoas que gerenciam e operam os processos. Enquanto no centro de pesquisa são os próprios pesquisadores ou orientados, extremamente atentos e comprometidos com os resultados, na propriedade são os funcionários que aplicarão a tecnologia.

Pessoas, produtos e lucros

Já ensinava Lee Iacoca que as empresas se resumem em três coisas: pessoas, produtos e lucros. Os produtos derivam dos processos e quem se relaciona com os processos são as pessoas. Os lucros dependem dos produtos, enquanto os processos dependem das pessoas.

Por isso alguns obtêm êxito no uso de uma técnica e outros não. Na prática a teoria não é outra, mas numa empresa o fator fundamental para o sucesso dos processos são as pessoas envolvidas. Enquanto na pesquisa, a tecnologia é o produto, na empresa, a tecnologia é apenas um processo que será gerenciado pelas pessoas envolvidas: o enfoque e a importância dado ao mesmo assunto nos dois casos são diferentes.

Geralmente, o fator de insucesso não é apenas culpa dos funcionários, mas também do administrador ou do próprio empresário, que não acredita na inovação que ele mesmo contratou.

É fato que existem algumas técnicas totalmente fora de propósito. Porém, geralmente não foram experimentadas, ou pior, tiveram os resultados da experimentação adulterados. Cabe ao produtor trabalhar com informações de confiança e com entidades idôneas para alterar ou implementar alguma tecnologia. A experimentação é extremamente importante à atividade, assim como também é a capacidade de observação do homem do campo. Um não vive sem outro, ou pelo menos não evolui.

Nem teoria e nem prática são suficientes, separadamente, para se avaliar qualquer que seja o conceito técnico ou administrativo. Ambos não consistem em conceitos antagônicos.

0 Comments

  1. Walter Magalhaes Junior disse:

    Caro Maurício,

    Infelizmente nós vivemos em um país onde o conhecimento, seja ele em que área for, é tratado com muito pouca responsabilidade. A regra, como todos nós sabemos, é o indivíduo subjugar o conhecimento acadêmico, acreditando, ingenuamente, que, depois, no trabalho, ele conseguirá suprir as possíveis deficiências do seu aprendizado.

    Não vamos nos aprofundar em aspectos conceituais, mas o que vemos, na realidade, salvo algumas nobres exceções, são universidades colocando no mercado de trabalho, anualmente, um número grande de profissionais de preparo totalmente duvidoso.

    Estes elementos, mal formados, acabam exercitando, o que eu chamo de potencialização da mediocridade. Medíocres que são e acreditando que, na média, todo mundo está no mesmo nível de conhecimento deles, acabam jogando com a mediocridade dos outros.

    Desta forma, acabam contribuindo com a validação desta inaceitável idéia de que, na prática a teoria é outra.

    Na mesma linha de ação devastadora surgem aqueles que, por falta de oportunidade ou mesmo por burrice, acabaram deixando de se aprimorar tecnicamente.

    Reacionários, acabam agindo como o “sábio” produtor do seu trabalho no setor leiteiro.

    As pessoas reagem, valorizando-se, contra tudo aquilo que não conseguem entender ou dominar. Na verdade, o que a experiência tem nos mostrado, ao longo de tantos anos de atividade na área de formação, é que, na prática, a teoria é sumamente importante.

    Não há como dissociá-las, mantendo em mente que a teoria sempre precederá a implementação de qualquer atividade, método de trabalho ou operacionalização.

    Saudações.