A prática da IA em tronco de contenção estimula a memória associativa do animal, que associa o tronco a dor e situações estressantes, induzindo no organismo do animal variações fisiológicas, como taquicardia e taquipinéia, desencadeadas pelo aumento de cortisol, catecolaminas e vasopressinas. Artigo de André A. Souza, Dr. Nutrição e Produção Animal e Dra. Tatiana Ichioka Ferreira
A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) tornou-se uma ferramenta reprodutiva amplamente utilizada na pecuária de corte, mas por outro lado trata-se de uma técnica que intensifica a interação humano – animal , uma vez que durante o processo de inseminação artificial há constante contato com os animais que dela participem, podendo gerar estresse agudo ou crônico. Esse estresse pode vir a causar mudanças nos sistemas endócrino, nervoso e imune com efeitos negativos sobre os índices reprodutivos, devido às alterações no comportamento de cio, entre outros fatores.
Os fatores exógenos que provocam o estresse, chamados de estressores, podem ser de natureza mecânica (traumatismos cirúrgicos ou não), física (calor, frio, som), química (drogas) ou biológica (agentes infecciosos, fatores psíquicos, condição nutricional, etc.). O calor ou frio provocam estresse climático que aciona mecanismos fisiológicos no organismo em resposta aos agentes térmicos, para promover sua adaptação (MACEDO, 2007).
A forma como um animal é manejado desde muito jovem tem um efeito muito significativo em sua resposta psicológica a futuros fatores estressantes, pois muitos estímulos e respostas possuem potencial para serem memorizados e no futuro influenciar nas funções fisiológicas e comportamentais dos bovinos. O manejo rude pode ser pior e mais estressante para animais com temperamento excitável e arredio, quando comparado com aqueles com temperamento mais calmo, mansos. Animais cruzados zebuínos, possuem níveis de cortisol mais elevados quando presos em um box de atordoamento, apresentam aumento da pressão arterial e depreção do sistema imunológico quando comparados com animais de origem taurina, submetidos a mesma situação de manejo.
Há várias justificativas para nos preocuparmos com esta questão e todas elas partem da pressuposição de que esta característica, “temperamento”, contribui para a otimização do sistema de produção e reprodução, pois medo e ansiedade são estados emocionais indesejáveis nos animais domésticos que resultam em estresse e conseqüente redução de seu bem-estar. Tornando-se, portanto, uma característica com valor econômico, pois o manejo com animais agressivos implica em maior estresse, maiores custos, maior tempo despendido no manejo dos animais, necessidade de melhor infra-estrutura de manejo e lotes heterogêneos
O manejo de bovinos em reprodução, principalmente durante o período que antecede o processo ovulatório deve ser o mais calmo possível, com tempo de curral curto, além de mão de obra treinada.
A prática da IA em tronco de contenção estimula a memória associativa do animal, que associa o tronco a dor e situações estressantes, induzindo no organismo do animal variações fisiológicas, como taquicardia e taquipinéia, desencadeadas pelo aumento de cortisol, catecolaminas e vasopressinas.
O efeito do estresse prolongado sobre a função reprodutiva são mediados por hormônios, como o hormônio liberador de corticotropina (CRH), hormônios adrenocorticotrófico (ACTH), cortisol e opióides endógenos, que por sua fez age na secreção de mediadores necessários para produção de esteróides sexuais e na dinâmica folicular normal, suprimindo a secreção de estradiol e impedndo a onda pré-ovulatória de LH. A supressão da secreção de estradiol indicou que níveis aumentados de cortisol podem inibir o desenvolvimento folicular antes do estágio de maturação, o que pode vir a gerar falha na liberação de LH, atrasar ou inibir a ovulação.
Fêmeas nelores manejadas mais agressivamente durante o protocolo de superovulação no qual receberam mais estímulos de voz dos peões durante o manejo no curral e que sofreram mais acidentes, apresentando níveis constantes de cortisol plasmático elevados, o que caracteriza um processo fisiológico de estresse crônico, possuíam taxa de viabilidade embrionária menor (MACEDO, 2007).
Artigo de André A. Souza, Dr. Nutrição e Produção Animal e Dra. Tatiana Ichioka Ferreira.
Referências bibliográficas:
FORDYCE, G.; GODDARD, M.E.; SEIFERT, G.W. The measurement of temperament in cattle and the effect of experience and genotype. Proc. of Aust. Soc. of Animal Prod., 14: p. 329 – 332, 1982.
GRANDIN, T. Animal handling. In: Price, E. O. The veterinary clinics of north america. Philadelphia , Farm Animal Behavior, v. 3, n. 2, p.323-338, 1993.
MACEDO, GG, Efeito do ambiente na produção de embriões de fêmeas Nelore, 2007. 83f. Dissertação de mestrado – Faculdade de medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2007.
1 Comment
Parabéns André por tão esclarecedora e oportuna matéria.
Há de se questionar quanto se ganha e quanto se perde em qualquer que seja o sistema de produção, principalmente naqueles onde interferências artificiais sobrepõem-se demasiadamente às leis da natureza.
Lembro também que na maioria dos casos em nosso país, as denominadas “estações de monta” coincidem com períodos de chuvas intensas, fazendo dos locais de manejo verdadeiros atoladouros, responsáveis por inúmeros acidentes, não só às matrizes, como principalmente às suas pequenas crias, quando estas seguem aos seus pés.
Em termos de rentabilidade, nada consegue superar um bom touro selecionado cobrindo à campo, não é mesmo ?!
Abraços,
Eduardo