A entrada dos animais em confinamento leva a uma drástica mudança no comportamento dos animais que, em primeiro momento, irão rejeitar todas essas situações, levando a um forte estresse. Em situações de estresse, a primeira reação do bovino é parar de se alimentar e manter baixas ingestões de água. Deve ser realizado um tratamento diferenciado durante o período de adaptação. Após esse período, pode-se iniciar o fornecimento das dietas previstas para o período de confinamento, com a inclusão progressiva de grãos na dieta. Esse manejo é necessário como preventivo à ocorrência de distúrbios digestivos. O fornecimento de alimentos deve ser constante, evitando-se períodos sem disponibilidade de alimentos no cocho. O fato dos animais ficarem sem alimentos por algum tempo pode levar ao consumo excessivo de alimentos, e a ocorrência de distúrbios digestivos.
A entrada dos animais em confinamento leva a uma drástica mudança no comportamento dos animais que, em primeiro momento, irão rejeitar todas essas situações, levando a um forte estresse. Em situações de estresse, a primeira reação do bovino é parar de se alimentar e manter baixas ingestões de água.
Essas reações são variáveis, variando entre os diferentes lotes, e até entre animais de um mesmo lote, dependendo de situações prévias (sistemas de produção) vividas pelo animal. Animais que já passaram por situações de confinamento, também vão estranhar as novas instalações, pessoas do manejo, máquinas, etc, porém já aprenderam a se alimentar no cocho, se adaptando mais facilmente.
Depois do estresse de viagem (deve ser a menor distância possível), os animais vão estranhar o novo local que deverão passar os próximos meses, sendo difícil minimizar esse efeito. A formação de lotes homogêneos é extremamente importante, e deve ser feita, de preferência, entre os animais de mesma origem logo após a chegada no confinamento. Devido o espírito gregário dos bovinos, a mistura de animais em novos lotes vai levar a disputa por dominância.
Todo manejo descrito, apesar de simples, é de extrema importância para produção de carcaças com qualidade. A não observância desses pontos vai resultar na produção heterogênea de animais, e conseqüentemente de carcaças, com falta de acabamento e contusões devido às disputas entre os animais, causando heterogeneidade de ingestão de alimentos e de qualidade de carcaças.
Manejo nutricional inicial
Ao chegarem ao confinamento, normalmente os animais estão cansados e com fome, em maior ou menor proporção, dependendo da distância da viagem a que foram submetidos. É comum a ocorrência de leves diarréias nos primeiros dias, devido ao estresse de viagem e o constante estado de alerta devido ao novo ambiente, não sendo necessário intervenções medicamentosas.
Algumas recomendações nutricionais para adaptação dos animais são:
• Disponibilidade de água de boa qualidade em quantidades suficientes e de fácil acesso.
• Mistura mineral à vontade (posteriormente incluído na dieta total).
• Dieta rica em volumosos de boa qualidade com baixa energia, que deverá ser aumentada gradualmente.
• Evitar inclusão de uréia nos 3 primeiros dias, iniciando programa de adaptação a uréia à partir do quarto dia.
• Fazer a distribuição de alimentos em pequenas quantidades várias vezes ao dia, sendo assim, mais vezes os animais serão avaliados pelos tratadores durante o dia.
Após o período de adaptação, pode-se iniciar o fornecimento das dietas previstas para o período de confinamento, com a inclusão progressiva de grãos na dieta. Esse manejo é necessário como preventivo à ocorrência de distúrbios digestivos. O fornecimento de alimentos deve ser constante, evitando-se períodos sem disponibilidade de alimentos no cocho. O fato dos animais ficarem sem alimentos por algum tempo pode levar ao consumo excessivo de alimentos, e a ocorrência de distúrbios digestivos.
O tempo de alimentação de animais em confinamento apresenta relação direta com a quantidade de marmorização, apresentando um platô por volta dos 112 dias, em dietas com alta quantidade de concentrado. Em relação às quantidades de lipídios totais na altura da 12a costela, os valores dobram de 84 para 112 dias de alimentação, porém não apresentaram diferença entre os dias 0 e 94, e 112 e 196 (Duckett et al., 1993).
O aumento da quantidade de lipídios, com o aumento do período de alimentação está relacionado ao aumento do tamanho do adipócito, visto que a quantidade de fosfolipídios (estrutural – membrana) permanece constante.
Segundo Erickson et al. (2000), a quantidade de carcaças classificadas como “choice” (USDA) aumentou de 20% aos 84 dias de confinamento, para 80% aos 100 dias, permanecendo constante até os 120 dias de tratamento.
Adição de carboidratos à dieta
A alta inclusão de fontes de carboidratos com elevadas taxas de degradação ruminal para bovinos, podem resultar em queda na digestão de fibras da dieta. Acredita-se que essa menor digestibilidade de fibras seja devido à alguns fatores como: mudança na população microbiana ruminal, devido à alterações no pH ruminal, alterações na colonização dos microorganismos sobre as partículas dos alimentos e diminuição da atividade fibrolítica das enzimas de degradação.
