Durante a semana recebemos mais um contato de um leitor que vem acompanhando essa discussão com o seguinte comentário:
“Achei bastante oportunos os comentários a respeito da desestruturação administrativa, política, técnica e outras, para questionar o uso ou não de aditivos em silagens. Contudo, gostaria de saber, caso não esteja adiantando o próximo artigo, sobre o uso dos aditivos quando num bom domínio dos fatores, técnicos e econômicos“.
Dando continuidade à discussão sobre o uso ou não de aditivos microbiológicos, após uma análise crítica da situação das propriedades rurais como um todo, verificamos que há muito a ser feito no sentido de tornar nossas fazendas empresas agrícolas, então, logicamente que muito da tecnologia disponível fica relegada a um segundo plano, por uma impossibilidade de aplicação para aumento da rentabilidade do empreendimento. Num jargão popular, diríamos que o buraco é mais embaixo. No entanto, neste segundo artigo, alguns pontos críticos do processo de produção de silagem serão discutidos, supondo que muito do que foi abordado anteriormente tenha sido em grande parte superado, tentando assim concluir sobre a necessidade ou não do uso destes aditivos.
O comentário do referido leitor vem de encontro ao que pretendemos expor neste artigo, salientando que dentro das considerações anteriores, citamos a importância da aplicação de recursos em fatores produtivos, enfatizando a produção de alimentos volumosos de alta qualidade e baixo custo. Não vamos repetir detalhes apresentados no artigo intitulado “Sistema de produção de silagens”, publicado em setembro de 2001 (clique aqui para ver o artigo), porém vamos relembrar a importância de uma visão mais ampla do processo de produção de silagens, desde o plantio até o balanceamento de rações (Figura 1).
Uma vez que haja uma administração eficiente da propriedade como um todo, desviamos o foco para o processo de ensilagem em si. Há a mesma eficiência? Todos os itens importantes estão sendo considerados, tais como: época de plantio, manejo agrícola, época de colheita, regulagem de máquinas colhedoras, número de tratores e carretas (tempo de enchimento), forma de enchimento e desensilagem, tipo de silo, etc? (Figura 2).
Para ilustrar a importância de boas práticas na produção de silagens, ouve-se freqüentemente uma história a respeito de um produtor curioso que queria descobrir como seu vizinho conseguia produzir uma silagem de alta qualidade. Indo a esta propriedade, encontrou embalagens de aditivos microbiológicos e supôs ter encontrado a chave do sucesso. Após a continuidade do problema de qualidade, resolveu voltar à propriedade vizinha, indagando sobre o uso daquele produto. O vizinho respondeu que apenas comprava uma unidade anualmente para verificar se as instruções do rótulo de como fazer silagem estavam com alguma novidade. Respondeu que o seu sucesso estava relacionado ao fato de seguir a risca as recomendações, e não propriamente do uso do aditivo. Independe da qualidade da reprodução dos fatos acima relatados, o que importa é que as boas práticas de execução são realmente a chave do sucesso.
Com relação ao princípio de utilização dos aditivos microbiológicos, vamos lembrar que tudo que o que fazemos na ensilagem tem como objetivo tornar o ambiente anaeróbio, ou seja, sem a presença de oxigênio. A umidade do material ensilado está diretamente relacionada com facilidade de compactação. Quanto mais úmido mais fácil compactar, porém, haverá maior produção de efluente e mais água para dificultar o abaixamento do pH, além de uma posterior redução da ingestão de matéria seca. Da mesma forma, o tamanho de partícula (Figura 3) também influencia, pois quanto menor o seu tamanho, melhor a compactação. Igualmente, haverá necessidade de correção da fibra efetiva (tamanho físico das partículas da dieta) no momento do balanceamento da ração. A velocidade de enchimento é importantíssima, já que quanto mais tempo sem anaerobiose, mais consumo de açúcar pelos fungos leveduras e bactérias aeróbias (aquecimento e perda de qualidade). Por fim, a freqüência e a pressão exercida durante o enchimento serão fatores importantes na compactação da massa ensilada. Se não bastasse tudo isso, a quantidade de bactérias lácticas e açúcares solúveis presentes na planta é que ditará a taxa de crescimento desses microrganismos desejáveis e a velocidade de redução do valor do pH inicial, normalmente entre os valores 5 e 6.
Portanto, para que haja algum resultado positivo na utilização de aditivos bacterianos na ensilagem, a contagem inicial disponível deve ser baixa, além de haver uma condição ambiental favorável (anaerobiose e açúcares solúveis). Quantos dados de contagens de bactérias lácticas estão disponíveis? Desconheço ainda a disponibilidade destes dados. Finalizando essa parte, ainda chamo a atenção para o processo de desensilagem e do balanceamento das rações. Será que não são ainda as principais fontes de perdas do processo?
A pesquisa, tanto internacional quanto nacional, tem fornecido dados bastante distintos com relação aos resultados, tanto positivos (2 a 5 % de ganho) quanto neutros ou até negativos, mas poderíamos dizer que os aumentos de qualidade fermentativa final não são muito significativos pelos dados normalmente avaliados, sendo um dos seus efeitos principais uma aceleração do abaixamento do pH e um aspecto visual melhorado, principalmente com relação à coloração. E os ganhos em produtividade animal? Dificilmente os experimentos contemplam toda a cadeia, mas é possível que esta apareça com mais freqüência do que se possa imaginar, porém os dados disponíveis não são conclusivos.
Comentário BeefPoint: avaliando as considerações anteriores, levando em conta toda a complexidade do processo, a pesquisa disponível e a situação comum das propriedades que produzem silagens, somando-se aos preços ainda elevados destes produtos no mercado (US$ 1 a 2/ tonelada de matéria verde), tenho optado pela não recomendação do uso de aditivos microbiológicos, assim como outros inúmeros pesquisadores, tanto para silagens de milho e sorgo, quanto para silagem de grãos úmidos e até de silagens de gramíneas tropicais. Isso não significa que, como pesquisador, eu seja contra, e muito menos esteja me mantendo neutro, o que quero dizer é que ainda se faz necessário muita pesquisa para definirmos um produto que utilize cepas nativas, em quantidades suficientes, com baixo custo e aplicado em situações propícias, avaliando-se desde a cultura no campo até o desempenho animal. Ficam algumas perguntas ao leitor: Qual a qualidade do seu processo e do produto final obtido? Quais são os pontos críticos do seu processo que podem ser melhorados? Você será capaz de medir a relação custo/benefício da utilização deste aditivo?