Acordos generosos de delação premiada, como o que beneficiou os irmãos Joesley e Wesley Batista, podem não parecer justos, mas nem sempre há alternativas melhores na mesa, defendeu o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força- tarefa da Lava Jato, a uma plateia insatisfeita com o destino dos donos da JBS.
“No mundo ideal todo mundo seria punido. O grande problema é que não vivemos no mundo real”, disse nesta terça-feira (23), no lançamento em um shopping de São Paulo do seu livro “A Luta contra a Corrupção”, com a visão do Ministério Público para a operação que assumiu três anos atrás.
Dallagnol frisou que falava hipoteticamente, pois o caso foi fechado pela Procuradoria-Geral da República, e não pela Justiça Federal do Paraná, onde atua.
Chegou a brincar que a pergunta feita pela jornalista Mariana Godoy, que conduziu o debate, merecia uma saída à francesa. “Este é o momento em que a campainha toca, e todo mundo sai pro lanche.”
Dito isso, afirmou que os “fatos que vieram à tona são crimes gravíssimos”, por envolverem um presidente da República (Michel Temer) e um presidenciável (Aécio Neves).
Dallagnol sugeriu que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode ter se visto sem opções. “Quais eram as alternativas aos irmãos?”
Eles não eram réus e não estavam presos quando procuraram Janot. Joesley e Wesley podiam até estar sob investigação, mas processos costumam demorar “anos e anos” até darem em algo.
Dallagnol lembrou da demora de mais de duas décadas até que o Supremo Tribunal Federal condenasse Paulo Maluf, nesta mesma terça. Destacou ainda que ao menos o crime de corrupção que era imputado ao parlamentar “já era, prescreveu”.
Voltando aos irmãos: “Conseguiria ele [Janot] aquelas gravações com outras pessoas? Não que eu saiba”.
Daí a possível inevitabilidade do acordo que, para a população, deixou a impressão de que “os irmãos ‘Ley’ ganharam na mega-sena”, como colocou Godoy.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.