Terras de Kubera oferta Nelore campeão durante a Expozebu
14 de abril de 2005
O marketing institucional e a atratividade setorial
18 de abril de 2005

A produção de carne no Brasil: de onde surgem os dados?

Por Paula Marques Meyer1

Muitos se perguntam de onde surgem os dados da produção brasileira de carne e como eles são obtidos. Para elucidar, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é o órgão coordenador do Sistema Estatístico Nacional e, conseqüentemente, é responsável pelos dados oficiais da agropecuária brasileira. O grande equívoco é que boa parte da população apenas associa a imagem do IBGE ao “instituto que realiza o Censo”. É verdade… ele é o instituto responsável pelos Censos Demográfico e Agropecuário. Mas é bem mais que isso.

Como curiosidade, o Brasil atualmente conta com 5.560 municípios, sendo que 645 estão no estado de SP. Para dar conta de coletar todos os dados do território brasileiro, o IBGE possui 515 agências espalhadas pelo país. Somente o estado de São Paulo conta com 100 agências coletoras, o que representa uma agência para cada 6,5 municípios. Estas agências são as responsáveis pela coleta de todos os dados, ou seja, das pesquisas econômicas, sociais e agropecuárias, além dos Censos.

Cada estado brasileiro conta com uma Supervisão de Estatísticas Agropecuárias (SEPAGRO), que é responsável por 9 pesquisas na área. Dentre estas, duas são diretamente relacionadas à Produção de Carne, que é o nosso assunto em questão.

A primeira é a “Pesquisa da Pecuária Municipal” (PPM), que levanta, entre outras variáveis, o número de bovinos no ano em cada município brasileiro. É uma pesquisa realizada anualmente, de cunho subjetivo, uma vez que os produtores não são visitados de porta em porta, como é realizado no Censo Agropecuário. Desse modo, os técnicos das agências do IBGE são os responsáveis por fazer e manter contatos com produtores, técnicos, cooperativas, indústrias, entre outros, com a finalidade de obter os dados. Nesta pesquisa, não há especificação sobre qual o destino dos bovinos e, sim, o total de cabeças no último dia de dezembro do ano em questão. Além do número de bovinos, são coletados também os números de cabeças de bubalinos, suínos, aves para corte e postura, eqüinos, caprinos, ovinos, entre outras espécies.

Outra importante pesquisa relacionada especificamente ao abate é a “Pesquisa Trimestral do Abate” (PTA), que teve início em 1975 e coleta dados mensalmente. É uma pesquisa objetiva, uma vez que se baseia em um cadastro de estabelecimentos, investigando todos aqueles que se dedicam à atividade de abate de bovinos, suínos e frangos, e estão, obrigatoriamente, sob inspeção federal, estadual ou municipal. O abate de bovinos é classificado em vitelo, novilho precoce, novilho, novilha precoce, novilha, boi e vaca, enquanto para suínos e aves, não há classificação. Sua finalidade é levantar informações sobre número de cabeças abatidas e peso das carcaças. Todos os dados são publicados em termos de Brasil e estados, mas não de municípios, de modo a manter o sigilo das informações, evitando possíveis comparações e avaliações caso um determinado município apresente apenas um abatedouro, por exemplo.

A Pesquisa Trimestral do Couro (PTC), por sua vez, se refere indiretamente à produção de carne, uma vez que investiga um dos principais subprodutos dos abatedouros. Nesta, são investigados todos estabelecimentos industriais ou não, que efetuem curtimento de couro bovino e que adquire, anualmente, 5.000 ou mais couros. Os estabelecimentos que apenas efetuam a salga de couros (salgadores) não são pesquisados.

Ao analisar os dados provenientes destas pesquisas, observa-se um fato curioso: o número de couros produzidos no país é maior que o número de cabeças abatidas. Esse desencontro de informações deve-se, provavelmente, aos abates clandestinos, que não são contabilizados pela pesquisa, ou também por abatedouros que informam quantidades inferiores de animais abatidos em relação ao número real. Aqui, então, faz-se importante esclarecer que todas as informações coletadas são destinadas exclusivamente a fins estatísticos e são mantidas em códigos (que inviabilizam a identificação da procedência) e não podem ser objeto de certidão e nem têm eficácia jurídica como meio de prova.

