Fechamento 12:07 – 21/03/02
21 de março de 2002
França poderá ter multa de US$ 557 mil por dia devido ao embargo à carne bovina britânica
25 de março de 2002

Aditivos microbiológicos: considerações sobre seu uso em silagens (Parte 1/2)

Recentemente recebi duas perguntas feitas por leitores dos artigos publicados nos radares técnicos, o que me fez pensar sobre um novo artigo a respeito do assunto aditivos microbiológicos, apesar do mesmo já ter sido discutido algumas vezes. Primeiramente transcreverei as duas questões formuladas:

“Aditivos bacterianos para silagem de milho e sorgo. Gostaria de saber mais sobre aditivos bacterianos para silagens de milho, sorgo, cana de açúcar e capins tropicais. Quais avanços a pesquisa brasileira tem nessa área? O que dizem pesquisadores, técnicos e produtores europeus, norte-americanos e brasileiros sobre a eficiência dessa tecnologia?”

“Já pesquisei os artigos técnicos de seu site, e não encontrei nada sobre o uso de aditivos para melhorar a qualidade e a conservação de silagens de grão úmido, queria que vocês me auxiliassem com alguma informação.”

Para tentar responder da melhor forma possível essa questão do uso ou não de aditivos microbiológicos em silagens, tanto de milho, quanto sorgo, girassol, gramíneas tropicais, grãos úmidos, etc.., gostaria de fazer uma análise crítica da situação da maioria das propriedades onde há pecuária de corte e leite. Dentro dessa caracterização de uma pecuária não tecnificada, podemos identificar alguns pontos importantes, a saber:

Administração: As unidades pecuárias não possuem adequado gerenciamento administrativo, na maioria das vezes não possuem sequer contabilidade. Isso inclui coleta e análise de dados, cálculo de custos de produção, planejamento e tomada de decisões, orçamentos, análises de mercado, simulações, projetos de curto, médio e longo prazo, ou seja, profissionalismo como uma empresa rural, independente do tamanho físico da propriedade;

Aplicação de tecnologia: O que se pode afirmar hoje é que há pesquisa disponível, mas, por inúmeros fatores, esta não tem sido aplicada corretamente, ou mesmo até ignorada. A extensão ineficiente, a falta de treinamento dos extensionistas, a falta de integração entre instituições de pesquisa, ensino e extensão, a distância entre o pesquisador e o cliente produtor rural, a ausência de capacitação do trabalhador rural, a falta de recursos ou o seu alto custo, a ausência de enfoque regional, a falta de uma política governamental de longo prazo (política agrícola), entre outros fatores, têm contribuído para manutenção dessa situação. A aplicação de recursos em fatores não produtivos também tem sido causa de inúmeros insucessos, sendo necessário um investimento primário em qualidade e custos da produção de alimentos volumosos;

Cooperativismo / Associativismo: Um dos pontos fracos mais evidentes do setor agropecuário é a necessidade de fortalecimento do poder de negociação. A união de inúmeros produtores para aquisição de insumos e equipamentos, uso de máquinas, compra e venda de produtos, terceirização de atividades, principalmente de colheita, parece ser a única saída para uma melhoria significativa do profissionalismo e da rentabilidade no meio rural. A visão de microbacia deve ser encarada de uma forma mais ampla, e não apenas para manejo de solos, mas para a atividade como um todo;

Recuperação e preservação ambiental: Todas as propriedades rurais precisam se preocupar com a questão ambiental como um fator de produção, protegendo adequadamente mananciais e margens de rios, áreas de florestas, evitando a contaminação de lençóis freáticos, rios e mananciais (manejo de pesticidas e resíduos), além de pagamento pelo uso da água e necessidade de otimização do seu uso, reciclagem de nutrientes, erosão e fertilidade de solos, uso indevido de queimadas, etc..;

Qualidade de produtos (carne e leite): Tanto a produção de carne quanto, principalmente, a de leite requerem atualmente do produtor uma preocupação crescente no tocante à sua qualidade, já que tanto a indústria quanto o consumidor final estão mais exigentes quanto às características do produto adquirido. Desta maneira, itens como pagamento por qualidade, coleta a granel, tanque de expansão para resfriamento, manejo sanitário, identificação de resíduos na carne e no leite, tipificação de carcaças, rastreabilidade, cruzamentos, contagem de células somáticas, entre outros, precisam ser considerados em qualquer sistema de produção;

Política Agrícola: A falta de uma política de médio e longo prazo, associada a importações, globalização, fortalecimento das empresas compradoras (laticínios e frigoríficos), subsídios, barreiras não tarifárias, tendência de redução do número de propriedades rurais e aumento do seu tamanho (concentração de terra e falta de estímulo à agricultura familiar) contribui para o empobrecimento e enfraquecimento do setor rural.

Comentário BeefPoint: com essas considerações iniciais eu gostaria de iniciar a minha resposta com algumas questões importantes. Qual o nível de profissionalismo da propriedade em que se pretende utilizar o aditivo ? Há mecanismos de coleta e análise de dados ? Com esses dados é possível avaliar o impacto da introdução de uma nova técnica sobre a rentabilidade do sistema ? Além de algumas mudanças visuais, o controle do sistema permite avaliar reduções ou melhorias de poucos pontos percentuais ? Se as respostas forem negativas ou não existirem, acredito que a melhor resposta para os dois leitores seja a de não utilizar aditivos microbiológicos, pois a relação custo/benefício provavelmente será desfavorável, ou, na maioria da vezes, impossível de ser determinada. Se os benefícios não podem ser avaliados, ainda há justificativa para o uso de uma nova técnica ? Será que apenas alguns indícios visuais favoráveis já são garantia de melhor desempenho animal e maior lucratividade ? Se não há avaliação quantitativa criteriosa, ainda acho prudente a não utilização deste produto.

Os comentários estão encerrados.