Por Luiz Orione1
Para começarmos a debater sobra a real importância do marketing para o agronegócio, devemos primeiro ter uma clara definição do que vem a ser “marketing”. Segundo Philip Kotler, um dos homens mais importantes na área, em seu livro “Marketing para o século XXI”, ele define o marketing sendo “…a arte de descobrir necessidades, explorá-las e lucrar com elas”. Ao meu ver, esta é uma das definições que mais se ajusta ao agronegócio, pois lhe falta aprender a fazer os três passos ensinados por Kotler.
Vamos tomar por base uma simples história: Um homem acorda de manhã, se espreguiça, se levanta e calça suas sandálias H — — A — — N — S, escova os dentes com pasta dental C — — G — — E, passa desodorante R — X — — A e vai tomar o seu café da manhã. Nesse pequeno espaço de tempo, o homem fez 3 escolhas por 3 diferentes produtos e marcas. Garanto que, mesmo faltando letras nas palavras, o seu cérebro as montou sem dificuldade alguma. Esse é o valor de uma marca: Ser lembrada pelo consumidor.
Agora imagine a empregada deste mesmo homem indo comprar carne. Ela simplesmente chega no balcão do açougue e pede o de costume: “Me vê 3 Kg de carne pra bife”. O que esta boba historinha quer dizer é que o consumidor não tem opção de escolha quando o assunto é carne e com isso, o mercado está perdendo dinheiro, muito dinheiro. Temos de dar nome aos bois. Literalmente! Precisamos acabar com a tradição de que carne é carne, pronto. É tudo igual! Fazendo isso, o Brasil deixa de valorizar um dos produtos que mais gera receita para os nossos cofres e que move boa parte da nossa economia.
O país fechou o ano de 2004 com faturamento de US$ 2,45 bilhões em exportação de carne e durante a Sial, na França, o nosso Brazilian Beef foi degustado por paladares de todas as partes do mundo e só se ouvia elogios de que a nossa carne tem sabor e é macia. Lembre da lição de Kotler sobre marketing, onde devemos ter a arte de descobrir as necessidades, explorá-las e lucrar com elas. O primeiro passo nós já demos: Descobrimos, ou melhor, nos contaram na França que o consumidor de todo o mundo quer uma carne que seja gostosa e macia. Isso nós temos! Falta agora é explorar estas e outras qualidades e, no mínimo, lucrar na proporção das nossas exportações.
O Brasil deve aproveitar esta grande oportunidade, deixar de ser líder nas exportações de carne por um louco acaso e começar a mostrar para o mundo de que carne não é tudo igual, que o Brazilian Beef é a carne mais gostosa, tem maciez e é produzida basicamente a pasto. Ainda mais, precisamos dotar a nossa carne de valores emocionais, de valores brasileiros.
Temos uma imagem no mundo de que somos um povo alegre, festivo, que comemoramos cada dia do ano como se fosse carnaval. E todo esse sentimento, toda essa imagem, devem ser transmitida à nossa carne, para vendermos um produto com marca, com sentimentos e valor agregado, com a nossa cara! Uma carne que se destaca nas gôndolas dos supermercados de todo o mundo, que o consumidor, seja ele de qualquer país, tenha ela como ingrediente indispensável quando o assunto é festa, comemoração e uma opção natural de alimentação.
Pronto, o 2o passo de Kotler foi dado: exploramos as necessidades dos consumidores de carne oferecendo a eles os nossos diferenciais. Agora vamos para a parte mais prazerosa: Lucrar!
Se um produto tem uma marca forte, de valor reconhecido e que se destaca dos seus concorrentes em uma prateleira, este produto tem o poder de ser comercializado com uma margem de lucro maior, pois o consumidor está racional e principalmente emocionalmente disposto a pagar mais para tê-lo.
O Brasil, como sabemos, faturou US$ 2,45 bilhões com as exportações de carne. Agora imagine se esta mesma carne fosse a preferência mundial, de marca forte e valor reconhecido. Ela poderia ser comercializada, no mínimo, 20% mais cara. Só com esta margem extra de lucro ganharíamos US$ 490 milhões.
E o que falta à nossa carne para atingirmos este lucro? Marketing.
Temos que vender muito mais do que um simples produto que alimenta. Temos que vender o espírito do Brasil junto. A nossa carne tem que deixar de ser vista aqui e no exterior apenas como verde. Tem que ser vista como Verde-e-Amarela.
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1Luiz Orione é redator da agência NATIVA Propaganda e Marketing
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Caro Sr. Luiz Orione,
Achei esclarecedor e bem escrito o seu artigo. Porém, o Sr. falou de fazer marketing da carne para aumentar o faturamento em pelo menos US$490 milhões. Tudo bem para os frigoríficos exportadores. A quantidade destes dá para contar nos dedos da mão (talvez de uma só).
O que eu estou desesperadamente querendo saber é como podemos fazer o marketing do boi gordo. Na sua teoria marketing bem feito é extremamente viável, tanto que a última fase é o lucro. Essencial para nossa sobrevivência.
Então temos que achar uma maneira de fazer este marketing do boi gordo e aumentar o preço dele. Se conseguirmos isto, então, estaremos beneficiando milhares de produtores de gado de corte. O Sr. há de convir comigo que os benefícios para a comunidade seriam bem maiores.
Não discordo que o sucesso do marketing do boi gordo dependa do sucesso do marketing da carne. É bastante dependente. Porém, como obter sucesso com marketing de uma coisa que estamos produzindo cada vez melhor e consequentemente, em mais quantidade?????????
Eu atuo na parte técnica e tenho ficado cada vez mais com um enorme peso na consiência. Pois, quanto mais jovem, mais gordo e mais rápido engordo um boi mais eu contribuo para o aumento de oferta de gado gordo. E consequentemente, tchan tchan tchan tchan……….. o preço do boi gordo ou abaixa ou fica na mesma. E os custos sobem a galope de puro sangue inglês.
Enfim, acredito que a genealidade está em achar uma solução para este nó que está sendo a relação entre quem produz e quem beneficia e vende o nosso produto. De novo, acredito que a solução disso depende da genealidade de alguém. Torço tudo dia para que este alguém apareça e é por isso que não quiz perder a oportunidade de estimnular o Sr. a pensar no assunto.
Cordial abraço
Limão
PAREBÉNS pelo conteúdo do artigo! E vamos valorizar o que é nosso, pois só assim o BRASIL que amamos poderá crescer e ser reconhecido internacionalmente como o melhor produtor do carne do mundo. Vamos nessa Brasil!