Planejamento alimentar. 1. Levantamento de índices zootécnicos
5 de maio de 2004
Mercosul terá cota de 100 mil toneladas para UE
7 de maio de 2004

A pecuária orgânica certificada e um Pantanal sustentável

Por Bernadete Lange1

É inegável que no Pantanal brasileiro a pecuária é a maior e mais importante atividade econômica. Praticada desde a ocupação do território pantaneiro pelos primeiros colonizadores, ela se estende desde o planalto das bordas da bacia do Alto Paraguai, até a planície alagada. Com um rebanho estimado em oito milhões de cabeças, a pecuária estabelece o padrão de ocupação do espaço geográfico e determina a cultura pantaneira, além de muitos dos impactos ambientais na região. Por este motivo, o WWF-Brasil, por meio do Programa Pantanal para Sempre, se preocupa e se propõe a trabalhar com o tema.

Embora algumas pessoas na região – em especial as que desconhecem a história, papéis e intenções das organizações não-governamentais – propaguem que os ambientalistas são contrários ao progresso, a verdade é o contrário disto. Trabalhamos pelo desenvolvimento sustentável do Pantanal e estamos certos de que não há como pensar em conciliar a conservação dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico sem considerar a pecuária.

Por esta razão, a partir de parcerias com entidades respeitáveis, tais como a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) e a Embrapa-Pantanal, apostamos na pesquisa da aplicação da pecuária orgânica certificada como uma alternativa para atingir este objetivo. Certificada porque não basta apenas a qualificação de orgânica. É necessário garantir que os padrões de produção estão de acordo com normas nacionais e internacionais estabelecidas e que implicam na conservação do ambiente e também no bem-estar dos animais durante o processo de criação. Essencialmente, porque esta é uma questão de mercado. É o que exigem os consumidores no mercado externo e que demandarão, em um futuro não muito distante, os consumidores brasileiros.

No Brasil e no mundo a pecuária orgânica hoje é voltada essencialmente para o benefício do consumidor. Para que o WWF-Brasil se envolvesse com a questão, foi necessário um plus, que é a identificação das condições específicas de aplicação da pecuária orgânica certificada no Pantanal. É necessário estabelecer em quais condições e em que escala é viável aplicar a atividade para mitigar os impactos causados pela criação de gado na ecorregião. Os estudos até agora empreendidos mostram como se dá a redução de danos em uma unidade produtiva. Mas e no momento em que se somarem diversas fazendas, a pecuária orgânica certificada será viável ambiental e economicamente?

Para responder a questões como esta é que estamos, juntamente com nossos parceiros, empreendendo pesquisas. Para o estabelecimento de bases científicas de atuação. Para uma ação responsável. O primeiro passo foi dado em setembro de 2003, quando começamos uma pesquisa juntamente com a ABPO para identificar a matriz produtiva da pecuária orgânica certificada no Pantanal. A intenção é saber onde – na planície ou no peripantanal – a criação de gado orgânico certificado e em qual estágio – vitelo, vitelão – o abate são melhores e mais lucrativos para os produtores pantaneiros.

Um segundo passo – que consiste em esclarecimento, envolvimento e incentivo – começa a ser dado agora, juntamente com a ABPO e a partir de consultoria por empresa certificada pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD). Trata-se da capacitação em pecuária orgânica certificada de integrantes de instituições-chave na cadeia da carne no Pantanal e de lideranças, com apoio da Federação de Agricultura do Mato Grosso do Sul (FAMASUL), em Campo Grande.

Com estas ações, o Programa Pantanal para Sempre do WWF-Brasil não pretende se estabelecer como entidade especialista em pecuária orgânica certificada, mas como principal agente de articulação e promoção do desenvolvimento sustentável. Trabalhar por um modo de produção do gado que garanta um Pantanal sustentável, um Pantanal para Sempre.

___________________________________
1Bernadete Lange é bióloga, Mestre em Zoologia, é coordenadora do Programa Pantanal para Sempre do WWF-Brasil

0 Comments

  1. AFONSO FRANCISCO DE ASSIS FERREIRA disse:

    Prezada Senhora Bernardete,

    É com alegria que vejo intenções como a do WWF. Trabalho na RPPN SESC Pantanal já há seis anos, e vejo com certa tristeza a ausência do Estado de Mato Grosso nestes programas. Mato Grosso também tem uma porção significativa do pantanal, embora nunca tenha sido contemplado com programas específicos para o pantanal, por ser considerado como área integrante da amazônia legal. Vizinho à RPPN do SESC, há comunidades tradicionais que praticam ainda a pecuária extensiva/de subsistência, com baixíssimos índices zootécnicos.

    Haveria alguma possibilidade de cogitar-se a inclusão do pantanal do Mato Grosso neste importante programa? Creio que o pantanal deveria ser tratado tal como se configura na essência de sua natureza: integrado, indivisível, pleno. A grande maioria dos rios que drenam o pantanal nascem no Estado de MT… Isto já seria motivo suficiente para o desenvolvimento de políticas voltadas para a preservação deste ecossistema único.

    Paralelamente, MT se consolida como grande produtor de carne e grãos. Por tudo isso, sugiro ao WWF a apresentação de propostas que incluam o Estado de MT no programa “Vitelo Orgânico do Pantanal”.

    Cordiais Saudações,