O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Otávio Cançado, defendeu ontem, a intervenção imediata do governo no setor de frigoríficos, bem como "em todos os setores que estejam passando por dificuldades similares". Por outro lado, Péricles Pessoa Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), se mantém contrário a qualquer tipo de socorro governamental ao setor que signifique a injeção de recursos do BNDES, por exemplo. "Isso porque somente poucos são beneficiados e uma grande maioria fica à margem desses financiamentos por parte do governo. Se nós já éramos contra antes, somos mais contra agora", afirmou.
O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Otávio Cançado, defendeu ontem, a intervenção imediata do governo no setor de frigoríficos, bem como “em todos os setores que estejam passando por dificuldades similares”.
Dos 21 grandes frigoríficos representados pela Abiec, sete já pediram recuperação judicial devido a problemas de crédito gerados pela crise financeira internacional. Cançado revelou que o número de desempregados nessas sete empresas pode alcançar 52 mil. Pelos cálculos da entidade, caso não sejam tomadas medidas para atenuar a crise, o desemprego pode passar de 100 mil pessoas, considerando-se que, para cada emprego formal criado em um frigorífico, são gerados mais dois empregos fora.
Cançado ressaltou que o pedido de recuperação judicial dessas empresas não significa que haja uma crise instalada no setor como um todo. “É uma crise pontual de cada empresa”, afirmou. “Outros frigoríficos, como JBS, Bertin e Minerva, por exemplo, não apresentam dificuldades”, assegurou.
O diretor executivo da Abiec vê com bons olhos a possibilidade de socorro do governo federal às empresas do setor que estejam passando por dificuldades. “Se há dificuldade de capital de giro no setor, que é o que move essas empresas frigoríficas, há que ter uma intervenção governamental, sim”, defendeu.
Um socorro público, sob a forma de financiamento por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pode, segundo Cançado, evitar efeitos piores da crise, como redução do emprego, queda da renda e da balança comercial.
Por outro lado, pelo menos 50 plantas frigoríficas de pequeno e médio portes, filiadas à Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), já estão com as atividades paralisadas, representando perda de cerca de 15 mil empregos. Foi o que revelou o presidente da entidade, Péricles Salazar. Alguns desses frigoríficos também já entraram com pedido de recuperação judicial.
Salazar atribuiu boa parte das dificuldades do setor à crise externa. Ele, no entanto, atribuiu, em alguns casos, às próprias empresas a responsabilidade pelos problemas, que resultam de erros estratégicos. “O setor não está bem. Está atravessando um momento de grande dificuldade, tanto para os frigoríficos que exportam, como para os que estão presentes no mercado interno”, relatou.
Os pequenos e médios frigoríficos já vinham passando por dificuldades, mesmo antes da deflagração da crise internacional, em setembro do ano passado. Segundo Salazar, esses empresários vinham enfrentando problemas no que se refere ao abastecimento de matéria-prima, que é o gado para o abate. Desde de outubro do ano passado, as exportações brasileiras vêm sofrendo o impacto da crise externa. Salazar disse que a pequena recuperação observada no começo deste ano “não chega nem perto dos níveis anteriores.”
Apesar da crise, Salazar se mantém contrário a qualquer tipo de socorro governamental ao setor que signifique a injeção de recursos do BNDES, por exemplo. “Porque nós entendemos que é uma distorção que gera no mercado. Isso porque somente poucos são beneficiados e uma grande maioria fica à margem desses financiamentos por parte do governo. Se nós já éramos contra antes, somos mais contra agora”, afirmou.
O presidente da Abrafrigo observou que, no caso dos grandes frigoríficos, além dos problemas estruturais da cadeia produtiva, como indisponibilidade de bovinos para abate e a crise financeira que gerou a perda da exportação, foram cometidos erros de gestão interna. “E nós não podemos concordar que recursos públicos financiem plantas que erraram em sua gestão interna. Não podemos permitir que se socialize o prejuízo e capitalize o lucro”.
Salazar defendeu que um eventual financiamento para o setor frigorífico deva abranger todas as empresas e não somente as de grande porte. Na avaliação da Abrafrigo, é preciso também que as próprias empresas promovam rearranjos de gestão. “Elas [empresas] vão ter que se reorganizar estrategicamente. Vão ter que definir novos rumos e buscar instrumentos próprios, que não recursos públicos, para se ajudar. Como sucede em toda operação. A empresa que errou vai ter que pagar o preço”, disse.
Segundo Salazar, o principal pleito da Abrafrigo é a desoneração do PIS e Cofins. Segundo o presidente da entidade, isso representaria uma renúncia fiscal de R$ 140 milhões ao ano, valor bem distante de um suposto pacote de ajuda de pelo menos mais de R$ 1 bilhão.
Opinião semelhante tem o consultor e ex-ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, hoje consultor do grupo JBS. Segundo ele, não apenas a cadeia da carne bovina, mas vários setores produtivos passam por processo de reestruturação, havendo casos de concentração. Ou seja, a atual crise faz com que empresas deixem o mercado. Salazar, da Abrafrigo, por sua vez, diz que no atual momento o governo deve permitir o crescimento de pequenos e médios frigoríficos, assim como favorecer os produtores.
