Além da folclórica discussão da MP no 232 na Câmara dos Deputados debate, que mereceu consideração especial ao longo da semana passada foi a tendência do aumento de preços ao atacado previsto para os próximos meses. O IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) de março, que ficou em 0,85%, corrobora com esta meta. O índice ficou mais próximo do teto das expectativas, que oscilavam de 0,65% até 0,90%. O IGP-M triplicou de fevereiro a março, de 0,30% a 0,85%.
Os preços agrícolas no atacado, que variaram 3,21%, foram os principais responsáveis por esta aceleração. No entanto, cabe salientar que há um forte componente sazonal no Índice de Preços por Atacado (IPA) Agrícola, principalmente no que diz respeito aos ovos e aos hortifrutigranjeiros.
Os ovos apresentaram alta de 25,11% e legumes e frutas apresentaram variação de 4,52%. Além disso, a sazonalidade, parte do efeito do choque de oferta das “commodities” agrícolas, gerada pela estiagem no Sul do país nos complexos soja, milho, trigo e arroz e pela alta das “commodities” agrícolas no mercado internacional (café, açúcar e suco de laranja), também contribuíram para este cenário.
Estima-se que a produção nacional de milho deverá situar-se em 39 milhões de toneladas, 7,5% inferior à registrada em 2004. Este desempenho, em seqüência ao declínio de 12,3%, observada na safra anterior, evidencia fatores como a elevação dos custos dos insumos agrícolas e a concorrência da sojicultura.
Cabe ressaltar que a alta dos preços no campo deverão afetar outros setores e os preços ao consumidor. A recente alta dos preços das “commodities” no mercado internacional é um dos principais responsáveis pela expectativa para a inflação em 2005. Para 2006, a projeção para o IPCA (Índices de Preços ao Consumidor Amplo) é de 5%.
Entretanto, o atual desempenho das exportações, a elevação dos preços das “commodities”, inclusive das agrícolas – diante da quebra da safra de soja no Brasil e de problemas de oferta de outros produtos – e as vendas de manufaturados garantirão um superávit comercial superior a US$ 30 bilhões, em 2005.
Com relação à pecuária, a Pesquisa Trimestral de Abate de Animais do IBGE indica que foram abatidos, no terceiro trimestre de 2004, 1,6 milhões de toneladas de bovinos, 1,8 milhão de tonelada de aves e 477,5 mil toneladas de suínos, representando crescimento de 29,6%, 13,3% e 1,9%, ante o mesmo trimestre de 2003. As exportações de bovinos, aves e suínos, no trimestre de outubro a dezembro tiveram os respectivos crescimentos: 42,5%, 8,4% e 31,6%, em comparação com o mesmo trimestre de 2003.
O desempenho desses setores, o primeiro a refletir a recuperação da demanda interna no segundo semestre de 2003, esteve associado a dois fatores principais: o aumento das concessões de crédito e a manutenção do dinamismo das exportações. Dessa forma, a média dos preços, em 2004, em relação à de 2003, aumentou 6,6%, segundo o IPCA.
A inflação situou-se em patamar elevado ao final de 2004 e no primeiro bimestre de 2005, sobretudo se considerada a evolução dos preços ao consumidor. Embora o comportamento desses índices tenha sido marcadamente influenciado por pressões sazonais, em especial sobre os preços dos alimentos “in natura”.
O aquecimento da economia no final do ano passado, após um ano de contínuo crescimento de renda, propiciou o ambiente favorável tanto para o repasse de custos aos preços finais, como para a recuperação de margens em segmentos específicos.
Os preços dos produtos agrícolas apresentaram ligeiro aumento, após terem registrado taxas negativas no trimestre anterior. A variação dos preços dos produtos agropecuários no atacado, que havia atingido -3,2%, no período de setembro a novembro de 2004, apresentou tendência ascendente no trimestre encerrado em fevereiro, ao atingir 1,4%.
Este movimento evidenciou a reversão na tendência dos preços dos alimentos “in natura”, que cresceram 31,4% comparativamente ao recuo de 18,1%, no trimestre encerrado em novembro.
O recrudescimento da inflação no final de 2004 e início deste ano resultou de pressões associadas a choques de oferta, em especial as altas nos preços dos produtos “in natura” e de insumos importantes na cadeia produtiva do setor primário e do aquecimento da demanda, decorrente da expansão da renda e do crédito.
De todas estas evidências extrai-se algumas conclusões: apesar das taxas reais de juros elevadas em 2004 e 2005, a atividade econômica cresceu fortemente e ainda mantém-se forte, devido ao crescimento das exportações.
A inflação tem-se mantido rígida devido a força da atividade econômica e às dúvidas quanto ao Banco Central em combater a inflação. Nem a demanda externa nem a política fiscal, estão colaborando na geração de um cenário mais favorável à queda da taxa de juros e da inflação.