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A maldição do agronegócio

Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo

Pedimos para Deus ajudar o Lula a acabar com as maldições dos transgênicos, do latifúndio, do agronegócio e do trabalho escravo“. Dom Tomás Balduíno (Folha de São Paulo, 22/11/03).

Ao pedir benção divina para acabar com o agronegócio no Brasil, o bispo Dom Tomás Balduíno assinou o atestado de falta de conhecimento, preconceitos e extrema perseguição que parte dos “intelectuais” do Brasil exercem sobre os produtores rurais. Essa “benção” foi convocada num encontro no final de novembro que reuniu o presidente da república, vários ministros de Estado, entidades sociais e o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).

Dom Tomás Balduíno, hoje presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), reúne invejável currículo nos meios sociais. Tem mestrado em Filosofia e Teologia na França e dedicou grande parte da sua vida às causas sociais indígenas e de pequenos produtores e trabalhadores rurais.

É conhecido nacional e internacionalmente pela luta a favor dos trabalhadores do campo. Há quem diga que dom Tomás simboliza a educação popular.

O bispo, gabaritado, possui elevada estima entre as lideranças presentes. Lideranças como João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, que “deu” um prazo de seis meses para Lula cumprir parte das metas. Segundo ele não existirá trégua: a luta continuará.

Ou outros como João Pedro Stédile, que ofereceu seus “soldados” para a luta do governo contra os ruralistas e os banqueiros. “E para as batalhas que virão contra os latifundiários, a bancada ruralista e os banqueiros, não tem problema. Nós seremos soldados nessa batalha para defender o governo.” (Folha de São Paulo, 22/11/03).

Entendendo os anticristos e a maldição

Como as “autoridades” religiosas e sociais do país elegeram o mal que deve ser combatido, vale a pena entendê-lo para combatê-lo. Portanto, vamos conhecer alguns números sobre a maldição do agronegócio e os anticristos produtores e empresários rurais, o Ministro da Agricultura e as empresas que atuam no ramo.

O agronegócio brasileiro bate recorde após recorde, seja em produtividade, tecnologia, exportações ou qualidade dos produtos ofertados. O fato é que o setor primário passa por período ininterrupto de desenvolvimento, progresso e profissionalismo.

A prova deste avanço é confirmada pelos números: segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) o agronegócio representou 27% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2001. Em 2002, o PIB brasileiro aumentou 1,5%, enquanto o do agronegócio aumentou 8,3%. O agronegócio, em função disso, passou a responder por 29% do PIB nacional.

As estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto no início do ano eram de 2,8%; passaram para 1,1% e já se fala em apenas 0,8%. O IPEA (Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada) chegou a estimar em 0,5% o crescimento do PIB para 2003.

Analisando o mesmo cenário, a CNA e o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq-USP), estimam crescimento de 5,3% para o PIB do agronegócio em 2003. Nestas condições, o agronegócio passaria a representar mais de 30% do PIB brasileiro.

Além da importância no PIB, o agronegócio gerou um superávit de US$20,35 bilhões em sua balança comercial em 2002. Em 2003 o saldo na balança comercial está estimado em US$ 25 bilhões, valor 22,9% superior ao saldo de 2002.

O crescimento do saldo do agronegócio é baseado no fato do mercado internacional estar comprador. Existe boa demanda para tudo, principalmente para carnes e para a soja. Já existem estimativas de novo crescimento na balança comercial do agronegócio para 2004. Por enquanto acredita-se em crescimento de 4%, superando os ganhos de 2003.

Esses resultados são fruto do esforço da agropecuária empresarial, que investe, gera emprego e maximiza o aproveitamento dos tão abençoados recursos naturais: terra, água, luminosidade e temperatura.

O empresariado rural brasileiro aceitou o desafio da convocação mundial para atender a demanda por alimentos. Demanda que cresce com o aumento da população; cresce com a recuperação do Leste Europeu e, especialmente dos países asiáticos, alguns entrando no mercado internacional, como a China, e outros se recuperando das grandes crises econômicas, como os Tigres Asiáticos.

A tendência de profissionalização da produção agropecuária é irreversível.

E a função social da agricultura?

Quando estas tendências de profissionalização são colocadas em pauta, surge a preocupação com relação aos pequenos agricultores. Qual será o espaço para a produção em pequena escala?

