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Administração de propriedade rural : ( vi ) análise de risco: investimentos e custeio operacional

Em meu ultimo artigo no Beefpoint, veiculado em 09/10/02, mencionei que continuaria a escrever sobre um assunto vital para uma atividade como a nossa, que opera com pequena margem de lucros: sistema de levantamento de custos de produção, e normas gerais para uma boa administração de propriedade rural, independentemente de seu tamanho, e da complexidade de suas atividades.

Perdoem minha ausência de modéstia: a Fazenda Água Milagrosa tem um dos melhores e mais abrangentes sistemas de gestão de empresa rural do Brasil. Permito-me a falta de modéstia pois nada é fruto da influência ou labuta de uma pessoa só, e sim de uma equipe bem entrosada, motivada e competente. E muito, muito trabalho.

O artigo de hoje é o ultimo da série, e o tema é: (VI) Análise de risco: investimentos e custeio operacional.


Novilhas de 1a cria

Se você perdeu os artigos anteriores, intitulados (I) PRINCÍPIOS BÁSICOS e (II) OBJETIVOS , (III) PARÂMETROS e DEFINIÇÕES, (IV) COMO FAZER LEVANTAMENTO de CUSTOS ?, e (V) COMO FAZER ANÁLISE de RESULTADOS ?, procure nesta mesma seção do BeefPoint, que você os encontrará na lista de artigos já publicados. Se você os imprimir, terá montado uma “apostila” a respeito deste assunto crucial, mas ainda não encarado, a meu ver, com a devida importância por entidades de ensino dirigido à agropecuária.

Ou, ainda mais fácil: o BeefPoint estará disponibilizando para seus leitores cadastrados, os artigos já em formato de “apostila”. Será portanto, um “brinde” do BeefPoint e da Fazenda Água Milagrosa.

Encerro esta série de artigos já com uma ponta de saudade. Ao longo destes meses você, leitor – foi meu companheiro e incentivador constante. Recebi dezenas de e-mail, e alguns telefonemas e cartas: argüindo, perguntando, discordando – mas sempre apoiando. Esta “interface” com o público é, para mim, essencial. Onde esta série de artigos tiver méritos, sejam eles creditados aos leitores do BeefPoint e ao próprio veículo. Mas onde se encontrar falhas, sejam elas debitadas ao autor, e dele apenas.

ADMINISTRAÇÃO de PROPRIEDADE RURAL:(VI)ANÁLISE de RISCO: INVESTIMENTOS e CUSTEIO OPERACIONAL

Gostaria de mencionar que a maioria dos parâmetros e definições , aqui descritos, são de uso generalizado, e alguns poucos são específicos da Fazenda Água Milagrosa. Tudo o que mencionei nesta série de artigos, é cópia fiel do que fazemos na Água Milagrosa. E o que fazemos não é o melhor, nem o pior. Simplesmente é o mais adequado às nossas necessidades.

Pensei encerrar esta série com um artigo bastante técnico de “análise de risco”, amoldando à atividade rural modelos utilizados por instituições financeiras e grandes empresas. Mas estes modelos – ou sistemas – são facilmente encontrados na literatura especializada, e tratados de maneira bem mais didática e competente do que eu teria condições de apresentar. Assim, resolvi tratar este tema de forma mais filosófica e coloquial, que propriamente com aridez técnica.

Há basicamente três tipos de risco em nossa atividade: empresarial, climático e político. E a interação e sinergia entre eles, que jamais deve ser esquecida, ou subestimada.

1. Risco empresarial:

1.1. Começa pela decisão de “investir”, e se estende pelos custos operacionais necessários ao longo dos anos, para ver o investimento inicial frutificar.

1.2. Já vimos, em capítulos anteriores – se bem que de forma apenas conceitual – como se deve tomar a decisão de investir nisto ou naquilo. Esta decisão deve ser friamente analisada,pois acarreta inexoravelmente, além do investimento em si, os custos operacionais (ou custeio) decorrentes.

1.3. Uma decisão de investimento mal tomada, condena o empresário rural a ter de optar por uma de três atitudes, todas indesejáveis:

1.3.1. O “write off” do investimento, i.e. assume-se o que se gastou até então como perdido, e abandona-se a atividade inviável.

1.3.2. Persiste-se, para não perder os investimentos já feitos, mas a sangria financeira permanece, através de custeios operacionais, o que pode levar a empresa a uma situação difícil.

