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A relevante importância de outrora e a (talvez) pequena importância atual da relação de troca bezerros/boi gordo.

Por varias vezes me pego pensando a respeito do por que algumas coisas são como são e/ou funcionam como funcionam. A relação de troca, ou seja, quantos bezerros podemos comprar com a venda de um boi gordo, é uma das coisas da pecuária que sempre chamou minha atenção. Consigo, com minha humilde clareza, entender que ela tem valor muito limitado hoje em dia. Porém, mais intrigante para mim, é tentar entender porque ela foi um dia importante. Minha conclusão disso tudo, na realidade, não tem a ver nem com relação de troca e nem com margem bruta e sim com custo de produção. Essa é a grande informação que o pecuarista precisa ter para entender bem a saúde financeira do seu negócio.

Por varias vezes me pego pensando a respeito do por que algumas coisas são como são e/ou funcionam como funcionam.

A relação de troca, ou seja, quantos bezerros podemos comprar com a venda de um boi gordo, é uma das coisas da pecuária que sempre chamou minha atenção. Consigo, com minha humilde clareza, entender que ela tem valor muito limitado hoje em dia. Depois explico a minha lógica. Porém, mais intrigante para mim, é tentar entender porque ela foi um dia importante. Acredito ser esta uma suposição certa, pois em todas as notícias de informação de preço de gado de corte, hoje em dia, ela está presente.

Penso que esta importância de outrora dela está diretamente relacionada com o desenvolvimento da pecuária. Digo isso pelo seguinte, o pecuarista ia investindo e abrindo a fazenda e no ano seguinte era a mesma coisa, mais investimento e conseqüentemente, mais gado ele tinha que colocar na fazenda. Portanto, o investimento de abrir áreas novas era grande, porém, os custos eram muito pequenos. Então, ele tinha o dinheiro para fazer o investimento, e, de novo, os custos eram pequenos, ele vendia o gado gordo, o grosso do dinheiro ia para novas aberturas e o restante do dinheiro era, praticamente, somente para seguir povoando as áreas novas que eram abertas. Conseqüentemente, quanto mais bezerros ele comprasse com um boi gordo, mais rápido ele povoava a fazenda. Apesar de ter 45 anos, tenho acompanhado processos semelhantes a esse, por isso, consegui elaborar essa lógica para a importância da relação de troca. Seguramente devem existir outras 832 explicações para a importância dela.

Gostaria de voltar agora para parte inicial do texto e explicar porque acredito que a relação de troca tenha pouca importância nos dias de hoje. Por favor, siga meu raciocínio:

Se fizermos a pergunta, você prefere trabalhar com a relação de troca de 2:1 ou 3:1, seguramente todos que dão muita importância para ela responderão, obviamente, 3 bezerros por boi gordo. Vou agora para o ponto que acredito ser ainda mais importante e destrinchar um pouco essa relação.

Se imaginarmos um rebanho estável, ou com crescimento baixo, que acredito ser o caso da grande maioria hoje em dia, o que fazemos com o dinheiro que arrecadamos com a venda de um boi gordo?! Primeiro vamos comprar um bezerro para repor o boi abatido (rebanho estável), ai com o que sobrou (que chamo de margem bruta) vamos pagar todos os custos diretos/indiretos, fixos/variáveis, depreciações, empréstimos e investimentos de manutenção. O que sobrou da margem bruta menos todos esses desembolsos, então, é o nosso lucro, ou seja, a grana que vai remunerar nosso trabalho e gerar caixa para novos investimentos ou investimentos em novos negócios.

Depois desse blábláblá todo, vou tentar mostrar o que quero dizer com 2 exemplos:

Exemplo 1, vendo um boi por R$600 e compro um bezerro por R$200, então minha relação de troca é de 3:1, porém o dinheiro que me sobra para pagar tudo e gerar o lucro é R$400.

No exemplo 2, vendo um boi por R$1200 e reponho o bezerro por R$600, minha relação de troca é de 2:1, porém a grana que sobra para pagar tudo e gerar o lucro é R$600. Claramente, o exemplo 2 é melhor negócio que o exemplo 1, porém, a relação de troca do exemplo 2 é muito pior que a do exemplo 1.