Segundo estimativas baseadas em números do IBGE, atualmente existem cerca de 4,9 milhões de proprietários de terra no Brasil. Existem projeções indicando que em 30 anos serão de 600 mil a um milhão de proprietários, ou seja, de 12% a 20% do existente no presente momento.

O pequeno produtor, que não conseguir se adaptar ao mercado, se unir em associações ou cooperativas e agregar valor a seus produtos, acabará abandonando a atividade por ser inviável. Portanto, o desemprego preocupa. Por isso é razoável que se busque informações para entender a distribuição da força de trabalho na economia e na agropecuária, prever o comportamento deste impacto e criar ações de absorção.

Observe, na tabela 1, como se distribui a população economicamente ativa no Brasil.


Só a agropecuária (não todo o agronegócio) absorve 20,6% da população economicamente ativa do Brasil, um contingente de 15,3 milhões de pessoas. Considerando a estimativa de que existam 4,9 milhões de proprietários de terra, pode-se concluir que, em média, cada propriedade brasileira ocupa 3 pessoas da força de trabalho do país.

Isoladamente, é a atividade que mais ocupa gente no Brasil. Porém, além dos números e da quantidade, é preciso avaliar a qualidade destes postos de ocupação.

Na tabela 2, o número de pessoas ocupadas na agropecuária está estratificado de acordo com as condições em que atuam no campo.


Os números, ilustrados na tabela 2, mostram que apenas 490 mil dos que atuam no campo são empregadores rurais, ou seja, além de trabalharem empregam mais gente na atividade. O número de empregados rurais, que trabalham para terceiros, é de 4,2 milhões de pessoas, o que gera uma média de 9 empregos para cada um dos 490 mil que empregam na agropecuária. Evidente que se trata de uma estimativa visando estabelecer um índice para que seja possível conhecer a agropecuária.

A força de trabalho familiar empregada no próprio negócio é de 4,1 milhões de pessoas.

Porém, um número alarmante: 43% do total das pessoas ocupadas na atividade não possuem renda ou produzem apenas para subsistência. Esse contingente representa um “rombo invisível” na economia, pois além de não serem visíveis aos olhos da sociedade urbana – e trata-se nada menos de 6,6 milhões de brasileiros – despejam pouco ou nada de renda no comércio, renda que contribuiria com o giro e crescimento da economia.

Pelos conceitos da escala de Maslow, estes brasileiros trabalham para atender o nível básico da pirâmide das necessidades humanas, ou seja, apenas sobrevivem e não vivem. Maslow, psicólogo comportamental que foi um dos grandes pesquisadores do comportamento humano, define um conjunto de cinco níveis de necessidades.

– necessidades fisiológicas (básicas), tais como a alimentação, a sede, o sexo e demais necessidades biológicas;
– necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de estar seguro dentro de uma casa, às formas mais elaboradas de segurança, como emprego, religião e outras;
– necessidades sociais, que consistem em convívio, afeição e sentimentos de inclusão, tais como o afeto e o carinho dos outros;
– necessidades de auto-estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à própria capacidade de adequação às funções que se desempenha;
– necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser.


Por outro lado, os postos de trabalho satisfatórios, em termos de qualidade de vida, absorvidos pelo campo, somam 8,7 milhões. Estes postos são diretamente ligados à agropecuária empresarial, que objetiva resultados, excedente, que circula riqueza, gera empregos, enfim, que almeja o lucro, condenado por grande parte dos “intelectuais” dos movimentos sociais.

O exemplo da reforma agrária e os resultados da maldição

Por incrível que pareça, os defensores sociais atacam e perseguem um modelo que gera qualidade de vida através da criação de novos postos de trabalho, e defendem um modelo que perpetua e esconde a pobreza, tirando-a da vista dos olhos da sociedade e colocando-a no campo para continuarem miseráveis, distantes de escolas, de assistência e de convívio social.

Intencionados ou não, a verdade é que a bandeira que defendem serve apenas para mudar as favelas de lugar, escondendo-as da vista da população. Uns levantam esta bandeira por projeção política; outros por ignorância, ou por preguiça mental. Ainda acreditam num modelo ultrapassado, que onde quer que já tenha sido implementado, acabou por perpetuar a pobreza e fortalecer ditaduras.