1.3.3. Recusa-se a ver a realidade, e tenta-se “salvar” o investimento feito através ajustes aqui e acolá, em tentativa – normalmente vã – de tornar viável o que não é.

1.4. Das três “atitudes” mencionadas acima, a pior é, normalmente, a terceira. E por que ? Pois em geral é a que compromete mais capital a um projeto condenado. E a “menos ruim” é a primeira. Assume-se o prejuízo e estanca-se a sangria.

1.5. Ao longo de minha vida profissional, e em diversos ramos de atividade empresarial, assisti, com a angústia da impotência, pessoas inteligentes e competentes enveredarem pelo pior caminho. Em geral, tendo como causa, simplesmente, o orgulho.

1.6. Valeu-me muito uma singela lição que, ainda adolescente, recebi de um dos maiores empresários que este país já conheceu: Sr. Sebastião Camargo, fundador da Camargo Corrêa. Acompanhei, certa feita, meu pai ao escritório do Sr. Sebastião Camargo e, em um intervalo da conversa entre os dois, vendo uma pilha de documentos e relatórios sobre a mesa do Sr. Camargo, perguntei a ele, com a inocência e impertinência própria dos muito jovens: “Deve ser muito difícil administrar tantas empresas, ler tantos relatórios, tomar tantas decisões…”. Com um sorriso extremamente amável, ele respondeu-me: “Nem tanto meu filho. Eu sempre analiso primeiro o fluxo de caixa da empresa em questão. Se for bom, aprofundo a análise. Mas se for ruim, já sei que medidas saneadoras e urgentes terão de ser tomadas”.

1.7. Eu nunca tive a oportunidade de agradecer o Sr. Sebastião Camargo por este aparentemente óbvio, porém extremamente sábio conselho. Se você enveredar por um investimento que esteja comprometendo seu capital de giro, e contaminando seu fluxo de caixa, pare. Tome a atitude do jogador de roleta que se impõe limites. E em circunstância alguma, os desrespeite ou ultrapasse.

1.8. Analise a vocação de sua região, em relação ao mercado, como também em função da logística de produção, transporte e armazenamento. Analise cuidadosamente o potencial agronômico de sua propriedade, e se ela é adequada, inclusive quanto a ganhos por escala, à atividade pretendida.

1.9. Se possível, diversifique: dá mais trabalho, sem dúvida, mas confere mais segurança e estabilidade. E quando eu menciono “diversificar”, não estou me referindo apenas ao fato de se ter mais de uma atividade. Diversifique também o perfil gerencial. Se sua propriedade for grande, e se sua região não for monocultora, estabeleça uma atividade em forma de parceria, outra sob regime de arrendamento, e reserve para você o seu “core business”.

1.10. Se puder acrescentar mais um singelo conselho, diria: faça aquilo que você gosta, analise e siga a “sua” vocação pessoal. Se a atividade empresarial não for intelectualmente estimulante, se você não estabelecer empatia com ela, dificilmente terá sucesso. Eu me considero um empresário razoavelmente bem sucedido em diversas áreas, mas sempre fui um total fracasso em relação à cafeicultura. Esta atividade jamais me seduziu, exceto pelo hábito de consumir o produto. O problema não está, obviamente, com a cafeicultura, e sim comigo. Quando “assumi” a Fazenda Água Milagrosa, há cerca de 30 anos atrás, tínhamos bem mais de 1.000.000 de pés de café. Hoje temos zero. Era um caso claro de “ou ele ou eu”. Tomei a decisão, implementei-a, e não me arrependo.

1.11. E, por favor, jamais aceite investir em uma atividade que conjugue as seguintes características: baixa T.I.R. (ou seja, investimento de longa maturação) e alto risco (seja o “risco” climático, ou pelo fato do produto não ser estocável, ou risco mercadológico). Esta é uma combinação letal. Para não ficarmos revolvendo apenas em generalidades, permitam-me mencionar uma atividade que, a passos largos, aproxima-se desta “combinação letal”: citricultura. E por que ?

1.11.1. O investimento de implantação é alto. E cada vez mais. As pragas que assolam a citricultura (CVC, cancro cítrico, “morte súbita”, etc.) requerem tratos culturais cada vez mais sofisticados, pontuais e caros.

1.11.2. O investimento inicial sendo maior, assim como o custeio operacional da atividade, mais lenta será a amortização do capital investido.