Minha conclusão disso tudo, na realidade, não tem a ver nem com relação de troca e nem com margem bruta e sim com CUSTO DE PRODUÇÃO. Essa é a grande informação que o pecuarista precisa ter para entender bem a saúde financeira do seu negócio. Acredito que não é a maioria dos pecuaristas que tem o custo de produção de um kg de peso vivo vendido, porém já vejo muita gente querendo conhecer este número melhor.

Talvez seja somente minha desinformação, mas tenho visto inúmeros sites mostrando preço do boi, preço do bezerro e relação de troca, em um só gráfico, mas nunca vi um que mostre preço do boi, preço do bezerro, custo de produção e lucro. Este sim, seria o gráfico que realmente mostraria a saúde econômico/financeira do negócio.

0 Comments

  1. Vigilato da Silva Fernandes disse:

    Entendi seu raciocinio José Roberto e penso que vc ta certo, porém de qualquer maneira o bezerro é a matéria prima essencial nesse negócio e na epoca da reposição seu preço torna-se fundamental seja qual for a relação 2×1 ou 3 x1 para posteriormente verificarmos o que sobrou. O custo financeiro do capital investido no bezerro também é em função do valor pago… Acho que o valor a ser pago pelo bezerro ,principalmente nos periodos que o valor recebido pelo boi gordo não e la essas coisas ,torna-se algumas vezes preocupante.Talvez a tal relaçao de troca não seja tão importante para avaliar o negócio em si, mas para se ter uma idéia do valor daquilo que produzimos em relação à principal matéria prima que compramos… talvez seja por ai. um abraço , gostei do seu artigo.

  2. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Parabéns José Roberto por mencionar que “… o investimento de abrir áreas novas era grande, porém, os custos eram muito pequenos”. Esses baixos custos possibilitaram o extraordinário desenvolvimento de nossas pecuária de corte. Agora que ” é obceno falar em desmatamento”, -como disse o realista amigo Humberto Tavares,- temos que admitir uma contração do rebanho, menor oferta de bezerros e, consequentemente, um número decrescente de bois para abate. Vai levar um bom tempo até que tenhamos um novo criatório baseado em pastos adubados no verão e forragem no inverno após soja ou milho. Vai demorar mas chegaremos lá pois temos luz, calor e chuva sobre grandes áreas agricultáveis. Temos também tecnologia comprovada como demonstra o Chico Holandês lá de Maracajú/MS e certamente outros pecuaristas que não tive oportunidade de conhecer. Grande abraço.

  3. Marcio Sena Pinto disse:

    O.K. José Roberto,
    Porém na pecuária de corte, um dos principais custos é a reposição, que o pecuarista sozinho não controla. Então, deve-se sempre falar em reposição ou relação de troca considerando o preço da reposição e o preço do boi gordo (arroba). Assim, o exemplo apresentado ficaria assim, atualmente em Goiás:
    Boi (17,5 @) = 1.800,00; bezerro (6/8 meses, 5,5 @) = 640,00, relação aproximada de 1:2,8, com margem bruta, conforme sugerido, de 1.160,00. Lembremos, contudo, que este boi de mil e oitocentos tem custo de produção de arroba elevado, o que impactará sobremaneira o lucro líquido.
    ab.
    Marcio Sena.

  4. Josmar Almeida Junior disse:

    Bom dia José Roberto.

    Gostaria de acrescentar que além dos custos de produção um outro fator que incide nesta relação de troca é a eficiência na produção, fator que geralmente não acumula custos, e que gera resultados significativos.
    A ciência já demonstrou os efeitos da correta lotação animal em relação o oferta e qualidade de pasto disponível.
    Em áreas de elevada produção de forragem como ILP ou áreas com residual de fertilidade de culturas anuais, geralmente ocorre perdas em lotação e desempenho animal.
    A diferença entre um animal em recria com GDP de 0,4 e de 0,3 kg/dia é de 36 kg acumulados ano, diferença que visualmente no decorrer das estações geralmente não são levantadas, entretanto impactam de sobremaneira na produtividade animal e por área, como também os custos por @.
    Tecnologias como gestão, planejamento forrageiro, táticas de sistemas de produção, evolução da carga animal nas estações do ano, monitoramento forrageiro, consumo de suplementos e pesagem entre as estações, conduzem a uma maior eficiência na produção, entretanto exigem dedicação e disciplina dos gestores do processo.

