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A silagem de milho é a melhor opção de volumoso suplementar?

Por Zinaldo Firmino da Silva1 e Thiago Fernandes Bernardes2

A utilização de forragens suplementares está além da necessidade de fornecimento de alimentos durante o período da estacionalidade de produção das plantas forrageiras. Com a intensificação dos sistemas de produção de leite ou de carne, a utilização de forragem suplementar visa o suprimento adequado de nutrientes para os animais, a fim de possibilitar desempenho satisfatório e também, menor dependência do uso de alimentos concentrados. Existem várias formas de reservar alimentos para os animais, seja como cultura para uso in natura (diferimento das pastagens; produção de cana-de-açúcar, aveia, azevém, palma forrageira, entre outras) ou como alimento conservado (ensilagem ou fenação).

No Brasil, ainda que respeitando-se as especificidades de cada região, os alimentos conservados constituem a maior parte da fonte de forragem suplementar. A ensilagem é o processo de conservação de forragem mais comumente utilizado, principalmente em propriedades produtoras de leite e de criação de bovinos de elite. Entre várias alternativas possíveis, o milho tem sido a cultura predominante para produção de silagem. Entretanto, a silagem de milho apresenta elevado custo de produção, somente sendo justificada quando produzida de forma tecnificada para resultar em forragem de alta qualidade (NUSSIO, 2003).

Contudo, a escolha mais adequada pela fonte de forragem suplementar não é um processo simples e requer análise criteriosa das condições de produção e necessidades específicas para sua utilização. Nesse contexto, alguns aspectos devem ser observados, quais sejam:

– Adaptação às condições edafoclimáticas de determinada região

As culturas do sorgo e do milheto são boas alternativas para confecção de silagem em regiões com índices de pluviosidade baixos. No Nordeste do País, por exemplo, mesmo com situação adversa (falta e má distribuição das chuvas) a cultura do milho ainda é a principal opção para ensilagem. Tal fato é principalmente devido à aspectos culturais (tradição familiar em produzir o milho para grãos), juntamente com a carência de extensão rural de qualidade. Em Pernambuco, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do estado (IPA) tem desenvolvido variedades de sorgo mais adaptadas às condições do semi-árido e mesmo assim, a silagem de milho prevalece entre os produtores. Dessa forma, a escolha inadequada da forrageira para a ensilagem, tem proporcionado resultados negativos, como: perda da cultura, baixa produção de MS/ha e péssima qualidade do material ensilado.

– Produção de forragem por hectare (t MS/ha)

A cultura do sorgo, também se destaca pela produção de MS/ha (13-15 t), sendo uma particularidade, a utilização da sua rebrota. Em condições adequadas de clima e fertilidade do solo a rebrota pode alcançar cerca de 40% da produção do primeiro corte, ampliando o potencial de utilização da cultura.

A cana-de-açúcar apresenta um dos maiores potenciais de produção de MS/ha (cerca de 50 t). Além de ser sua colheita ideal na época seca de ano, a cana-de-açúcar possui cultivo fácil e de tradição no País.

– Potencial de produção animal (nível de exigências nutricionais)

É sabido que as plantas forrageiras de clima tropical não suprem totalmente as demandas de energia e proteína de bovinos para alto desempenho. Contudo, no tocante às silagens, reconhecidamente, a de milho possui melhor valor alimentício e por isso mesmo, é mais indicada para alimentação de animais com elevado nível de exigências. Seguindo o mesmo raciocínio, tem-se que a silagem de sorgo é a que mais se aproxima do valor nutritivo da silagem de milho (cerca de 90%). Por essa razão, a silagem de sorgo tem sido indicada para animais de produção de leite e carne não tão elevadas. A cana-de-açúcar por conseguinte, tem sido recomendada para animais de produção ainda mais discretas.