1.11.3. O “produto” laranja, só é estocável em forma de suco. Assim, ao contrário de milho, soja ou boi, a laranja tem o momento exato para ser colhida e entregue. Falhas logísticas nesta área causam danos incalculáveis. E nem sempre estas “falhas” são atribuíveis ao produtor…

1.11.4. Para se evitar ou tangenciar as pragas elencadas no item 1.11.1 acima, tem-se de adotar porta enxertos, e combinações destes com variedades (copas), que são muito susceptíveis a variações climáticas de uma forma geral. E o clima, nos últimos anos não tem sido um componente confiável.

1.11.5. E, por derradeiro, as relações comerciais “produtores / indústria” são instáveis, e passam por altos e baixos, extremamente perigosos para ambos os lados. Mas especialmente mais perigosas para a parte mais fraca: o produtor rural. Desculpem-me se estiver desanimando alguém a enveredar por esta atividade, a qual, aliás, eu também exerço. Mas, cada vez mais, com extrema cautela – e crescente ceticismo.


Vacas na avenida

2. Risco climático:

2.1. O risco climático é de uma obviedade atroz, admito. Mas nem sempre as coisas óbvias são levadas a sério. Daí minha decisão de mencionar “clima” como um risco.

2.2. E clima, é bom que se diga, não é mais aquele “risco inerente à atividade” com que nossos pais e avós conviveram. Seja por “efeito estufa”, desmatamento, poluição urbana e industrial, o clima está cada vez mais imprevisível, e notadamente para pior. Dou um exemplo: Entre os meses de dezembro de 2001 e março de 2002, a Água Milagrosa (que é posto oficial do DAEE), acumulou mais de 1.000 mm de precipitação pluviométrica. Porém, em período de quase seis meses, do dia 28 de março até 14 de setembro de 2002, choveu apenas 86 mm – e ainda assim chuva mal distribuída, acompanhada de temperaturas mais altas que o normal, e umidade relativa do ar bem abaixo da média histórica de dez anos.

2.3. Como diz o Dr. João Jacob Hoelz, um dos maiores agrônomos que este país já conheceu, para se igualar fazenda com indústria, “ou se põe telhado em fazenda, ou tira o telhado da indústria”. Fato é que dependemos umbilicalmente do “clima”, de sua previsibilidade e constância. Como estas características tornam-se cada vez mais escassas, meu conselho acaciano é: fujam de atividades onde você estará majoritariamente à mercê do clima. Exceto, é claro, se você tiver recursos como irrigação a custo compatível, ou bola de cristal.

3. Risco político:

3.1. Este é um assunto que eu preferia não ter de abordar. Mas é inevitável. Pois se somos a “agricultura” mais taxada, e menos protegida do mundo, ainda somos vítimas de estúpido e injustificável preconceito. Aliás, dizer que é “injustificável” talvez não seja o termo correto, já que o preconceito é justificado pela mais total ignorância sobre a matéria, por boa parte daqueles que doutrinam sobre a agricultura brasileira, com a arrogância típica dos ignaros.

3.2. Não desejando ser redundante, sugiro ao leitor que, se tiver interesse sobre a matéria, acesse dois artigos meus, veiculados no BeefPoint, nesta mesma seção “Espaço Aberto”:
Preconceitos contra a agropecuária brasileira: um depoimento pessoal– veiculado em 31/07/2002 e…
Mitos que assolam a agropecuária brasileira – veiculado em 09/08/2002

3.3. O que vou mencionar nos itens seguintes deve ser entendido como sendo convicções pessoais minhas:

3.3.1. Em primeiro lugar, tenho a maior simpatia por todos os que desejam abraçar esta nobre e sofrida atividade, mesmo que membros do MST. Mas desde que realmente desejem ser agricultores, e não agitadores.

3.3.2. Em segundo lugar, eu me considero “dono circunstancial da terra”, e concordo que, dentro de limites razoáveis, tenhamos realmente uma missão social a cumprir.

3.3.3. Em terceiro lugar, que se trabalhe seriamente e sem demagogia para diminuir as abissais diferenças de renda entre indivíduos, etnias e regiões no Brasil. Não há país no mundo que haja prosperado consistente e pacificamente sem que estas precondições hajam sido resolvidas, ou, ao menos, equacionadas.