    “Tropeçamos em pedras pequenas, as grandes já sabemos onde se encontram..”

    Abraço, e Parabéns pelo artigo…

  5. ROGERIO FLORENCIO J F GOULART disse:

    Sr. José Roberto, no final do seu texto o senhor diz:

    “Talvez seja somente minha desinformação, (…) mas nunca vi um [gráfico] que mostre preço do boi, preço do bezerro, custo de produção e lucro. Este sim, seria o gráfico que realmente mostraria a saúde econômico/financeira do negócio.”

    É só uma pequena desinformação do senhor mesmo, Sr. José, pois tenho os gráficos que o senhor gostaria de ver. Eles mostram o preço do bezerro, do boi, do custo de produção e da rentabilidade.

    Ironicamente, devo dizer, a informação que extraímos deles contradiz a conclusão que o senhor chegou sobre a taxa de reposição.

    Obviamente, não há espaço aqui para publicá-los. Peço, por gentileza que, se houver interesse, solicitar o Miguel para te passar o meu contato.

    Abraços,

    Rogério.

  6. José Roberto Puoli disse:

    Caro Senhor Fernando,
    Nos últimos 4 anos instalamos uma ILP em larga escala no Campanário. 4000 ha de pastos e 12000 ha de agricultura. Sendo 4 anos de soja e dois de pastos, e a grande parte da área agrícola no inverno vira safrinha de capim. Está funcionando muito bem, porém, é uma pena, pois por motivos políticos tive que sair do Campanário, então não acompanharei mais este projeto.
    Tive semana passada num Simpósio ótimo aqui em Campa Grande, Simpósio internacional sobre gases de efeito estufa na pecuária. Foi excelente, infelizmente, para variar, muito pouca gente, a grande maioria das alternativas de mitigação etc passam por ILP(F).
    Participo de outros dois projetos de ILP. menores, mas muito bons, também. Conheço e tenho um contato muito bom com o Ake (Chico holandês), frequentemente trocamos idéias e opiniões.
    Grande abração
    limão

  7. José Roberto Puoli disse:

    Prezados Márcio e Vigilato,
    Acredito que está correto o que vcs colocam.
    Minha única intenção com este texto é dizer que existem coisas mais importantes que a relação de troca para avaliar o negócio. Só isso.
    É como se o sojeiro avaliasse somente a relação do valor da semente e o valor final da soja grão. Certamente, existem inúmeros outros custos que têm que ser avaliados.
    Abraços
    limão

  8. José Roberto Puoli disse:

    Prezado Rogério,
    Obrigado por usar um pouco do seu tempo para debater estes assuntos.
    Considerações:
    1. Relação de troca x informação completa dos custos de um sistema produtivo:
    É somente isso, informação completa dos custos de um sistema produtivo, que eu acredito que seja bem mais importante que a relação de troca. Por exemplo, se vc me fala que a relação de troca é tal em determinado momento. Única coisa que podemos dizer é que ela está acima ou abaixo da média histórica. Absolutamente mais nada.
    Agora, se vc me diz que comprou um bezerro por R$700,00, que vendeu um boi gordo por R$1700,00, e que o custo de produção deste boi gordo foi de R$600,00 e que vc investe no seu negócio, em média, R$50,00/boi abatido, e portanto, vc teve um resultado de R$350,00/boi, aí, sim dá para ter uma idéia de como está o teu negócio e o que poderá acontecer se vc vender o boi e/ou comprar o bezerro mais caro ou mais barato. O meu sonho ainda seria ver estes números traduzidos para hectare, ou seja, minha pecuária custa x/ha, faturo y/ha, invisto z/ha e meu resultado é tanto/ha.
    De novo, é só isso que quero ser capaz de ver, a realidade do negócio.
    Vc mora em Dourados e deve saber; se vc perguntar para um sojeiro como anda o negócio dele, ele vai te dizer, custa R$1000,00/ha para plantar e colher, invisto mais uns R$150,00 e colho 50sc/ha. Se eu vender este saco por R$40,00, terei R$850,00/ha de resultado.
    De novo, é só isso que eu gostaria de ver na pecuária.