Andrae et al. (2001) avaliaram a inclusão de cevada em dietas à base de forragens, sobre a digestibilidade de fibra, alterações na população de bactérias fibrolíticas e atividade das enzimas responsáveis pela degradação de carboidratos. Foram utilizadas duas dietas experimentais, sendo uma com 93% de feno não picado (Dactylis glomerata) e 7% palhada, e outra com 33% de feno não picado (Dactylis glomerata), 7% palhada e 60% de cevada peletizada.
Como esperado, o pH ruminal foi menor para a dieta com inclusão de carboidratos de rápida degradação em relação à dieta à base de feno e palhada. A queda do pH ruminal se deu claramente devido aos diferentes produtos de fermentação da cevada e do feno, o que ficou demonstrado pela maior diminuição do pH após a alimentação. A degradabilidade efetiva do feno diminuiu 6,4 pontos percentuais para dieta com inclusão de carboidratos em relação à dieta com feno.
Referências bibliográficas:
ANDRAE, J.G.; DUCKETT, S.K.; HUNT, C.W.; PRITCHARD, G.T.; OWENS, F.N. Effects of feeding high-oil corn to beef steers on carcass characteristics and meat quality. J. Anim. Sci., v.79, p. 582-588, 2001.
DUCKETT, S.K.; WAGNER, D.G.; YATES, L.D.; DOLEZAL, H.G.; MAY, S.G. Effects of time on feed on beef nutrient composition. J. Anim. Sci., v. 71, p.
ERICKSON, G.E.; MILTON, C.T.; FANNING, K.C.; COOPER, R.J.; SWINGLE, R.S.; PARROT, J.C.; VOGEL, G.; KLOPFENSTEIN, T.J. Interaction between bunk management and monensin concentration, on finishing performance, feeding behaviour, and ruminal metabolism during na acidosis challenge with feedlot cattle. J. Anim. Sci., v. 81, p. 2869-2879, 2003.
14 Comments
Muito interesante essa matéria. O confinamento é um grande investimento e de retorno certo.
Boa tarde, gostaria de saber em relação ao semi-confinamento, como e quanto fornecer se você não tem como saber o quanto o pasto está fornecendo para o animal.
Quanto precisaria de NDT e PB uma ração para semi confinamento, para animais de 350 kg precisando ganhar 1,0kg/dia.
Muito obrigado!
Resposta do autor:
Prezado Marcelo,
Nesses casos, faz-se necessário a análise bromatológica da pastagem, e uma projeção da ingestão total de matéria seca, considerando uma variação de 1,8 a 2,2% do peso vivo em MS.
Dessa maneira, você pode simular e formular com maior precisão. Vale lembrar que a estimativa que fazemos, depende muito da experiência do profissional, e das condições locais.
De maneira geral, uma ração para semi-confinamento, deve ter de 16-18% PB (varia de acordo com a forragem) e o máximo de NDT, com consumo de 1-1,2% PV em MS. Gostaria de reafirmar que a melhor solução é uma avaliação, valores médios e gerais são muito perigosos!
Não há receita de bolo para a máxima eficiência.
Forte abraço.
André Alves de Souza
Quais são as quantidades diárias de arraçoamento dos animais de 350 kg de peso médio, confinados.
Resposta do autor:
Prezado colega,
Para animias de 350 kg de peso vivo, espera-se um consumo de 7,5 – 8 kg de matéria seca/cabeça/dia.
Um forte abraço.
André A. Souza
Gostaria de saber como é realizada a adaptação em confinamentos que já iniciam a dieta com alto teor de concentrado. E também se há grande limitação do uso de NNP.
Resposta do autor:
Prezado Thiago,
O processo de adaptação de bovinos à dietas com altos teores de concetrado é realizada para “ajuste” da flora ruminal às novas condições de ambiente ruminal. Para isso há interferência de diversos fatores como genética, nível nutricional prévio, quanitdades totais de concentrado, tipo de manejo de cocho utilizado, dieta total, etc.
Bom, de maneira geral, fazemos a inclusão gradativa do concentrado na dieta total dos animais, com aumentos de 20-25% do concetrado a cada 5-7dias. Dessa maneira, na primeira semana, os animais receberiam 20-25% da quantidade total de concentrado, 40-50% na segunda, e assim por diante. Vale lembrar, novamente, que diversos fatores vão interferir no processo, devendo ser feito com acompanhamento técnico.
Em relação as quantidades de NNP, a quantidade máxima a ser utilizada irá depender dos demais ingredientes da dieta, não devendo passar de 1% da matéria seca da dieta total a grosso modo. Para fazer um ajuste mais realista desse parâmetro é necessário a utilização de programas que façam a simulação ruminal.
Forte abraço.
André Alves de Souza
É com muito prazer que inicio minha relação de contatos com o BeefPoint, e já percebo suas qualidades de trabalho a nossa disposição, obrigado.
