A Abrapec (Associação Brasileira de Agropecuária) está buscando premiação por fidelidade junto a frigoríficos com os quais negocia, em especial com o Bertin. A associação espera conseguir uma premiação que remunere a totalidade de bois entregue ao frigorífico, não apenas aos classificados, como ocorre com os programas de premiação atuais.
Da capacidade de produção dos pecuaristas associados da Abrapec, menos de metade é abatida pelo Bertin atualmente, em função de problemas de preço e logística.
Com a premiação por fidelidade, Geraldo Perri Morais, vice-presidente da associação, acredita que essa situação pode se alterar, pois o prêmio de preço pode viabilizar o aumento de quantidade de bois enviados a esse frigorífico. Perri Moraes acredita que a quantidade de animais ofertada pela associação tende a ter um peso significativo na negociação.
Além do Bertin, a associação está em negociação com o frigorífico Bom Charque. Nesse processo, o frigorífico já aceitou reduzir o prazo de 30 para 25 dias e está estudando uma premiação para os bois comprados da Abrapec. As principais reivindicações da Abrapec, com os frigoríficos com os quais negocia são: preço diferenciado (maior que o balcão) e vantagens de prazo.
Premiação atual é considerada baixa
No acordo com o Bertin, a premiação é feita de acordo com a tabela desenvolvida pelo frigorífico (2 a 6% sobre o valor da arroba), portanto a associação está sujeita aos mesmos benefícios concedidos aos outros pecuaristas. Segundo Morais, atingir a premiação máxima é praticamente impossível, mas muitos associados atingiram 5%.
A tabela de classificação do Bertin é considerada muito exigente pela associação. Dos 20 mil bois abatidos pelo frigorífico, cerca de 55% foram premiados. A premiação variou de 2 a 5 % do valor da arroba resultando em uma diferença, em reais, de cerca de 3% até final de agosto.
Os pecuaristas da associação consideram a quantidade premiada baixa, pois os outros 45% são, segundo eles, bois de qualidade, mas que não se enquadram nos padrões de peso e cobertura exigidos. Além disso, o Bertin não premia boi precoce, produzido por muitos associados, pois os mesmos não atingem a classificação de peso. Os frigoríficos exportadores têm exigido peso acima de 17@. O boi mais leve está sendo rejeitado, segundo os frigoríficos, por exigência do mercado.
Diferenciação
Existe um projeto da Abrapec de identificar a carne produzida pela associação através de parcerias com frigoríficos. Morais acredita que esse tipo de iniciativa não é de interesse dos grandes frigoríficos, tendo mais chances de acontecer com os menores. Esse projeto envolve a criação de uma marca, como é feito com o Nelore Natural, acredita Moraes. “Essa iniciativa pode ser bastante vantajosa para os participantes da associação”, avalia.
Conquistas da Abrapec
Para Morais, a principal conquista da Abrapec foi unir a classe, trocar idéias, soluções, parcerias de negociações. Acredita que quanto mais o pecuarista trabalhar coeso, mais pode conseguir. Segundo ele, o Bertin foi importante para viabilizar essa união. Os associados que estão permanecendo são mais conscientizados, “uma grande vantagem da criação da associação”, diz.
Para alcançar essa melhora, a Abrapec disponibiliza aos seus associados um relatório produzido por uma empresa de consultoria especializada em acompanhamento de abate (BoiBeef), que avalia o boi desde a apartação na fazenda até o abate, dizendo por que foi ou não classificado, sugerindo melhoras e possibilitando troca de idéias.
A partir desse relatório, o pecuarista toma decisões como deixar ou não o animal mais tempo no pasto e separar em lotes. Segundo Morais, o interesse do pecuarista em ganhar o prêmio tem estimulado a troca de idéias, sugerindo melhorias.
Novos associados
A adesão de novos participantes ocorre geralmente por meio de indicação de outro associado. Segundo Morais, não há restrições quanto ao número de cabeças. “Quanto maior o grupo, melhor”, diz. Entretanto, quando o pecuarista demonstra interesse em participar da associação, é esclarecida a necessidade de qualidade, uma vez que o nome da associação está em jogo. Morais diz “a grande vantagem é para quem tem pouco boi”, pois a associação permite uma união de forças.
Preços baixos dificultam negociação
As negociações com os frigoríficos ainda estão ocorrendo em um ritmo lento, reflexo da paralisação do mercado há cerca de 15 dias, quando os preços pagos ao produtor estavam muito baixos, afirma Geraldo.
Segundo Morais, as expectativas de vendas não foram alcançadas, em função das condições desfavoráveis do mercado nos últimos meses, em que os preços pagos não cobriam os custos de produção.
A queda dos preços na BM&F (até cerca de duas semanas) levou a um pessimismo geral e fez com que o confinamento fosse reduzido, ao contrário do que se esperava em agosto, reduzindo a oferta de bois. Além disso, “esse ano houve um veranico muito forte em janeiro e fevereiro, depois a chuva entrou tarde e uma seca violenta nas regiões norte”, argumenta, agravando a situação.
Com isso, “o boi que os frigoríficos buscavam em outros estados, para que o preço em SP não subisse, não existe mais”, avalia Moraes. O maior sintoma disso, segundo ele, foi a alta do boi em Cuiabá (MT). E acredita que até o final de novembro o mercado vai ser comprador.
Segundo ele, as opiniões diferem, mas tudo indica que o boi vai subir muito, principalmente por falta de mercadoria, o que não tem a ver com aumento de consumo ou exportação.
Com a reação dos preços do boi gordo, “agora está começando a voltar numa situação em que o frigorífico começa a ouvir o pecuarista, o que não estava acontecendo devido à super oferta de boi”, diz.
Sobre a Abrapec
A Abrapec (Associação Brasileira de Agropecuária) foi fundada em setembro de 2004 em Araçatuba, SP, e conta hoje com aproximadamente 100 associados. O número de abates da associação deve chegar próximo a 40 mil este ano. Até agosto, 20 mil bois foram abatidos, na parceria da Abrapec com o frigorífico Bertin.
A associação tem como objetivo a busca pela melhor remuneração da arroba de boi. “Dependendo do preço, vendemos para outros além do Bertin”, completa Morais.
Fonte: Equipe BeefPoint