Por Philip Seng, presidente e diretor executivo da Federação de Exportações de Carnes dos Estados Unidos (USMEF)
A indústria de carnes vermelhas dos Estados Unidos registrou um excelente crescimento nas exportações nos últimos anos, aumentando a lucratividade para todos os membros da cadeia de fornecimento. Em 2014, as exportações de carne bovina (US$ 7,13 bilhões) e de carne suína (US$ 6,67 bilhões) ultrapassaram os recordes anteriores em valor. As exportações de carne bovina vêm aumentando firmemente em valor em cada um dos 11 anos desde que os mercados globais começaram a ser reabertos após o primeiro caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) dos Estados Unidos. Para a carne suína, o valor de exportações aumentou em 15 dos últimos 20 anos.
Em 2015, vários contratempos dificultaram para a indústria americana manter essa trajetória positiva. Os fortes congestionamentos nos portos na Costa Oeste – resultado de prolongados impasses trabalhistas – impactaram nos resultados do primeiro trimestre. Volumes anormalmente grandes de carne suína europeia e de carne bovina australiana entraram nos mercados asiáticos, impulsionados por taxas de câmbios favoráveis que tornaram esses produtos muito atrativos para compradores sensíveis aos preços. Importantes competidores também obtiveram ganhos devido a acordos de livre comércio que reduziram as tarifas de importação sobre seus produtos de carne bovina e suína.
Esses são fatores importantes que afetam as exportações dos Estados Unidos, mas são questões sobre as quais temos pouco ou nenhum controle. O mesmo não pode ser dito sobre um dos maiores obstáculos que as exportações americanas atualmente enfrentam – falta de acesso à China.
A China é um dos únicos mercados internacionais que nunca reabriram para a carne bovina dos Estados Unidos após o caso de EEB de 2003. Na ocasião, e por vários anos depois, a China não era um grande importador de carne bovina. Porém, isso mudou dramaticamente em 2012, quando a demanda de importação por carne bovina na China aumentou devido ao forte crescimento econômico e ao forte declínio na produção doméstica. A China agora importa mais carne bovina todo mês do que fez em todo o ano de 2011. Na primeira metade desse ano, as importações totalizaram quase US$ 910 milhões – 28% a mais que no ano anterior.
Embora a indústria dos Estados Unidos permaneça de fora, Austrália, Uruguai, Nova Zelândia, Argentina e Canadá ganharam bastante espaço na China. Estar fechado para o mercado chinês também afeta os preços dos cortes americanos em outros destinos asiáticos, à medida que a China começou a exercer influência significativa no comércio global de carne bovina. Para a indústria de carne bovina dos Estados Unidos, a oportunidade perdida devido à falta de acesso à China é atualmente estimada em mais de US$ 100 por cabeça.
Mas, há base científica por trás da demanda da China?
Considerando que exportamos para cerca de 100 países, com todos eles determinando que a carne bovina dos Estados Unidos é segura, seria fácil ver as condições de importação da China como excessivamente rígidas. Porém, um número crescente de importantes países produtores e exportadores de carne bovina estão cumprindo com os requerimentos da China, cientes do potencial impacto global desse mercado na demanda de carne bovina. No meio de 2014, por exemplo, a China começou a testar as importações de carne bovina da Austrália para resíduos de hormônios, citando uma proibição de hormônios em vigor há mais de uma década, mas somente tinha sido aplicada esporadicamente. A Austrália respondeu rapidamente, implementando um programa de certificação para cumprir com os requerimentos da China. Em curto prazo, as exportações da Austrália à China caíram em quase 50%, mas o declínio foi temporário, à medida que os produtores australianos se ajustaram e as exportações rapidamente se recuperaram.
Quando o Canadá confirmou seu mais recente caso de EEB em fevereiro, a Agência Canadense de Inspeção de Alimentos voluntariamente suspendeu os certificados de exportação à China e começou consultas com agências chinesas para restaurar o acesso. O comércio foi retomado no começo de abril. Uma situação similar ocorreu na Argentina, onde o comércio foi suspenso devido à descoberta de estomatite vesicular em uma vaca leiteira. O governo da Argentina e representantes da indústria imediatamente viajaram à China para cumprir com as regulamentações oficiais e chegar a um acordo para retomada do comércio.
Todos esses exemplos ilustram que nossos concorrentes aprenderam que a melhor forma de fazer negócio com a China, assim como com qualquer cliente, é cumprir com suas expectativas.
A defesa das exportações é geralmente feita aligando que 95% da população mundial vive fora dos Estados Unidos, mas esse argumento é muito menos atraente quando o mercado que contém quase 20% da população mundial tem pouco ou nenhum acesso aos nossos produtos de carnes vermelhas, que acredito que são as melhores e mais segura do mundo. Sim, as condições de importação da China são rígidas, mas a China não tem falta de fornecedores querendo suprir suas demandas. Isso significa que a indústria enfrenta certas decisões difíceis quando buscamos expandir o acesso à carne americana nesse mercado criticamente importante.
Philip Seng, presidente e diretor executivo da Federação de Exportações de Carnes dos Estados Unidos (USMEF), publicada no site Dairy Herd Management, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.