O objetivo do seguinte artigo é fomentar sobre a importância do tema da sustentabilidade no consumo de alimentos nos países da Europa Ocidental, a utilização da temática da sustentabilidade pelos integrantes da cadeia produtiva européia de carne bovina (dos pecuaristas até as empresas varejistas), o impacto econômico-comercial dessa estratégia, a imagem da carne brasileira junto às grandes empresas varejistas européias e a estratégia de comunicação que deve ser implementada para abrir novos espaços à carne brasileira no mercado da União Européia.
O objetivo do seguinte artigo é fomentar sobre a importância do tema da sustentabilidade no consumo de alimentos nos países da Europa Ocidental, a utilização da temática da sustentabilidade pelos integrantes da cadeia produtiva européia de carne bovina (dos pecuaristas até as empresas varejistas), o impacto econômico-comercial dessa estratégia, a imagem da carne brasileira junto às grandes empresas varejistas européias e a estratégia de comunicação que deve ser implementada para abrir novos espaços à carne brasileira no mercado da União Européia.
O mercado europeu sofreu mudanças essenciais ligadas ao tema da sustentabilidade. Hoje a sustentabilidade é o eixo principal do marketing de alimentos do setor varejista (mais de 90% das compras de carne na Europa são realizadas em hipermercados e supermercados), não bastando para o Brasil, apenas aumentar o número de fazendas credenciadas para se recolocar no mercado.
A memória que se tem dos últimos 4 anos, até 2007, é de que o Brasil ocupava a primeira posição no abastecimento do mercado europeu de carne bovina in natura, perdendo esse espaço em 2008 por questões sanitárias, e principalmente questões ambientais, uma vez que as empresas européias estão cada vez mais, trabalhando em cima da sustentabilidade de produção para acompanhar as tendências do mercado que contam com uma mudança profunda dos consumidores.
Atualmente tem crescido a preocupação do consumidor com a saúde, aparência e forma física, então cada vez mais cresce o consumo de alimentos in natura e diminui o consumo de produtos mais industrializados. Em decorrência das mudanças de preferência do consumidor, aparece a temática da rastreabilidade, motivando as pessoas para que consumam produtos produzidos próximos a suas residências, sendo mais fácil identificar suas origens, tratamentos e qualidade.
O consumidor quer comer bem, pagando o mínimo possível e se preocupa ainda com o impacto ambiental da produção, com as condições de transporte e de vida dos animais. Suprir essas necessidades é papel do setor produtivo.
A preocupação inicial em eliminar os problemas de emissão de gases de efeito estufa, escassez de água, perda da biodiversidade, esgotamento das matérias primas, sustenta debates no mercado europeu. Com tais problemas existentes, o setor varejista correu riscos de perder negócios, então para atender às necessidades da sociedade e garantir uma boa imagem no mercado ele se uniu com princípios da sustentabilidade.
Numa segunda fase, o varejo percebeu que essa união gerava oportunidades comerciais, como o aumento das margens comerciais induzido pela redução de custos. Em última instância, o que levou o varejo se unir aos princípiios da sustentabilidade foi a pressão da sociedade, que de início foi responsável pelas mudanças no varejo para que não ficassem em posição arriscada, hoje torna a atividade mais rentável no ponto de vista social, ambiental e econômico e fortalece as marcas próprias desenvolvidas no varejo.
Há empresas no setor da pecuária que querem chegar a se tornar companhias neutras em termo de emissão de carbono, querem parar de jogar resíduos no meio ambiente, ter uma política sustentável e ajudar os clientes e os funcionários a adotarem um modo de vida saudável. Esses compromissos não beneficiam só suas próprias atividades e sim incentivam seus fornecedores para que eles adotem comportamentos e estratégias conforme os compromissos já firmados.
Os primeiros passos de uma nova estratégia comercial é que o varejo conta com a adesão voluntária dos seus fornecedores, sendo que as novas exigências dizem respeito apenas à produção e comercialização de alimentos distribuídos com marcas próprias. Fica evidente que dentro de pouco tempo essa adesão voluntária será substituída por medidas compulsórias.
O que faz a força das empresas varejistas nesse contexto é que as empresas aproveitaram os debates sobre a sustentabilidade para redefinir as suas relações com os consumidores. O objetivo é sempre ajudar o consumidor a fazer as melhores opções de compra e com isso alguns varejistas promovem o “local food” e privilegiam produtos com baixa emissão de carbono nas suas produções.
A sustentabilidade vai se tornar um componente central da atratividade das marcas próprias do varejo, as empresas vão impor aos seus fornecedores a adoção de novos procedimentos de produção, processamento e transporte. Por isso há necessidade de reconstruir a imagem da carne brasileira, fornecendo para o mercado europeu informações objetivas e consistentes explicando o trabalho que a cadeia da carne realiza para resolver os desafios impostos.