O gráfico abaixo mostra o número de cabeças abatidas e de couros produzidos no país em 2003, ilustrando tal descompasso.


Fonte: IBGE (2003)

Para quem se interessar em conhecer as pesquisas, fazer análise da evolução do setor agropecuário ou mesmo conhecer os novos dados publicados, o caminho é www.ibge.gov.br. Neste site, o usuário deve entrar no banco de dados chamado SIDRA, escolhendo a pesquisa desejada e, em seguida, a variável, o ano e a região. É um banco de dados de fácil acesso, que gera planilhas em “excel”, permitindo seu uso posteriormente.

_______________________
1Paula Marques Meyer, Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP) e Analista Agropecuário (SEPAGRO – IBGE/SP)

1 Comment

  1. André Mantegazza Camargo disse:

    Olá Paula!

    Achei muito interessante seu artigo e gostaria de aproveitar para tirar umas dúvidas e expor alguns pontos de vista!

    No caso dos dados sobre abate de bovinos no Brasil, gostaria de saber se esses dados são confiáveis e se transmitem a realidade da quantidade de animais abatidos no Brasil, visto que existe em nosso país um grande problema chamado sonegação fiscal. Sendo assim, não seria possível que uma quantidade de animais abatidos seriam “camuflados” pelos frigoríficos e abatedouros para assim ter seus impostos reduzidos?

    Outro ponto de vista que gostaria de colocar é o caso do abate de bovinos. Existe alguma pesquisa onde encontramos números a respeito do tipo de animal que é abatido, ou seja, é conhecida a quantidade de animais cruzados, animais puros, confinados e criados em sistema extensivo que são abatidos no Brasil?

    Se possível, e se for de seu conhecimento, me envie essa pesquisa, pois é um ponto que acho muito interessante e importante para o país que ocupa a posição de maior exportador de carne bovina do mundo sabendo-se que animais cruzados podem oferecer carne de maior qualidade num menor intervalo de tempo.

    Mais uma vez parabenizo pela excelente matéria e agradeço pela atenção!

    Um abraço!

    Resposta da autora:

    Caro colega:

    Agradeço os elogios sobre o artigo.

    Com relação aos dados de abate, eles são fornecidos pelos próprios abatedouros. Não são estimativas, e sim dados objetivos fornecidos trimestralmente por abatedouros, que constam do cadastro do IBGE.

    Este cadastro contém todos os estabelecimentos que passam por inspeção federal, estadual ou municipal. A princípio, temos que assumir que os abatedouros informam corretamente seus dados, uma vez que o IBGE não tem ligação com a receita federal, e mantém a obrigação de reservar o sigilo de seus informantes. Mas quando analisamos os dados da produção de couro, observamos uma grande discrepância entre os dados de no de abate e no de couros curtidos. Por isso, talvez, a melhor estimativa do abate seja a produção de couros, pois acredita-se que pouco se perde, e mesmo os couros vindos de abates clandestinos são enviados ao curtume.

    Quanto a sua 2a pergunta, o questionário da pesquisa de abate identifica e classifica o abate em: vitelos, novilho precoce, novilho, bois, novilha precoce, novilha e vacas. Esta é a maior subdivisão que temos. Com relação ao sistema de criação, alguns dados podem ser obtidos do Censo Agropecuário, que detalha um pouco mais a agropecuária. O problema é que o último Censo foi realizado em 1996, com ano-base 1995. Assim, os dados já estão bem atualizados. O IBGE já se encontra preparado para o próximo Censo Agropecuário, mas ainda aguarda liberação de recursos do Governo Federal.

    Atenciosamente, Paula Meyer (analista agropecuário do IBGE, doutora em Ciência Animal-ESALQ/USP).