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A influência dos teores de fibra da dieta

André Alves de Souza e Celso Boin

Silagens de milho são frequentemente utilizadas como única fonte de volumoso em dietas de bovinos confinados. Algumas características, como os níveis de fibra, são bastante variáveis e devem sempre ser avaliados na escolha do cultivar a ser utilizado.

Segundo Tjardes et al., (2002), altos níveis de FDN em silagens de milho diminuem a ingestão de matéria seca de novilhos com aproximadamente 200 kg de peso vivo. Vários estudos demonstraram que a diminuição nos níveis de ingestão de matéria seca ocorrerem devido ao enchimento ruminal (aspecto físico), sendo esse efeito mais intenso em animais com menor tamanho corporal e animais com maiores requerimentos nutricionais. No entanto, ainda não está claro se ocorre diminuição ou aumento dos efeitos do enchimento sobre a ingestão de matéria seca, com o desenvolvimento animal e o aumento do peso vivo.

Além dos aspectos inerentes à dieta, a ingestão de matéria seca nos bovinos também é influenciada pelo componente genético. Dados compilados pelo NRC (1996), mostram que animais da raça Holandesa consomem em média 8% mais matéria seca (MS)/Kg0,75 (peso metabólico) quando comparados a animais de raças de corte. Esses valores sugerem que o efeito de enchimento ruminal sobre a ingestão de matéria seca é menor para animais da raça Holandesa em relação às raças de corte.

Tjardes et al., (2002) avaliaram o efeito do nível de FDN da dieta, sobre a ingestão de matéria seca, digestibilidade e o desempenho de novilhos da raça Angus e Holandesa. Os autores também avaliaram o aumento do peso vivo sobre o efeito negativo do enchimento ruminal na ingestão de matéria seca. Foram avaliados 24 animais, sendo 12 da raça Holandesa (235 +- 15 kg) e 12 Angus (237 +- 13 kg), mantidos em baias individuais com temperatura e luminosidade controladas.

As dietas foram formuladas à base de silagens de milho com alto (50,8% dieta) ou baixo (33,8% da dieta) nível de FDN, sendo incluídos farelo de soja e suplementos minerais e vitamínicos somente para que fossem alcançadas as exigências desses nutrientes de acordo com o NRC (1996). As rações foram fornecidas “ad libitum”, com 10% de sobras que eram coletadas e avaliadas, bem como amostras da ração no momento do fornecimento.

Os ingredientes da dieta, sobras e fezes foram analisados para FDN, FDA, cinzas, glicose e amido. Foi utilizado FDN indigestível como marcador interno para cálculo da digestibilidade total.

Dietas com altos teores de FDN diminuíram, em média, 14,6% a ingestão de matéria seca (IMS) dos animais durante todo o período experimental. Houve uma correlação positiva entre a média de peso vivo e a ingestão de matéria seca, quando esta foi avaliada como porcentagem do peso vivo ou do peso metabólico.

Esses dados sugerem que com o aumento do peso vivo, a dieta com altos teores de FDN (AF) apresenta-se mais limitante em relação à ingestão de matéria seca, do que a dieta com baixos teores de FDN (BF). Além da diminuição na ingestão, a dieta AF, também levou a queda de 13,8%, em média, no desempenho (tabela 1). Os animais da raça Holandesa apresentaram maior consumo (14,4%), e um desempenho 14,3% superior aos Angus (tabela 1).

Tabela 1. Ingestão de matéria seca, ganho médio diário, e concentração de energia em silagens com altos e baixos teores de FDN.

Dados semelhantes são encontrados na literatura em relação às diferenças de ingestão de matéria seca para essas raças, sendo conflitantes quando em relação ao desempenho. Não houve interação raça, teor de FDN e tempo, nem diferença na IMS entre raças, para a diferença de consumo entre as duas dietas. Esses valores sugerem não haver diferença no efeito das dietas para as diferentes raças.

A dieta AF levou à diminuição na digestibilidade da matéria seca e energia bruta no trato total de 4,6 e 4,5%, respectivamente. O fato dos animais que recebiam a dieta AF apresentar menor ingestão e menor digestibilidade de energia bruta, provocou uma diminuição de 20% na ingestão de energia digestível.

Tanto no tratamento AF quanto no BF, houve maior digestibilidade no trato total de FDN e FDA para os animais da raça Angus. Essa queda na digestibilidade da fibra para os animais da raça Holandesa, pode ser em função da maior quantidade de amido fermentável no rúmen, levando à queda do pH ruminal e consequente diminuição na digestibilidade da fibra.

Dietas BF apresentam maior digestibilidade da matéria seca no trato total, porém quando ocorre maior ingestão de BF em relação à AF, a digestibilidade da matéria seca no trato total da dieta BF é diminuída. Essa redução provavelmente ocorre devido a um aumento na taxa de passagem da dieta LF, com o aumento da ingestão.

As diferenças observadas em relação aos diferentes grupos genéticos, são provavelmente devido aos diferentes tempos de retenção ruminal da digesta. Essa diferença está relacionada principalmente ao volume do trato digestivo em relação ao peso vivo.

Silagens de milho com alto teores de FDN podem limitar a ingestão de matéria seca de bovinos confinados, sendo que esse efeito é intensificado com o aumento do peso vivo. Menores ingestões vão proporcionar menor desempenho e eficiência alimentar. Por outro lado, silagens de milho com baixos teores de FDN, proporcionam dietas com menores quantidades de FDN, permitindo maiores ingestões e conseqüentemente melhores desempenhos para animais confinados.

Referências bibliográficas:

TJARDES, K.E.; BUSKIRK, D.D.; ALLEN, M.S.; TEMPELMAN, R.J.; BOURQUIN, L.D.; RUST, S.R. Neutral detergent fiber concentration in corn silage influences dry matter intake, diet digestibility, and performance of Angus and holstein steers. J. Anim. Sci., v.80, p. 841-846, 2002.

NRC – Nutrient requirements of beef cattle, 7 ed., National Academy Press, Washington, 1996.

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