As exportações brasileiras de carne bovina apresentaram redução abrupta no primeiro mês do 2009, mas os exportadores acreditam que os volumes possam se recuperar com retomada do mercado chileno, aumento das vendas à Rússia e Egito e uma possível flexibilização nas exigências da UE.
Como já era esperado, as exportações brasileiras de carne bovina apresentaram redução abrupta no primeiro mês do ano. Ainda que as vendas externas de carne bovina no início deste ano estejam num terreno negativo por causa da crise financeira global, os exportadores acreditam que os volumes possam se recuperar em 2009. A esperança do setor está, em grande parte, na perspectiva de que a União Europeia flexibilize as exigências para a habilitação de fazendas que fornecem animais para abate destinados ao bloco.
Balanço da Abiec, divulgado ontem em entrevista coletiva, mostrou recuo de 45% na receita das exportações de carne bovina (que ficou em US$ 255,7 milhões), de 35% no volume (182,9 mil toneladas) e de 16% no preço médio (para US$ 3.125/t) em janeiro, na comparação com igual período do ano passado.
A entidade, porém, prevê recuperação ao longo do ano, a ponto de repetir o faturamento recorde alcançado no ano passado, de US$ 5,3 bilhões. Porém analistas consultados pela Folha consideram difícil cumprir essa projeção e esperam redução de até 20% nessa receita.
Para o diretor-executivo da Abiec, Otávio Hermont Cançado, a baixa tão grande de embarques em janeiro se deveu ao impacto da restrição de crédito na economia mundial desde setembro e a um “efeito estatístico”. As exportações do início do ano passado foram turbinadas pela iminência do embargo europeu, que fez os importadores anteciparem muitas compras.
A partir de agora, Cançado prevê recuperação. Empresas importadoras, principalmente as maiores, têm mais acesso a crédito, e há sinais de arrefecimento da “queima de estoques” em poder dos compradores. De quebra, a desvalorização do real ante o dólar dá mais competitividade ao país e favorece o caixa dos frigoríficos em moeda brasileira em relação há um ano.
Apesar da retração em relação a igual período do ano passado, o executivo destaca a retomada das compras de alguns importantes clientes. A Rússia, por exemplo, aumentou em 50% o volume importado do Brasil em janeiro, comparativamente a dezembro do ano passado. No mês passado, as vendas para o mercado russo somaram 16 mil toneladas, ante as 10,7 mil registradas em dezembro de 2008. Em relação às vendas para a Holanda, que é a porta de entrada da carne bovina brasileira no mercado europeu, o volume cresceu 66% e atingiu 768 toneladas.
“A Europa precisa de carne. A Irlanda tem dificuldade em abastecer o continente, ainda mais com os casos de contaminação do rebanho por dioxina. O registro de casos da variante do mal da vaca louca em humanos na Holanda também abre espaço para o produto brasileiro”, afirma Cançado.
Otimista, ele estima que a flexibilização das regras da UE poderia ampliar as vendas ao bloco para 200 mil toneladas (equivalente-carcaça) este ano, o dobro de 2008. Os números incluem carne in natura e industrializada.
Questionado sobre o porquê a União Europeia cederia justamente agora em que as economias tendem a ser mais protecionistas por causa da crise, Otávio Cançado, pontua diversas razões. A primeira delas, segundo ele, foi a bem sucedida visita da Comissão Europeia, que esteve em visita ao Brasil, entre o final de janeiro e início de fevereiro. “A Comissão viu que nós fizemos a lição de casa”, afirma Cançado. Outro ponto a favor, segundo ele, é a fragilidade sanitária da produção européia.
Ponderando que não está próximo às negociações, o ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, diz que o que está claro hoje é que predomina o protecionismo sanitário na UE e, portanto, a situação só vai ser resolvida quando o Brasil começar a criar problemas para os produtos europeus. “A única coisa que o Brasil tem a fazer se quiser mudar a regra é responder com a mesma moeda. Quando o País começar a suspender a compra de aviões europeus, eles sentarão na mesa para negociar”, alfineta Pratini.
Outro mercado que pode gerar ao Brasil exportações de 100 mil toneladas de carne bovina in natura é o Chile. A expectativa, disse, é de que até o fim do mês haja uma definição sobre a reabertura do país, que deixou de comprar a carne nacional após casos de aftosa em 2005. O Egito é outro que deve retomar os volumes. “No ano passado, eles estavam comprando carne de búfalo da Índia, mas com a crise, a Índia passou a pedir pagamento antecipado”, explicou.
Cota Hilton
Ainda no campo da diplomacia, a Abiec formalizou anteontem no Itamaraty pedido para ampliar para 13 mil toneladas a atual cota Hilton, que é de 5 mil toneladas. São exportadas por esta cota apenas cortes nobres, com alto valor agregado, e com cobrança de 20% de imposto de importação enquanto as carnes embarcadas fora da cota podem chegar a ser taxadas em até 174%.
A elevação da cota está sendo pleiteada, segundo Cançado, para compensar a entrada da Bulgária e da Romênia no bloco europeu, em 1 de janeiro de 2007, ou seja, há dois anos. A Argentina, que já possui 28 mil toneladas de cota Hilton, já se antecipou e conseguiu 1 mil toneladas adicionais na cota.
Com o embargo europeu à carne brasileira, no início de 2008, o Brasil não deve conseguir cumprir sua cota de 5 mil toneladas. “Saberemos, ao certo, em abril. Se até lá o crédito voltar e UE flexibilizar as regras para as fazendas se habilitarem, podemos conseguir atingir a cota”, explica Cançado.
As informações são da Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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Prezados amigos do BeefPoint,
A bola está na marca da cal. O governo, por meio de nosso Presidente e do Ministro da Agricultura tem que chutar e marcar o gol (alguém já disse que o penalti é tão importante que os dirigentes dos clubes é que deveriam chutá-lo).
O momento é este para o Brasil ampliar nossas exportações de carne bovina, frente a um quadro de recessão e diminuição de nossas exportações. O mercado chileno só será aberto por meio de barganha e pressão de nosso Presidente, a ampliação da Cota Hilton idem.
Concordo com o ex-Ministro Pratini de Moraes que para ampliar o mercado da UE temos que barganhar com eles a compra de seus produtos.
Enfim, o Brasil no mês de janeiro “importou muito mais que exportou”.
Volto a escrever. O Brasil continua importando salmão, vinhos e frutas temperadas do Chile. E eles em relação a nossa carne? Vamos continuar passivos? O Ex-ministro usou o exemplo da compra de aviões da Europa, mas nós temos outros produtos que compramos deles (alimentos, vinhos, produtos industriais etc.) que também têm que entrar na pauta de negociações. Só alavancaremos nossas exportações de carne bovina em 2009, se começarmos a iniciar agora mesmo a negociação com nossos “parceiros”.
Um forte amplexo!
Enrico Lippi Ortolani
Prof. da FMVZ-USP / São Paulo
É isso ai Enrico Lippi, o Brasil tem que mostrar sua força, poder de barganha. Mostrar que o Brasil é um grande pais não só pela extenção territorial mas pela produção e consumo, e na colocação no mundo.
Parabéns pelo artigo, muito esclarecedor.