3.3.4. Finalmente que as mesmas leis que nos obrigam, também nos protejam – o que não é privilégio, e sim direito Constitucional. Se assim não for, instaura-se a lei do mais forte e cristaliza-se o desrespeito às leis. Como falar em justiça social em ambiente de flagrante desrespeito às leis, e aos direitos mais elementares do cidadão ?

3.4. Escrevo este artigo ao cair da noite de um sábado, dia 27 de setembro de 2002. Estamos a oito dias das eleições. Quando este artigo vier a ser publicado, um novo presidente da República provavelmente já terá sido eleito. Em grande parte, deste homem dependerá se a brilhante trajetória da agropecuária brasileira dos últimos anos será mantida, estimulada, ou sufocada. Mas como me propus a mencionar “riscos políticos”, vamos a eles, de maneira sucinta, para não levar o leitor a precoce, e talvez desnecessária, depressão:

3.4.1. O primeiro e mais óbvio “risco político” é o de invasão de sua propriedade rural. Ou, como se diz atualmente, “ocupação pacífica”, como se invasão, em si própria um ato de violência – por ditame legal – pudesse ser pacífica. Isto é agravado por:

3.4.1.1. Absoluta indiferença a ordens judiciais de reintegração de posse – o que, fosse a Constituição obedecida, determinaria intervenção federal em estados cujos governadores não cumprissem ordens judiciais.

3.4.1.2. Não se verifica indenização pelos elevados danos causados às propriedades, sejam danos patrimoniais, sejam por lucros cessantes. Ou talvez, pior ainda, por danos morais, porque o que boa parte da população urbana não sabe, ou não percebe, é que nossa fazenda não é apenas nosso negócio. É também o nosso lar.

3.4.1.3. Danos ambientais seríssimos são cometidos sem que qualquer atitude de coibi-los por parte das “autoridades” seja tomada, o que as torna, de certa forma – coniventes. Até reservas florestais já foram invadidas e queimadas, sem que qualquer providência eficaz fosse tomada.

3.5. Outro “risco político” é de ordem tributária e fiscal, e que pode se manifestar de várias formas:

3.5.1. Aumento de alíquota ou forma de cálculo que onere crescentemente propriedades por área. Ou seja: se for grande é ruim, independentemente de produtividade, respeito às leis trabalhistas e previdenciárias, e preservação do meio ambiente.

3.5.2. Outra forma clássica é a tributação à produção que pode ser feita de uma de duas formas, ou ambas: tributa-se mais os insumos e/ou tributa-se mais o produto agrícola. O próprio governo FHC já deu sua “contribuição” neste sentido, ao editar a MP 66 e seu famigerado artigo 12, que esperemos já tenha sido revogado quando o leitor estiver lendo esta matéria.

3.5.3. E por aí deságuam diversas vertentes ou possibilidades, como a revogação pura e simples da “Lei Kandir”, que desonerou (em parte) exportação de bens semimanufaturados, inclusive os oriundos da agropecuária. Ou tributações de cunho “ambiental”, ou, ou…. É só o leitor dar asas à imaginação para ver quantas possibilidades existem para o que economistas americanos da década de 70 – “especialistas” em países do 3o Mundo – chamavam de “squeeze agriculture” (espremer a agricultura) – como forma de transferência de renda de atividade que julgavam poucos “nobres” para outras, mais intensivas em valor agregado de produção.

3.6. Enfim, prezado leitor, é tão mais fácil destruir que construir, que a tentação às vezes torna-se irresistível. Mesmo com este viés melancolicamente pessimista, mantenho a fé no meu país, sobretudo na agropecuária brasileira, que tem demonstrado competência como nenhuma outra atividade econômica deste país, e, assim, é a que mais tem contribuído para o progresso, emprego e distribuição de renda do Brasil. Não devemos esperar que isto seja reconhecido. Devemos exigir. Mas, para tal seria necessário que fossemos mais unidos, mais coesos em torno de um objetivo comum, e que as entidades que nos representam, fossem mais eficazes e atuantes. Estamos longe de atingir estes pré-requisitos. Mas não são inalcançáveis. Agricultores americanos, europeus e japoneses já conseguiram. Basta querermos. Mas querermos de verdade. Sinto que me desviei exageradamente do objetivo básico desta série de artigos. Retornemos a ele pois.