O Brasil deve criar inicialmente uma central de informação sustentada por todas as entidades que apóiam projetos de desenvolvimento sustentável, fazendo-se bons investimentos em comunicação. Os técnicos dessa central devem possuir conhecimento aprofundado da sensibilidade das opiniões públicas estrangeiras e das redes de comunicação que existem nos países-alvo e ainda ter a capacidade para antecipar as polêmicas e batalhar na verdadeira guerra de informação que existe em torno da carne brasileira. É preciso que o Brasil reconheça que exitem problemas localizados e divulgue os esforços realizados para reduzi-los e as experiências de desenvolvimento sustentável.
Um outro passo para que a carne brasileira reconquiste o mercado europeu é escolher duas empresas varejistas que se destacam no cenário europeu ( Ex. Carrefour, Tesco e Tengelmann), negociar parceiras integrando a implementação da lista de requisitos dos clientes europeus com um sistema de premiação dos pecuaristas brasileiros e com uma certificação com envolvimento de ONGs. A estratégia de comunicação deve ser implementada para abrir novos espaços à carne brasileira no mercado da União Européia, se unindo também com princípios de sustentabilidade.
Jean-Yves Carfantan é Sócio-Diretor da AgroBrasConsult e economista, pós-graduado em comércio internacional de produtos agrícolas. Ao longo dos últimos 25 anos, ele desempenhou funções de professor e pesquisador da ESA (Escola Superior Agrícola), situada em Angers (França). Desde 1990 vem atuando no Brasil, como consultor independente e de 1995 até hoje tem sido convidado por várias entidades profissionais (Cooperativas dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás), instituições financeiras (Banco do Brasil) e empresas de agronegócios, para realizar estudos sobre mercados e cadeias produtivas e ministrar palestras e seminários sobre variados temas afins.
A AgroBrasConsult é uma empresa brasileira especializada na prestação de serviços de consultoria, suporte e assessoria em negócios internacionais, a empresas do agronegócio nacional, interessadas em conquistar ou ampliar seu espaço no mercado internacional, ou ainda, em firmar parcerias com operadores estrangeiros. Com escritórios estabelecidos em São Paulo e no Rio de Janeiro, a empresa foi criada em 2008 por Jean-Yves Carfantan e Márcia Cabral Dietrich, consultores com vasta experiência – em seus respectivos campos de atuação – de cooperação com profissionais que atuam em diferentes cadeias produtivas animal, no Brasil e no exterior.
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Caro Jean-Yves
Muito bom artigo no que se refere à descrição do problema e suas soluções.
Gostaria ,no entanto ,de compartilhar uma preocupação pessoal:
Como poderiamos contornar as intermináveis restrições impostas pelos que não querem a presença da carne brasileira na Europa por puro protecionismo?
O Sisbov é exemplo de uma dessas imposições : exigiram um sistema confuso e de aplicação quase impossível que não garante nem qualidade nem rastreabilidade. Só garante que nós estamos proibidos de exportar para a Europa.
Afinal de onde a Europa compra carne?
Deve ser de um pais onde o boi não bebe água, não emite metano, não tem gordura e ainda ajuda a preservar as florestas. Afinal que pais ainda tem florestas,alem do Brasil?
Às vezes penso se as restrições à carne brasileira não fazem parte de um programa neo-colonialista que objetiva comprar barato e vender caro como sempre. Será?
Na relação comercial Brasil- Europa a carne brasileira é considerada altamente nociva aos interesses da humanidade mas aviões Rafale e submarinos atômicos são ecológicos. Afinal vão proteger poços de petróleo que certamente devem ser ,os poços e o petróleo ,profundamente ecológicos.
Confesso que fica difícil levar a sério as ditas preocupações dos europeus.
Claro que eu sei que você sabe de tudo isso melhor do que ninguem.
Por isso mesmo está em condições de sugerir ações que efetivamente contribuam para a destruição dessa barreira protecionista européia , sem o que temo que estaremos perdendo tempo ao atender as exigências descabidas criadas por nossos inimigos comerciais.
Agradeço seu empenho neste debate tão importante
Bom dia,
Agradeço a sua carta e os seus comentarios. O primeiro comentario que eu gostaria de fazer é que a maioria dos paises que produzem carne bovina têm hoje um dispositivo de rastreabilidade para garantir a segurança dos seus proprios consumidores. O mercado interno brasileiro esta se diferenciando do resto dos grandes mercados consumidores ao nao ter implementado um dispositivo que diz respeito ao consimo domestico. Se o Sisbov é um dispositivo complicado, isso tem muito mais a ver com o funcionamento dos serviços publicos brasileiros e do que com uma vontade européia.
