Na semana passada, mais exatamente no dia 25 de julho corrente, acordei e me dirigi como de costume à porta para buscar e ler os jornais do dia. Para meu espanto, ao ler a matéria do jornal “O Globo” intitulada “Ministro culpa área econômica por crise agrícola”, deparei-me com declarações que há muito tempo vinha referindo em meus artigos.
Pensei então, caros leitores: “não estou mais solitário”. Finalmente minhas idéias e avaliações acerca da atual conjuntura econômica do agronegócio brasileiro ecoaram no fim do túnel em que me encontrava a gritar sozinho.
Pasmem, o próprio Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em entrevista, afirmou que o problema da atual e maior crise já enfrentada pela agricultura nacional se deve à “tempestividade da equipe econômica do Governo Lula”. Acrescentou, ainda, que, “houve demora na tomada de decisões pela área econômica”.
Não poderia ser diferente, vindo de um Ministro tão sensato, preparado e equilibrado como o da Agricultura. Levou também em consideração outros fatores além da retardada equipe econômica do Governo Lula, como a desvalorização do dólar frente ao Real, a queda do preço das commodities no mercado internacional, a seca que atingiu ferozmente a Região Sul do País e o crescente aumento do custo de produção agrícola.
O prejuízo da quebra da safra 2004/2005 chegará, de acordo com estimativas oficiais, a dez bilhões de reais em 2005. Espera-se colher 125 milhões de toneladas ante a previsão de 132 milhões previstas para esta safra. Perde-se, portanto, sete milhões de toneladas, que representam um retrocesso de crescimento, ressalto, de crescimento verificado ao longo de aproximadamente quatro safras.
Passado o espanto de ter visto estampado no jornal as palavras de tão respeitada autoridade refletindo o que sempre disse, passei do júbilo à frustração. Incansável e persistente na busca de exteriorizar os problemas que afligem o agronegócio brasileiro, uma vez mais sofro uma queda empregada pela notável assessoria de comunicação social do Ministério da Agricultura.
Em nota oficial publicada no dia seguinte, a referida assessoria esclareceu que o texto da matéria teria “traduzido o espírito da entrevista, durante a qual o Ministro afirmou que se o governo tivesse tomado medidas tempestivas a crise seria minimizada, mas não evitada”.
Invejo e parabenizo o Ministro Roberto Rodrigues. Poucos teriam a competência, a capacidade e, principalmente, paciência em lidar com uma crise como essa – vítima da lentidão da tomada de decisões do Governo Lula – e ainda ter que justificar declarações da maior procedência, coerência e veracidade.
Falta à equipe econômica entender, por exemplo, que na área de defesa agropecuária a velocidade da solução é fundamental. O vírus da aftosa, o mal da “vaca louca”, a doença de NewCastle, a gripe aviária, e outras tantas doenças não aguardam a canetada do Ministro da Fazenda ou do Secretário do Tesouro, nem mesmo a inquestionável benevolência do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fazer uma reunião de Ministros, se é que faz, para se instalarem no Brasil e causarem um prejuízo bem superior a dez bilhões de dólares
Ao fazer essa opção, entendi que a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura teve em mente resguardar a imagem do Ministério e do seu expoente maior buscando, certamente, desvirtuar as palavras do Ministro, para uma locução “politicamente correta”.
Entretanto, a assessoria pecou quando ignorou dois princípios que julgo fundamentais, seja na vida pública ou privada: i) que o Ministro da Agricultura não precisa ser politicamente correto, precisa falar a verdade, o que fez; e ii) mais importante, uma assessoria de um Ministro de Estado deve passar credibilidade e não realizar manobras para desvirtuar palavras já proferidas e que refletem com fidedignidade a realidade do setor que representa.
Um Ministério e um Governo que não são capazes de celebrar vitórias reais, concretas e legítimas juntos, certamente não conseguirão sofrer juntos um momento de dificuldade como o verificado atualmente. O Ministério da Fazenda continua alheio e, sobretudo, incapaz de reconhecer a importância do agronegócio para a economia nacional como um todo.
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São artigos como esse que contribuem para um passinho a frente nas questões políticas que envolvem a producao, e não ficar… “batemos recordes…” “outro recorde”, etc.
Existe urgência em varias questões e estamos dispostos a discutir e buscar soluções rápidas.
Valeu autor e também senhor ministro.
Eduardo Souza