4. Finalmente, repito alguns conselhos, já mencionados em artigo anterior:

4.1. Tudo o que foi mencionado nesta apostila pode ser feito manualmente (calculadora e máquina de escrever) – ou informatizado. Opte pela informatização: é mais segura, mais rápida e mais barata, no longo prazo.

4.2. Existem programas à venda no mercado de qualidade bastante razoável. Analise o programa. Se for compatível com as suas atividades, ótimo. Caso não, contrate um bom programador. Ele elaborará programas que atenderão suas necessidades específicas.

4.3. Até ter confiança no programa, seja comprado ou desenvolvido especificamente para suas necessidades, gaste um pouco de tempo checando (mesmo que manualmente) os dados apresentados.

4.4. Lembre-se que por melhor que seja o programa, por mais filtros de segurança tenha, de nada servirá se os dados que o alimentarem forem falhos, errados ou insuficientes.

4.5. Por isso, é imprescindível o treinamento e o engajamento de seus funcionários. Se eles não estiverem bem treinados, e nem motivados, a chance de fornecerem dados errados é muito maior. E este erro nem sempre é detectável pelo Gerente de área, antes de passar determinada planilha para o CPD, perpetuando-se assim o erro. Naturalmente, se em um determinado dia um tratorista se enganar no preenchimento da planilha dele (que basicamente diz em que departamento(s) ele trabalhou naquele dia, com que equipamento(s) e quantas horas {em cada}) – pouco efeito este engano terá. Mas se isto ocorrer repetidas vezes, e com diversos funcionários – seu levantamento de custos tornar-se-á uma obra de ficção. O que às vezes é pior do que não ter qualquer sistema de apropriação de custos.

4.6. Determine o nível de detalhamento da apropriação e análise de custos (custeio), desejável para o seu caso. Quanto mais detalhado, mais completo e mais exato será. Mas se o custo deste detalhamento exceder seu nível de necessidade, simplifique.

Tudo o que vai mencionado nesta “apostila” resume-se a algo muito simples: O nível de eficiência não deve ser medido por produtividade apenas. Produtividade é importante, mas deve estar sempre subordinada ao custo de produção E antes de investir, simule com a exatidão possível qual será sua T.I.R.: só assim se saberá se vai valer a pena, ou não.

E, por favor, lembre-se sempre da regra básica:
“Custo é como unha. Você corta, ela cresce. Você corta de novo, ela cresce de novo”

Com toda sinceridade, espero que esta série de artigos tenha sido útil aos leitores do BeefPoint, e, em especial, àqueles que trabalham no ramo agropecuário. A finalidade desta série não era propriamente a de ensinar, mas sim a de chamar atenção a um tema muito relevante e pouco abordado: levantamento de custos de produção, e definir e explicar alguns conceitos importantes. Se tiver obtido êxito apenas nisto, já me darei por satisfeito. Agradeço ao BeefPoint, e a você, leitor – pela paciência de me aturar ao longo destes últimos meses.

Aliás, minha fiel secretária e colaboradora Adriana, sabendo-me trabalhar diversas vezes até de madrugada na confecção e revisão desta série de artigos, uma vez perguntou-me o que “eu ganharia com isto”, já que não vendia consultoria, e era pessoa mais afeita à sombra, que aos holofotes.

Na época não tive resposta convincente, a qual agora me vem à memória junto com a figura de meu pai, Alberto Ortenblad, M.A., ScD (1901 -1994), que, já com mais de 80 anos de idade, ainda plantava jacarandá paulista, ipê, peroba e dezenas de outras essências nativas, que só obteriam cerne – e valor comercial – dali a uns 70 a 100 anos. Não pretendo comparar-me a meu pai, pessoa profícua, desprendida e incrivelmente útil à sociedade. Mas, dentro de minhas possibilidades, o que me motiva é o mesmo sentimento de querer ajudar, compartilhar conhecimento e, embora de forma modesta, tentar construir um país melhor para os meus filhos, e para os seus.


Vacas no bebedouro

0 Comments

  1. João Carlos de Campos Pimentel disse:

    Muito bom seu trabalho. Muito bom mesmo. Você escreve bem, com a alma. Por isso, sente saudades ao terminar.

    Você não deve se aposentar. Você tem mais é de produzir capital social. Você, ao confiar em que o conhecimento que dissemina será bem usado, o fornece para todos, está fazendo isso: produzindo capital social.