A as informações são da Agência Brasil e da Gazeta Mercantil, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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Parabens,
Sr. Pericles Salazar, temos que lutar por um bnds realmente social, nao um BNDS que favoreça poucos e sempre acoberte erros de gestao e estrategias, ja estamos cançados de ver esse salva salva de milhoes de reais, ajudar a muitos é construir um futuro com empresas solidas, que irao favorecer toda a cadeia produtiva, ajudar a poucos é incentivar concentraçao de renda e favorecer uma concorrencia predadora.
Coitada da lebre se o BNDS der mais garras pro leao.
O embate entre as posições da ABIEC e da ABRAFRIGO não surpreende. Ele reflete, na verdade, um processo comum a todos os setores da economia brasileira que atingiram posições importantes como exportadores, mas que é particularmente crítico nos segmentos agropecuários / agroindustriais: a dualidade que se instala entre a conglomeração requerida, e inevitável, para enfrentar o jogo bruto entre líderes no comércio internacional, e as iniciativas, também socialmente desejáveis, no sentido de fomentar o desenvolvimento das empresas médias, pelo menos, de atuação regional, e mesmo das menores, no âmbito municipal, em particular nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Há tempos a direção estratégica do BNDES contempla a consolidação e fortalecimento de grandes empresas exportadoras e mesmo multinacionais brasileiras. Isto não vai mudar, não nos iludamos – é necessário, é desejável, e vai ao encontro de interesses empresariais muito poderosos. O que precisa ocorrer, e penso ser aí que deveria se concentrar a ação institucional da ABRAFRIGO, é uma divisão de funções: o BNDES se concentrar nas grandes empresas e grupos (sinceramente, não acho que é realista exigir dele a capilaridade de um grande banco de varejo), e os demais bancos públicos (BB, BNB, BASA, CEF) assumirem, eles sim, a tarefa de prover assessoramento financeiro e crédito às médias e pequenas empresas em todo o país, inclusive apoiados em dotações orçamentárias para equalização de juros e encargos.
Sei que este não é o discurso oficial, e nunca será – mas após quase 50 anos de vida, e quase 30 de vida profissional em finanças, não sou de me iludir com promessas e conversa fiada.
Engraçado, o pecuarista vendia o boi em janeiro de 2004 a R$ 65,00/@, 6 anos depois vende o boi a R$ 74,00/@, ou seja uma correção nos preços de 2,41% ao ano, esta totalmente descapitalizado, muitos entregando suas terras aos bancos, com uma rentabilidade abaixo ou proxima a zero, durante os ultimos anos, e agora na primeira dor de barriga, o governo corre para arrumar um plano emergencial de financiamento com recursos públicos para salvar os frigorificos. Comentar o que, esperar o que, melhor ir comprar logo o meu nariz de palhaço, antes que acabe.
Eu acho que em primeiro lugar neste assunto deveria ser priorizado a garantia do pecuarista, que é o grande financiador de capital de giro para estes grupos de frigorificos e entrega este capital de giro sem garantia nenhuma.
Boia a prazo só pode ser vendido com garantia real. Quando nós tomamos dinheiro de FCO, custeio pecuário ou agrícola, etc., só nos dão o financiamento com hipoteca de nossas fazendas. Ainda sem comentar os juros abusivos que são cobrados para venda à vista. Quem quizer comprar boi a prazo tem que dar garantia real. Vai numa intituição finançeira hipoteca sua fazenda, seu rebanho, sua indústria, pega uma carta de fiança e vai comprar boi.
Isto acabaria com os frequentes calotes dados por industrias friogrificas nos pecuaristas, as quais quebram mas seus diretore não.
Concordo com o Salazar, um pequeno grupo de grandes frigoríficos cresceram assustadoramente de 4 anos pra cá, mas ese crescimento foi apoiado em dívidas e abertura de capital muitas vezes megalomaníacas, além de contar com um preço da arroba baixíssimo nos anos de 2005, 2006 e 2007.
Eles tinham é que estarem capitalizados agora já que ganharam tanto neste triênio. Mas a ganancia só faz pensar em comprar mais plantas de pequenos, concentrar mais o mercado e manter ou aumentar o nível de endividamento visando apenas o cresciento proporcional dentro do mercado. A impressão que dá é que eles nunca pensaram em aumento de patrimônio líqido. Sem crédito não são ninguem. Já daria pra ter muito dinheiro vivo em caixa, aumento de imóveis liquidáveis entre outros ativos.
Não, só tem arrendamentos, plantas novas penduradas em dívidas e patrimônios voláteis. Se o goveno quer ajudar, que pague essas dívdas geradas por pelo menos meia dúzia de frigoríficos quebrados aos produtores que estão “emprestando” dinheiro aos frigoríficos de forma compulsória e aumente a dívida das empresas. Por que colocar o dinheiro na mão das empresas para elas pagarem as dívidas é bem provável que esse montante evapore de novo antes de acabar de saldar, por que elas vão dar prioridade de pagar credoes internacionais em detrimento dos pecuaristas e funcionários.