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A retenção de placenta e seus prejuízos para a bovinocultura

A retenção de placenta é um das patologias mais freqüentes relacionadas á reprodução em fêmeas bovinas. Trata-se de uma condição na qual os anexos fetais não são eliminados totalmente até 12 a 16 horas após a expulsão do bezerro. A ocorrência é muito variável e se situa entre 4 a 40%, dependendo de fatores predisponentes como: condição corporal dos animais ao parto; padrão nutricional pré-parto; ocorrência de abortos ou partos prematuros; partos difíceis ou auxílio ao parto; parição em locais altamente contaminados (Microbismo); condições estressantes pré-parto e depressão imunológica da fêmea próximo ao parto. Recentemente tem sido proposto que uma grande parcela dos casos de retenção ocorre pela depressão parcial do sistema imunológico materno. Esta alteração imunológica causaria redução no número e atividade das células de defesa materna, que são responsáveis pela liberação inicial da placenta.

Quando a placenta não é expulsa no período normal, que é de até 12 horas, a presença desta causa uma série de transtornos ao animal. Como geralmente uma parte fica no interior do útero e o restante se exterioriza pela vulva, funciona como uma excelente via de entrada de microorganismos para o interior do genital. Além disto, a presença física dos restos placentários no interior do útero, dificulta a sua involução. Estas condições tendem a se tornar cada vez mais intensas, num efeito “bola de neve”. Como a involução uterina se encontra prejudicada, a eliminação do conteúdo fica mais difícil, favorecendo a proliferação de bactérias ali presentes em grande número. Por sua vez, o desenvolvimento das bactérias leva à inflamação do útero, o que prejudica ainda mais a involução. Cria-se desta forma uma situação onde os problemas decorrentes da retenção de placenta, além de se perpetuarem, tornam-se progressivamente mais graves.

As infecções uterinas nesta fase, denominadas de infecções puerperais, geralmente têm caráter agudo e necessitam de tratamento rápido e eficiente, pois oferecem risco concreto à vida do animal. O tratamento deve ser o mais rápido possível, a partir do momento em que se caracteriza a retenção de placenta. Pesquisas apontam que a cada oito minutos duplica a população bacteriana no interior do útero. Quando mais retardado for o tratamento, maior o número de bactérias a se combater e maior as lesões causadas por elas. Assim sendo, recomenda-se a utilização de um antibiótico, nos casos de retenção, antes mesmo que os sinais de infecção, como febre ou falta de apetite (anorexia) sejam apresentados pelo animal. Quando estes sintomas são observados, é indicativo que a infecção já se encontra instalada, a população bacteriana está elevada e o animal já corre risco de vida.

Segundo a literatura, um bom tratamento deveria controlar a proliferação bacteriana, evitando sinais sistêmicos de infecção e dando condições para que a involução uterina se processe sem maiores anormalidades, auxiliando com isto na remoção do material contaminado. As drogas para tratamento desta condição, ou seja, uma infecção de curso agudo, causada por uma associação de vários tipos de bactérias, e que depende de tratamento rápido e eficiente, devem apresentar amplo espectro de ação, formação de níveis circulatórios rapidamente após a aplicação, e difícil aparecimento de cepas bacterianas resistentes. O tratamento por via local, ou seja, a infusão intra-uterina, não é indicada no período puerperal. Esta não indicação decorre de vários aspectos, os principais são: o grande volume do útero, que nesta fase (até 2 dias pós-parto) suporta facilmente até 3 litros de solução. Como geralmente são infundidos volumes bem inferiores, o medicamento se concentraria nas regiões mais baixas do órgão. A capacidade aumentada de absorção faria que qualquer droga infundida passasse rapidamente para a circulação, e para complementar, a presença de abundante material orgânico é uma limitação para a ação da maioria dos antibióticos, que também são responsáveis por inibir parcialmente os mecanismos de defesa do animal, no local.

Figura 1: Útero de uma vaca com infecção puerperal decorrente de retenção de placenta

Mesmo quando o animal não morre, os prejuízos futuros podem ser consideráveis. Vários trabalhos de mensuração de eficiência reprodutiva em animais que apresentaram retenção de placenta, demonstram que esta condição pode afetar e muito, a eficiência reprodutiva futura. Os efeitos danosos incluem retardo no reinicio da atividade reprodutiva e involução uterina pós-parto, redução no escore corporal, maior incidência de infecções uterinas pós-puerperais, e aumento no número de serviços por concepção (menor fertilidade). A redução da eficiência somada ao aumento dos gastos com medicamentos deve ser considerada ao se analisar os efeitos deletérios da retenção de placenta.

Tabela 1: Índices reprodutivos em vacas acometidas ou não com retenção de placenta (Fernandes et al, 2001)


aMédias acompanhadas de letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05) Bibliografia consultada

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