Para exemplificar, observe os resultados da reforma agrária, cujo objetivo é o símbolo da bandeira destes “intelectuais”. Inicialmente, segundo números do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), foram assentadas cerca de 635 mil famílias durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Estas famílias foram assentadas em cerca de 22 milhões de hectares, segundo estimativas da Scot Consultoria, com base nos 20 milhões de hectares utilizados até 2001, segundo o Incra.

Em valores atualizados, o custo da reforma agrária seria de R$44,50 bilhões, ou cerca de R$70 mil por família assentada, dos quais metade foi direcionada para o assentamento da família e a outra metade foi para créditos e auxílio aos assentados.

Estes recursos teriam sido válidos se trouxessem resultados positivos, se fossem eficazes na solução dos principais problemas dos atendidos. No entanto, segundo números da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), divulgados pelo engenheiro agrônomo Luciano Almeida de Carvalho, cerca de 61% dos assentados vivem em casa de taipa e madeira; 78% não possuem energia elétrica; 86% não possuem água encanada e 58% não contam com assistência médica.

Nelson Barreto, jornalista que pesquisou as situações dos assentados em vários módulos de reforma agrária em todo país para tese acadêmica na Universidade de Brasília (UnB), confirma a precariedade das condições dos brasileiros assentados. Segundo ele, apenas 6,5% dos assentados possuem renda acima de R$250,00 (pouco mais de 1 salário mínimo) mensais e 80% ainda dependem de ajuda do Governo para sobreviver.

Por outro lado, enquanto todos os setores da economia estão despedindo, em 2003 a agropecuária deve abrir cerca de 600 mil novos postos de trabalho, um aumento de 17,92% no total de empregos.

Ainda, segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para cada emprego criado na agropecuária, praticamente outro emprego é criado de forma indireta e por efeito renda (dinheiro despejado na economia) na cidade aumentando a eficácia social do agronegócio.

Tudo relacionado com o crescimento dos últimos anos e, especialmente, com as perspectivas que os resultados de 2003 continuem sendo positivos. É a prática provando a teoria de que os bons resultados se revertem em investimentos. Investimentos se transformam em emprego.

Entre emprego, com todos os benefícios da legislação, ou obter uma renda menor assumindo os riscos da agricultura, o que será que os necessitados prefeririam?

A benção e o perdão

De um lado, os empresários rurais, as agroindústrias, os técnicos, pesquisadores, professores, lideranças e trabalhadores constroem um país, investem em tecnologia, enfrentam adversidades climáticas, operacionais e econômicas com coragem e perseverança.

À frente do agronegócio, o Ministro Roberto Rodrigues, que montou sua equipe com técnicos, empresários e analistas experientes no agronegócio. Essa equipe tem sido eficaz na defesa dos interesses dos brasileiros que labutam no meio rural e que geram recursos, produtos destinados às inúmeras cadeias agroindustriais. Discute com conhecimento de causa a reestruturação do cooperativismo, a polêmica dos transgênicos, exportações, modernização do setor e outras questões com rigor científico e informativo.

Estes sim merecem a Benção Divina. A Benção por construir, por acreditar, por gerar alimentos e empregos, por fazer sua parte e trazer benefícios ao país. Produtores, verdadeiros guerreiros, que ainda homenageiam os Santos de Deus ao batizarem suas fazendas.

Por outro lado, que Deus perdoe aqueles que usam Seu nome para tentar impedir o progresso, o bem estar social e perseguir os que eles arbitrariamente elegeram como o mal.

Que Deus perdoe aqueles que incentivam a violência, a destruição e a perseguição para atingirem seus objetivos. Que perdoe os que deveriam levar mensagens de paz, mas preferem externar seus preconceitos, suas crenças invertidas, julgar e, para isso, pedem a Sua ajuda.

Os que deveriam levar a mensagem Divina e passam a invocar levantes contra terceiros estão repetindo erros de seus antepassados. A humanidade já assistiu o sangrento massacre das cruzadas, a intolerância das diversas ordens de cavaleiros que levantaram suas espadas contra outros povos, a implacável perseguição dos tribunais de inquisição e a omissão quando Hitler perseguiu povos inteiros.

Violência e enormes injustiças já foram praticadas sob a liderança de homens sem escrúpulos, sem consciência e sem decência, que usaram o nome de Deus para praticar suas insanidades.

Esses inescrupulosos vêm, ao longo da história, tentando macular a infinita bondade Divina.

Que Deus os perdoe a todos, porque a história já os condenou!

*Artigo de Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo

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