Em 23 de outubro, japoneses e norte-americanos chegaram a um acordo que colocava fim ao embargo imposto pelos orientais à carne bovina dos Estados Unidos. Quase 10 meses após a descoberta de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como doença da “vaca louca”, em uma vaca leiteira do Estado de Washington.
Tudo dá a entender que muito tempo será necessário para que os primeiros carregamentos da carne americana aportem no Japão.
O Japão parece ter conseguido triunfar, após muita insistência, em dois pontos chaves da negociação. O primeiro foi a permissão apenas para a entrada de miúdos e alguns cortes pré-definidos. O segundo, e mais espinhoso, foi a obrigatoriedade de que a comprovação da idade dos animais (máximo 20 meses) não seja feita por meio da classificação das carcaças.
Ficou acordado que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) terá 45 dias para estudar como será feita a comprovação. Mas não existem garantias de que o Japão aceite as novas formas de como será feita a verificação da idade dos animais. Outro problema é que a indústria terá que remover Materiais de Risco Especificado (specific risk materials – SRM) de todas as carcaças, em maiores montantes que o normal.
A questão é: o Japão conseguiu, no acordo, tudo aquilo que havia exigido com insistência. Tendo que fazer pouquíssimas concessões, deixando a indústria americana em uma posição complicada, pois esta terá que aceitar algo que, talvez, seja economicamente inviável.
Outro problema foi a declaração conjunta dos dois governos em promover a negociação bilateral (two-way trade) de carne bovina e seus derivados. Parte do acordo diz que será permitida a exportação japonesa de carne bovina e derivados aos EUA. O USDA disse que já está iniciando o processo de regulamentação para a entrada da carne japonesa nos Estados Unidos.
Caso o Japão comece a aceitar a carne americana antes que os EUA aceitem a carne japonesa, o tempo gasto pelo USDA para criar as regulamentações e procedimentos de análise de risco não terá importância. Caso o Japão não aceite a carne americana, o tempo gasto para o USDA formular esses procedimentos será crítico, pois o acordo diz que o comércio bilateral (two-way trade) deve começar simultaneamente, e esse procedimento deverá ser demorado.
Em situações como essa, o USDA costuma levar de 4 a 6 meses para elaborar todo o processo. Podem surgir ainda, problemas no meio do caminho. Grupos canadenses podem vir a contestar o acordo, pedindo a reabertura da fronteira norte-americana para a entrada de seus animais.
As exigências são grandes de ambos os lados, sendo a mais complicada delas a verificação por idade exigida pelos japoneses, que só aceitam animais com no máximo 20 meses de idade. Porém, os mais apressados são os norte-americanos, que exportaram no ano passado US$ 1,7 bilhão em carne bovina aos japoneses.
Será que o Agricultural Marketing Service conseguirá realizar em 45 dias um estudo que comprove que os animais possuem menos de 20 meses? Por que o Japão aceitaria esse novo estudo, já que rejeitou a verificação de idade por maturidade da carcaça, por exemplo?
Para a maioria dos especialistas, a única saída plausível para os norte-americanos seria por meio de rastreabilidade total dos animais e comprovação através de documentação da data de nascimento dos animais.
Como o acordo é bilateral, tudo leva a crer que nenhuma carne norte-americana deverá entrar em território japonês até o segundo semestre de 2005.
Fonte: Equipe BeefPoint