A produção de carne bovina no Brasil aumentou 25,6% na última década, alcançando 7,6 milhões de toneladas/ano. Nesse mesmo período, o volume de animais levados ao abate cresceu 24% e o percentual do rebanho que vai para o abate saltou de 21% para 24%. Na contramão desses indicadores, o rebanho bovino, tido como o maior do mundo, evoluiu menos de 10% desde 1994.
O que explica esse tremendo avanço da produtividade da pecuária nacional nos últimos dez anos? Seria o melhoramento genético, a profissionalização da atividade, o melhor controle sanitário, com a redução de incidência da febre aftosa, o avanço rumo ao Centro-Oeste?
Certamente todos os itens mencionados têm sua importância, mas nenhum deles representa fielmente a realidade dos fatos. O que alguns chamam, com acerto, de revolução vermelha – entendida como o expressivo aumento da eficiência da produção de carne em detrimento do baixo aumento do rebanho – é conseqüência direta de uma nova revolução verde. Explico: são os ganhos na alimentação dos bovinos os principais responsáveis por esses notáveis avanços na pecuária nacional.
Genética é importante, gestão e manejo são necessários, sanidade é fundamental. Mas é pela boca que o desempenho produtivo se expressa com total transparência. A tecnologia disponível no País é uma das mais avançadas do mundo nessa área. Nossos pesquisadores e técnicos alcançaram resultados inimagináveis há 15 ou 20 anos. Os nutrientes específicos para os períodos de seca, que ajudam os animais a ganhar peso em períodos em que antes a regra era perder o mínimo possível; a reforma das pastagens, com a utilização de melhores capins e pastejo rotacionado; a mineralização direcionada para as mais diferentes idades do animal, objetivando o seu desmame mais pesado, ganho de peso mais rápido e redução no tempo de abate; a intensificação do uso de fosfato bicálcico, possível devido ao aumento da oferta interna – dados do Sindirações, entidade que reúne os fabricantes de alimentos balanceados, demonstra que a produção dessa matéria-prima saltou 77% nos últimos seis anos.
Esses são os verdadeiros heróis dessa revolução em marcha. Trabalhando em conjunto, esses fatores ajudaram a reduzir em mais de um ano a idade média de abate do rebanho nacional – está em torno de 36 meses, contra 48 meses há uma década – e trazem à nossa realidade o novilho precoce a pasto, animal pronto para o frigorífico com apenas dois anos de idade.
E há espaço para evoluir muito mais. Afinal, apenas 60 milhões de bovinos, de um universo superior a 170 milhões de cabeças, têm acesso hoje à mineralização – os demais, acreditem, ainda recebem sal branco no cocho. Considerando que devem ser abatidos este ano em torno de 40 milhões de cabeças, não causa surpresa que apenas 10% desse montante sejam considerados novilhos precoces. Afirmo com convicção: os pecuaristas que descuidam da alimentação do seu plantel não conseguem preparar seus animais para o abate com menos de quatro anos de idade. Usem a genética que usar! Afinal, quanto melhor a genética, maior a exigência dos animais.
O correto manejo nutricional potencializa a boa genética, o adequado manejo, o controle sanitário. Cerca de 70% dos pastos brasileiros estão degradados. Some-se essa estatística alarmante o fato de que apenas 1/3 do rebanho bovino do Brasil tem acesso à alimentação de média ou alta qualidade e vislumbramos não uma realidade difícil, mas um futuro altamente promissor, de oportunidades para a pecuária ampliar ainda mais seus indicadores econômicos e abrir novos espaços no mercado internacional, que já é atraído pela produção de carne a pasto. É a nova revolução verde abrindo espaço para a revolução vermelha.