Considera-se animais de baixo potencial de produção de leite àqueles com produção por lactação (305 dias) menor que 5.000 kg, como sendo de baixo potencial. Para animais com produção entre 5.000 e 9.000 kg, seriam de médio potencial. Finalmente, para produções acima de 9.000 kg por lactação, teríamos animais de alto potencial e por conseguinte, alta demanda nutricional. Essa classificação não é um padrão fixo de identificação do potencial de produção, mas nos permite relacionar melhor o nível de exigências nutricionais com a forragem a ser utilizada. Seguindo tal definição, teríamos animais de baixa, média e alto potencial, àqueles que apresentassem produção diária menor que 16,0 kg; até 30,0 kg e acima de 30 kg, respectivamente.

Normalmente as recomendações técnicas para uso da cana-de-açúcar têm sido feitas para a alimentação de animais de baixa produção de leite, normalmente até 10,0 kg/dia. Alguns experimentos utilizando animais de médio potencial, embora tenham apresentado resultados satisfatórios, têm recomendado a cana-de-açúcar para vacas com produção inferior a 20 kg/dia. Um exemplo disso é encontrado no trabalho de Mendonça et al. (2004), que alimentaram vacas em lactação com dietas de relação forragem:concentrado de 60:40, sendo a silagem de milho ou a cana-de-açúcar como forragem exclusiva. A produção de leite foi de 22,0 e 19,2 kg para as vacas alimentadas com silagem de milho e com cana-de-açúcar, respectivamente. Entretanto, em um dos tratamentos cuja relação forragem:concentrado foi de 50:50, as vacas produziram 20,1 kg/dia com a cana-de-açúcar.

E o que dizer de vacas Holandesas de alta produção de leite, recebendo cana-de-açúcar como volumoso exclusivo? Essa resposta foi encontrada no trabalho de Corrêa et al. (2003) que avaliaram o desempenho de vacas Holandesas alimentadas com silagem de milho ou com cana-de-açúcar, utilizando dietas com relação forragem:concentrado de 45:55. A cana-de-açúcar deprimiu o consumo (23,1 versus 21,5 kg/dia) e a produção de leite (34,4 versus 31,9 kg/dia). Os autores concluíram que a cana parece ser um alternativa para alimentar grupos de vacas Holandesas durante fazes da lactação na qual a demanda nutricional não seja a máxima. Resultado como esse, onde vacas alimentadas com cana-de-açúcar suportaram produção de leite de até 32 kg/dia, nos condiciona a repensar os conceitos mais tradicionalistas com relação a utilização dessa forragem.

A cana-de-açúcar também foi avaliada como forragem para recria de animais especializados em produção de leite. Andrade (1999) utilizaram novilhas Holandesas em experimento, recebendo como forragem exclusiva a silagem de milho ou a cana-de-açúcar. O ganho em peso diários foi de 1,18 kg para a dieta com silagem de milho e de 1,01 kg para a dieta com cana-de-açúcar.

Gallo (2001) que também avaliou a viabilidade da cana-de-açúcar para recria de novilhas Holandesas. Foram utilizadas dietas contendo proporção crescente de cana-de-açúcar (62; 70 e 78%) como única foragem. O aumento da participação da cana-de-açúcar na dieta deprimiu o consumo de MS (7,4; 6,8 e 6,6 kg/dia) e ganho de peso (1,0; 0,97 e 0,95 kg/dia) similar entre os tratamentos.

Bibliografia

ANDRADE, M. A. F. Desempenho de novilhas holandesas alimentadas com cana-de-açúcar como volumoso único. 1999, 56f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras – MG, 1999.

CORRÊA, C. E. S.; PEREIRA, M. N.; OLIVEIRA, S. G. et al. Performance of sugarcane or corn silages of different grain textures. Scientia Agricola, v.60, n.4, p.621-629, 2003.

GALLO, P. C. S. Desempenho de novilhas Holandesas alimentadas com teores dietéticos crescentes de cana-de-açúcar. 2000, 40f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras – MG, 2000.

MENDONÇA, S. S.; CAMPOS, J. M. S.; VALADARES FILHO, S. C. Consumo, digestibilidade aparente, produção e composição de leite e variáveis ruminais em vacas leiteiras alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.2, p.481-492, 2004.

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1Zinaldo Firmino da Silva é Zootecnista e Mestre em Produção Animal

2Thiago Fernandes Bernardes é Doutorando em Zootecnia FCAV/UNESP/Jaboticabal

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