Por Louis Pascal de Geer1
Confesso que sempre tive problemas com a palavra e a atividade de recria na cadeia de carne bovino. Com a palavra porque insinua de re-fazer a cria ou até ignorar ou corrigir o passado, e com a atividade porque não tem início e nem fim, fica no meio e é praticamente invisível, atualmente foge do alcance do SISBOV e os sistemas de produções e regimes de alimentação ficam também invisíveis e praticamente impossível de ser rastreados e fiscalizados.
As atrações financeiras são grandes, não tem o ônus de criar os animais, e também não tem o ônus de engordar e abater os animais. O giro de capital é rápido com ganhos expressivos em um curto espaço de tempo e isto permite uma agilidade comercial invejável e um manejo muito previsível e flexível, e permite trabalhar com lotações mais altos de que é possível na cria ou engorda.
Então com tantas vantagens porque eu não gosto da recria?
Em primeiro lugar, porque a cadeia produtiva está perdendo o seu fôlego econômico-financeiro tanto na cria como na engorda e está permitindo uma remuneração para os seus segmentos. Muito curioso e profundamente injusto. Enquanto todo mundo reclama dos frigoríficos, ninguém está questionando a remuneração dada ao pessoal de recria.
Em números muito grosseiros podemos falar que hoje um boi de 18 arrobas e idade de 36 meses vale hoje 18 x R$ 56= R$ 1008,00 com idade de 36 meses. O Boi magro = 1008 x 70% = R$ 705,60 com idade de 24 meses. O Bezerro = 1008 x 35%= R$ 352,80 com idade de 12 meses.
Em segundo lugar porque com o uso de cruzamentos industrias e o melhoramento genético, é possível um encurtamento significativo do período tradicional de engorda e fica assim mais difícil de encontrar justificativas para fazer a recria só.
Isto quer dizer que na verdade a atividade está pautada em o atraso e ineficiência dos demais elos da cadeia produtiva.
É a atividade de “Gerson” na cadeia e que tem dado efeitos colaterais ruins para tanto os criadores como o terminadores, e no meu ver hoje não tem mais vez no ganha-ganha.
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1Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa.
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Na realidade, existem várias pecuárias que sobrevivem de maneira simultânea, e quem foi a Uberaba na Expozebu pode ver perfeitamente.
Ao lado da melhor genética zebuína do mundo, onde a campeã bezerra Nelore pesava 450 kg, temos outras pecuárias, e todas tem seu espaço dentro da nossa economia.
Sem dúvida quando todos os criadores desmamarem bezerros com 240 kg ou mais, a recria perderá sentido, mas a realidade ainda é de bezerros de 150 kg, e aí terá que ser recriado, ou mantido no pasto até atingir 10 ou 11 arrobas, para despertar o interesse do invernista, em adquiri-lo para engorda.
Esta é ainda a nossa realidade, ou da maior parte da pecuária brasileira basta assistir aos leilões para comprovar.
Observando a questão comparativa de custos, da forma como foi colocada, eu entendo que deveria ser computado o custo para produzir este terneiro!
resposta do autor do artigo
Olá Juscelino,
Obrigado pelo seu comentário. Sem dúvida caso que considerarmos o custo de produção do terneiro, mais ainda ficará claro a profunda injustiça que o criador está sujeito quando vende o seu bezerro.
Porém, no artigo foram considerados o preço de compra do bezerro e boi magro e a receita bruta do boi gordo abatido, justamente para enaltecer a injustiça que está sendo praticada pelo mercado.
Louis Pascal de Geer.