    Aí se vc quiser fazer comparações de TIR e blablabla, tudo bem. Não tenho formação em economia, então não tenho profundidade neste assunto. Mas uma coisa eu posso te garantir, não existe situação melhor que um caixa sadio.

    2. Discordo totalmente de avaliar o resultado da compra de um bezerro pensando em vender este bezerro como boi daqui 2 ou 3 anos. A conta tem que ser feita dentro do ano, ou seja, por quanto vc está vendendo e por quanto vc está repondo. P.e. vc pode pagar “caro” num bezerro agora, e quando vender o boi mal cobrirá este custo, mas quando vc repuser o boi, no mesmo ano, fará esta reposição bem mais barata, ai aquele boi barato comprou um bezerro barato.
    De novo, o negócio (venda do boi gordo e compra da reposição) tem que ser avaliado dentro do ano.

    3. Desculpa a sinceridade, mas continuo sem ver o gráfico com os itens que mencionei, isto é, valor do bezerro, valor do boi gordo, valor do investimento por boi gordo, custo de produção e resultado. O seu gráfico de resultado, expresso em %gem, fica com tudo embutido dentro dele, não dá para avaliar e nem usar como benchmarking. Seguramente vc deve ter um com os números abertos.

    Mais uma vez, obrigado pelo seu tempo e não se preocupe tanto em enfatizar qualidade de debates, pois se estamos falando através do Miguel, isso já está dentro do pacote.

    Saudações
    Limão

  9. Heleno Guimarães de Carvalho disse:

    A rentabilidade da produção de carne não pode ser medida unicamente por relação de troca, visto que a formação de custo da produção pecuária é formada por uma cesta de custos idependentes entre si e que não estão indexadas ao preço da arroba do boi ou do bezerro, assim idependentemente da relação de troca vai variar a rentabilidade do produtor, pois num momento de baixa do preço do boi gordo ou do bezerro ou de ambos podemos ter um alto custo de produçaõ já que os insumos e custos que formam o custo final do preço do boi não está ligado ao mesmo, assim deve ser analisado:
    hipotese 1 relação de troca 3.1 margem bruta R$400,00 Preço do boi R$ 600,00 se tivermos um custo de produção de R$550,00 temos um lucro liquido ao produtor de R$50,00
    hipotese 2 relação de troca 2.1 margem bruta 600,00 Preço do boi R$1.200,00 e tivermos um custo de produção de 1.250,00 temos um prejuízo de R$50,00

    Assim fica comprovado que o preço do bezerro é apenas um dos custos que compõe a formação do custo final do boi gordo ou seja o bezerro é um “insumo” que em conjunto com os demais custos energia , mão de obra, medicamentos, mineral, adubos, sementes. arame, formam o custo final de produção, e usa-lo como indexador pode se tornar um grande equívoco, afinal o aço que é usado na fabricação de arame não tem seu custo vinculado ao preço do boi, numa situação hipotética de custos de produção muito altos se o bezerro tivesse custo zero o negócio ainda seria deficitário.
    hipotese 3 preço do bezerro R0,00 preço do boi R$2.000,00 custo de produção 2.100,00 prejuizo de R$100,00
    E teriámos ainda a possibilidade inversa de custo de produtção muito baixa e bezzero muito caro:
    hipotese 4: preço do bezerro R$1.000,00 preço do boi R$1.400,00 custo de produção R$1.100,00 lucro liquido 300,00.

  10. JOSE FRANCISCO SOARES ROCHA disse:

    Prezados amigos,

    me surpreendo diariamente com a leitura deste site,pois os debates são importantes,e pra variar este é mais um deles,em um assunto que deverá ser a tonica do futuro.produtividade !assunto inclusive do governo que quer rever indices da mesma.
    negocios tem que ser medidos através de relatórios operacionais,aonde neste caso o bezerro é um componente na troca futura,e até a formação de conceitos são muito importantespara não nos induzirmos a erros. genética+manejo+nutrição irão compor este relatário.