Nos ultimos trinta anos, o Brasil se tornou uma grande potência agricola e econômica. Acompanhei de perto essa grande virada. Nao acredito naqueles discursos que consideram que haveria uma vontade colonizadora (uma “conspiraçao”) para impedir que o Brasil mude e se torne um centro econômico relevante. Acredito sim que a funçao principal desses discursos é de esconder as deficiências internas. Quando o filho adolescente começa a crescer, ele tem essa tendência de culpar o pai por todos os problemas que ele mesmo tem que resolver. Chega um dia que ele percebe que o pai tem pouco a ver com isso. Acho que o Brasil vai se tornar uma verdadeira potência global quando souber abandonar completamente essa visao do mundo um pouco adolescente. Infelizmente, existe toda uma cultura de esquerda na América latina que prega a permanência na infância… Nao estou dizendo que o senhor compartilha essas idéias. Apenas estou aproveitando a sua mensagem.
No agronegocio brasileiro, sempre se fala em protecionismo europeu. Isso, de fato, existe. Mais nunca se deveria esquecer que o mercado europeu é um dos mais abertos do mundo. Muito mais aberto do que o mercado brasileiro. Quem importa no Brasil produtos como queijos, chocolates, genetica animal ou vinho (para nao citar o setor de produtos industriais) sabe disso. Temos que parar com aquela historia que os demais mercados sao fechados e que o mercado brasileiro seria uma area de livre-comércio… O Brasil ainda é uma economia muito fechada comparando com as economias mais avançadas. Nao vou abrir mais um debate mais isto é um ponto essencial que os profissionais do agronegocio devem levar em conta. Os paises estrangeiros dificultam o acesso ao mercado deles de alguns produtos do agronegocio e sempre utilizam como justificativo o protecionismo brasileiro na area de serviços, de bens industriais…
O debate deve continuar. Obrigado e obrigado ao Beef Point por colocar a disposiçao essa ferramenta.
Abraço.
JY Carfantan
Caro Jean-Yves
Muito obrigado por sua resposta,Ela me animou a prosseguir com o debate mais um pouco.
Em primeiro lugar permita que eu me apresente para facilitar o diálogo.
Sou engenheiro de produção da USP e fiz carreira em uma das maiores empresas multinacionais de alimentos por trinta anos ,ocupando funções nas áreas de Informática ,Controladoria,Tesouraria e encerrando como Diretor de Finanças.
Experiência em rastreabilidade e quality assurance eu tenho desde os anos 70.
Tive também o prazer de trabalhar com profissionais americanos e europeus de alto nível gerenciando marcas-líderes de primeira linha no Brasil e no mundo e tendo fornecedores praticamente de todos os segmentos do agronegócio como carnes,ovos,oleo , grãos e derivados.
Por isso mesmo, ao me aposentar e me dedicar com minha mulher ao negócio da família ,fiquei entusiasmado com a chegada da rastreabilidade e garantia de qualidade à pecuária ,tanto que adotamos o processo em 2004.
Como o senhor mesmo antecipou ,não tenho uma visão adolescente ,anti-capitalista ou anti-mercado.Também não sou adepto de teorias conspiratórias ou que tendam a atribuir a outros as nossas mazelas.
Estes normalmente são males da juventude e eu já passei há muito da idade.
Isto posto vamos falar do que motivou minha carta : Campanhas organizadas nos países do hemisfério norte para desacreditar o produto brasileiro ,sem nem mesmo conhecê-lo, com objetivo protecionistas.
Ou deveríamos levar a sério por exemplo a atitude dos irlandeses em seu boicote à nossa carne através da confecção de um relatório tendencioso e falso após visita relâmpago de um grupo de produtores ao Brasil ?
Os grandes supermercados europeus ,que têm padrões de qualidade altíssimos, não estão nada felizes com o descredenciamento do Brasil como fornecedor de carne bovina. Ou estão? Continuo me perguntando: de quem será que eles compram carne?
Não me entenda mal.Eu não defendo o atraso que ainda existe na pecuária brasileira . Mas dizer que o Brasil não tem condições de fornecer alimentos à Europa , para quem trabalhou nesta industria como eu ,é inaceitável.
Quanto ao funcionamento dos serviços públicos eu concordo: ele é muito ruim aqui e também em Bruxelas.Com a diferença que lá os governos defendem seus produtores rurais e aqui somos considerados a fonte de todos o males , como afirmou a Senadora Katia Abreu.
Sobre a abertura do mercado europeu eu concordo parcialmente com o senhor : eles realmente são abertos para exportar .Quanto a importar nem tanto.
Continuo achando que o maior entrave para os nossos melhores produtores exportarem para a Europa está na rede de protecionismo aos setores equivalentes europeus. E isto não vai desaparecer de um dia para outro.
De qualquer forma , como o problema não é da nossa alçada, vamos continuar investindo em rastreabilidade e qualidade de produto e processo porque é da nossa índole e certamente compensa.
Mas sem culpa ou falsas esperanças.
Um abraço
Eduardo