Quanto a esse artigo, vejo com muita importância. Pois tendo uma adaptação dentro de um rigor e monitoramento, com certeza teremos um animal com ótimas condições de se desenvolver durante o tempo de confinamento com sucesso, tanto no comportamento e ganho de peso do animal.
Caro André,
Para dietas mais desafiadoras, como aquelas de 100% de concentrado, trabalhando com caroço de algodão, sorgo, farelo de soja e casquinha de soja como fonte de fibra, qual a forma mais rápida de se fazer a adaptação?
Somente a monensina e leveduras conseguem manter o Ph ruminal ou devemos trabalhar com tamponantes como bicarbonato de sódio?
Abraços
Resposta do autor:
Prezado André,
Como descrito no artigo, diversos fatores interferem na adaptação dos animais ao confinamento, sendo uma delas a formulação da dieta, a presença ou não de fibras, a efetividade da fibra, etc.
Portanto, fica muito difícil eu fazer alguma afirmação para essas situações, pois nesses casos (acima de 90% concentrado) trabalhamos no limite, e todo detalhe é de extrema importância para ocorrência ou não de um distúrbio metabólico.
De qualquer maneira, é possível sim fazer a adaptação desses animais em 7-15 dias, com a utilização de aditivos (tamponantes, ionóforos), sem problemas para o restante do período de confinamento.
Grande abraço.
André Alves de Souza
Dr. Nutrição e Produção Animal – ESALQ/USP – Unesp
Caro André, gostaria de saber como posso fazer uma dieta em confinamento com peso inicial de 350 kg com o que eu tenho mais proximo na regiao de RO, È milho, sogo semente de algodao, qual o volumoso que devo usar por kg/cab/dia. Se pode ser em forma de silo, ou posso dar direto apos o corte? Quais serao o periodo de adaptaçao desses animais em relaçao a formula? Gostaria de saber mais sobre este assunto se tem alguma bibliografia indicada nesses casos.
Prezado Luiz Guilherme,
O processo de formulação e avaliação de dietas deve ser complexo e minucioso, pelo fato da bovinocultura de corte ser uma atividade econômica, e portanto, deve gerar lucro. A formulação pode levar em consideração somente a exigência nutricional do animal, mas também os custos de cada insumo, as quantidades disponíveis, o grupo genético, o manejo nutricional, o maquinário utilizado, etc.
Portanto, não existe uma única solução ideal para a formulação, e sim diversas possibilidades para cada situação.
Os ingredientes que você possui, permitem uma excelente formulação em relação aos níveis nutricionais, porém devem ser avaliados todos os demais fatores para a decisão de quanto de cada ingrediente será usado, ok?
Forte abraço.
Gostaria de saber, o que você acha da utilização de probióticos na dieta animal para diminuir esse período de adaptação dos animais em confinamentos?
Prezado Donato,
O uso de probióticos apresentam resultados favoráveis quando os animais estão passando por algum tipo de situação de estresse. As pesquisa demonstram que os probióticos são eficientes em “reequilibrar” o desequilíbrio causado pelo estresse. Importante salientar que ao falarmos sobre estresse, devemos considerar sua intensidade, bem como o tempo de ocorrência. No caso de início de confinamento, em que está ocorrendo uma grande mudança no ambiente de na alimentação, esses fatores são geradores de estresse. Portanto, avalie qual o nível de estresse está ocorrendo em sua realidade, e a partir daí tomar a decisão de usar ou não os probióticos para a adaptação.
Forte abraço.
Dr André,
O Sr tem alguma experiencia com o uso de prebiótico nesta fase e sua eficácia? Ou se já trabalhou com simbiótico para Bovinos de confinamento? Obrigada,
Prezada Flávia,
Não trabalhei em pesquisa com esses produtos, porém existem trabalhos disponíveis na literatura. Os resultados da literatura mostram evidências de resultados positivos na presença de algum tipo de estresse.
Forte abraço.
Prezado Dr André
Qual a diferença básica existente entre dietas de alto e baixo grão em dietas de adaptação em confinamento? O que influencia no ganho final e quanto tempo deverá ser a adaptação?
Muito obrigada
Prezado André Souza,
Primeiramente, gostaria de dizer que suas publicações são excelentes e contribuem, sobremaneira, com o aprendizado de acadêmicos como é o meu caso.
Bem, partindo do principio de que no estado de Pernambuco não dispomos de confinamentos de grande relevância no mercado de gado de corte. Gostaria de saber se um pequeno confinamento com aproximadamente 50 animais, alimentados a base de concentrado( farelo de milho ou sorgo, f. de soja, f. de algodão) e volumoso (capim elefante, palma forrageira e ou cana de açúcar) demonstra a obtenção de bons resultados de ganho de peso e conversão alimentar.
Considerando os ingredientes acima citados. gostaria que V. sr. opina-se, dentre os volumosos disponíveis, qual seria e de melhor resultado.
Grato,
Willames Luiz – Acadêmico de zootecnia da UFRPE