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AC: MPF entra com ação contra frigoríficos

Os Ministérios Públicos Federal, Estadual e do Trabalho no Acre entraram com ação civil pública contra 14 frigoríficos suspeitos de comercializar gado originado de fazendas embargadas por desmatamento ou exploração do trabalho escravo.

Os Ministérios Públicos Federal, Estadual e do Trabalho no Acre entraram com ação civil pública contra 14 frigoríficos suspeitos de comercializar gado originado de fazendas embargadas por desmatamento ou exploração do trabalho escravo.

A ação responsabiliza as empresas pela compra de 10 mil cabeças de gado de origem irregular entre 2007 e 2010. E pede que sejam aplicadas multas de R$ 2 bilhões.

Um dos alvos da ação é o grupo JBS, um dos maiores do setor de carnes no mundo. Segundo o documento, a empresa comprou 568 cabeças de gado de propriedades rurais embargadas. A JBS diz que está “surpresa” com a ação porque havia “concordado em assinar termo de ajustamento de conduta”. As empresas autuadas são a JBS, a Amazon Meat, Frigomard, Frigonorte, Agropastoril Estevam, Distribuidora de Carnes Rio Branco, Frigovaca, Boi Bom, Matadouro Modelo, Frigoverde, Matadouro Mesquita, frigorífico Quinder, Frigosena e frigorífico Lobão.

O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, disse que a entidade apoia a ação civil pública do Ministério Público do Acre (MP/AC) e do Ministério Público do Trabalho (MPT). “Somos contra o abate de bovinos em áreas ilegais e nesse sentido apoiamos a ação do ministério. Mas é necessário conhecer exatamente caso a caso, para que não ocorram penalidades injustas”, afirmou Salazar em entrevista à Agência Estado.

O presidente da Abrafrigo cobra uma ação conjunta com os governos estaduais. “O Estado tem que fazer sua parte também, não só o setor.” O executivo disse que a Abrafrigo, com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e o governo de Mato Grosso incentiva que produtores do Estado tenham o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Movimento parecido é feito também com o governo do Pará. “Temos orientado sempre o produtor a proceder no cadastro e sugerimos para a indústria não fazer compras de pecuaristas que não estão no CAR. O Estado tem que participar para a atualização permanente da base de dados e a agilidade no cadastro dos produtores”, alerta Salazar. “Mas há empresas que não seguem nossa recomendação. Infelizmente, cada um faz o que quer e aí colhe o que planta”, completou.

Segundo o inquérito, disponível no site do Ministério Público Federal do Acre, durante mais de um ano várias tentativas de acordo foram feitas com os frigoríficos, que, inclusive, chegaram a aprovar uma minuta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). O que forçou a ação judicial foi que alguns desistiram da assinatura do acordo.

Segundo o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, que coordenou a ação, as tentativas de se firmar um termo de conduta com os frigoríficos se arrastaram por um ano. A redação do texto do acordo foi contestada e modificada pela indústria e associação de pecuaristas do Estado, até chegar à sexta versão. Após o consenso, os frigoríficos tinham prazo para a entrega da assinatura do documento, vencido há 15 dias. “Eles não cumpriram a entrega e fizemos o nosso dever”, disse Lopes.

Segundo o Valor Econômico, o ponto de discórdia que atrasou as negociações por tanto tempo foi a tentativa do MPF acreano de estender a ação a toda a Amazônia, de forma que a exclusão de fornecedores de gado de áreas desmatadas ilegalmente se tornasse um compromisso jurídico amplo da indústria. A estratégia já havia sido tentada também – sem sucesso – pelo Ministério Público Federal do Pará e de Mato Grosso, que deram início há dois anos ao processo de corresponsabilização da indústria no desmatamento do bioma.

Os frigoríficos rejeitaram a medida. Acabaram fechando acordos jurídicos com cláusulas de restrição para cada Estado. A ideia é negociar caso a caso e formalizar TACs pontualmente. “Dessa forma, o único compromisso de excluir fazendas de áreas desmatadas na Amazônia, como um todo, é público, acertado com o Greenpeace e sem obrigação jurídica”, diz uma fonte familiarizada com o tema.

Desde outubro de 2009, com o cerco do MPF do Pará e a divulgação do documento “A farra do boi na Amazônia”, do Greenpeace, sobre o impacto da pecuária na floresta, os maiores frigoríficos do país – JBS, Marfrig e Minerva – assumiram o posicionamento inédito de rejeitar animais de áreas desmatadas. Alguns progressos foram feitos, e a própria JBS tem investido em um sistema operacional capaz de mapear melhor seus fornecedores. Mas ainda há falhas na cadeia produtiva, como mostra o MPF.

Em nota, o BNDES afirmou aque observa rigorosamente a legislação ambiental e que “caso haja problemas socioambientais comprovados, o banco possui instrumentos para suspender os desembolsos aos financiamentos ou antecipar os vencimentos” e que irá acompanhar os desdobramentos da ação civil pública do Acre. Detentora de 20,6% do capital da JBS, a BNDESPAR afirma que não participa da sua administração.

As informações são da Folha de S. Paulo, Agência Estado e Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

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  1. levino dias parmejiani disse:

    Na mobilização dos produtores rurais ocorrida em Brasília no dia 05 de maio de 2011 estiveram presentes alguns pequenos produtores da minha cidade provavelmente patrocinados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Não tenho conhecimento da participação de nenhum médio ou grande produtor, exceto o Presidente do Sindicato Rural, pois todos estavam “muito ocupados”.
    É por isso que os operadores dos interesses americanos e europeus disfarçados de ambientalistas, os desavisados e os midiáticos nadam de braçada.
    Não me preocupa o grito dessa raça, mas o silêncio dos “muito ocupados”.