José Geraldo de Andrade1, Daniela Meirelles Andrade2
No artigo de hoje abordaremos as demais características peculiares ao setor agrícola, não se esquecendo de que na última edição trabalhamos com a dependência do clima; o tempo de produção na agropecuária; a dependência de condições biológicas; a terra como participante da produção e a estacionalidade da produção.
Na sessão de hoje serão apresentadas as seguintes características:
- Trabalho disperso e ao ar livre: no setor agrícola, normalmente, não existe um fluxo contínuo de produção, como na indústria, e uma tarefa pode também não depender de outra. As atividades estão dispersas por toda a empresa, podendo ocorrer em locais distantes um do outro.

Não há relação, por exemplo, entre o trabalho executado por uma equipe que reforma as cercas da propriedade com outra de faz a “limpeza” das pastagens. Estas situações exigem do empresário rigorosas ações de planejamento e controle. Uma outra característica que se apresenta no setor rural é o trabalho ao ar livre. Positiva sob certos aspectos (sem existência de poluição, por exemplo), esta característica se reveste de aspectos negativos, como a sujeição ao frio, ao calor e às chuvas. O trabalho disperso e ao ar livre induz a uma menor produtividade do trabalhador rural.
- Incidência de riscos: toda e qualquer atividade econômica está sujeita a riscos. Mas, na agropecuária, os riscos assumem maiores proporções, pois as explorações podem ser afetadas por problemas causados pelo clima (seca, geada, granizo), pelo ataque de pragas e moléstias e pelas flutuações dos preços de seus produtos.
- Sistema de competição econômica: a agricultura está sujeita a um sistema de competição que tem as seguintes características:
a) existência de um grande número de produtores e consumidores, o que faz da agropecuária um mercado próximo a concorrência perfeita;
b) produtos que apresentam, normalmente, pouca diferenciação entre si;

c) a entrada e saída, no negócio, pouco altera a oferta total, pois por maior que seja a produção de uma empresa ela pouco significa na oferta global do produto.

A conseqüência da conjunção destes fatores (a, b, c) é que, isoladamente, o empresário rural não consegue controlar o preço de seus produtos, ditado pelo mercado, e que pode ser até inferior aos custos de produção.
- Produtos não uniformes: na agropecuária, ao contrário da indústria, há dificuldades em se obter produtos uniformes quanto à forma, tamanho e qualidade. Este fato é decorrente das condições biológicas e acarreta, para o empresário rural, custos adicionais com classificação e padronização, além de receitas mais baixas, devido ao menor valor dos produtos que apresentarem pior qualidade.
- Alto custo de saída e/ou entrada: no negócio agrícola algumas explorações exigem altos investimentos em benfeitorias e máquinas, e, conseqüentemente, condições adversas de preço e mercado devem ser suportadas a curto prazo, pois o prejuízo, ao abandonar a exploração, poderá ser maior. A cultura de café e a pecuária leiteira podem ser consideradas como explorações de alto custo de entrada, enquanto que, culturas anuais – milho, e soja por exemplo – são explorações de menor custo de entrada.

Analisando estas características em conjunto pode-se observar que o efeito das mesmas, na administração da empresa rural, é mais prejudicial do que benéfico. Isto indica que o empresário rural deve assumir ações administrativas eficazes, para atenuar e modificar os efeitos prejudiciais de cada característica. Indica também que as teorias da administração, ao serem transferidas ao setor rural, devem ser adaptadas às suas condições.
No próximo bloco estaremos conversando sobre as variáveis ambientais que interferem o setor. Esperamos a sua olhadinha…
Referência:
ANDRADE, J. G. Introdução a administração rural. Lavras: UFLA/FAEPE, 2000.
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1Engenheiro Agrônomo e Mestre em Economia Rural. Professor aposentado da Universidade Federal de Lavras, Professor da Universidade Estadual de Minas Gerais campus Lavras, Consultor, Produtor Rural, Secretário Municipal da Educação e Cultura de Lavras.
2Graduada em Administração com habilitação em empresas rurais e cooperativas pela Universidade Federal de Lavras, mestranda em administração pela Universidade Federal de Lavras, Produtora Rural e Consultora.
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Parabenizo não só o atigo como também a participação deste fabuloso profesor do qual tive o prazer de ser aluna na Pós Graduação em ADM. Rural em Lavras.