    Isto porque você sabe que não basta você – e sua família – estar bem. É importante que os outros – e suas famílias – estejam bem. Quando mais e mais pessoas aumentarem mais e mais sua confiança nas outras pessoas, mais e mais riqueza pode ser e será construída. Mas isto não significa que devemos confiar em absolutamnete tudo, como os tolos. Pelo contrário, significa que devemos forçar – por nós mesmos e pelos tolos – que as pessoas comprometidas com a sociedade realmente realizem o que supostamente devem realizar para cumprirem seu papel .

    Não adianta produzir valor se o ambiente no entorno – seja o sócio-econômico ou o ecológico – é degradado. Não adianta criar valor a partir do solo se o solo é perdido e não poderá ser usado pelas próximas gerações. Da mesma maneira, não adianta criar e armazenar valor a partir da interação com os outros se se empobrece os outros nesta interação. É esta equação que os países ricos da Europa estão descobrindo. É deste paradoxo que a economia – inclusive a agricultura – brasileira padece.

    Na minha opinião, é a falta de capital social – e não a competitividade natural da agricultura – que leva as pessoas a se afastarem e não trabalharem em conjunto, procurando o bem comum .

    Com as gerações se passando, as pessoas do campo que sucumbem a esta competitividade, vão buscar trabalho na cidade e iniciam um outro estágio de competição na vida também sem capital social. E o empobrecimento continua, generalizado.

    Por esta razão, há necessidade de um pensar continuado – por parte das pessoas que aprenderam a pensar e a realizar privadamente – sobre este problema social. Você, que aprendeu a pensar e a realizar – deve agora pensar em como continuar a fazer isso, agora numa escala social. Na verdade, você já faz isso, como a própria publicação desses seus artigos sobre gerenciamento demonstra.

    Esta fase é a mais importante da vida do homem.

    As idéias – em seu conjunto – têm tanta força que acabam vencendo a idéia da força. Uma maneira de fazer vicejar as idéias é debatendo-as . As idéias precisam ser compreendidas e debatidas para poder sobreviver. As idéias ficam fortes quando se fala delas, quando se discute.

    Você precisa continuar a contribuir – e este veículo tem o espaço para isso, o Fórum do Beefpoint – a discutir, a polemizar, a defender suas idéias,a explicá-las melhor. Continue assim.

    Agora que as eleições se acabaram, e os tempos voltaram a ser – como sempre o foram desde seu início, de reconstrução – me permita analisar suas idéias – não apenas as gerenciais, mas também as sociais e econômicas, isto é, as idéias políticas.

  2. Marcelo Ribeiro De Almeida disse:

    Venho por meio desta lhe agradecer pelos artigos publicados no BeefPoint, que são e serão de muita importância para a classe produtora rural deste Brasil, é de pleno acordo que se o produtor não conseguir reduzir seus custos, ter um planejamento do que será produzido ou das mudanças a ser feitas no próximo ano, ou até mesmo saber realmente quanto de sua receita é lucro, ele dificilmente conseguira sobreviver neste mercado que a cada ano que passa se profissionaliza, se industrializa e de certo modo começa a formar uma nova era no meio rural, uma era de concorrência, de reduções de custos, de brigas por centavos, uma mudança esta que já foi e é sentida pelos donos de indústrias, comerciantes deste nosso injusto mas amado e querido Brasil.

    Nos dias de hoje não temos lugar para amadores tanto na agricultura como na pecuária, temos espaço para pessoas que não pensem apenas em si próprios mas de uma maneira coletiva, respeitando o meio ambiente, as leis trabalhistas e até mesmo respeitando a sua própria limita ção de sozinho não conseguir administrar sua própria propriedade (obter o melhor dos resultados que sua propriedade pode lhe render), ato este que deve ser visto como de suma inteligência ou até mesmo como uma jogada de mercado, pedir auxilio a profissionais que estudaram, que têm o embasamento teórico mas que falta o campo para que ele possa colocar todo o seu saber em prática, não vou entrar em questões salariais pois todo profissional do meio rural que trabalha com o setor de produção, sabe que se ele não apresentar no final do mês ou do ano o LUCRO praticamente estará despedido, ou seja, uma das primeiras atitudes do profissional é fazer com que seu conhecimento pague seu salário no final do mês, seja no aumento da produção, no corte de gastos ou até mesmo numa má captação dos números que a propriedade lhe fornece, com isso quero lhe agradecer por estas aulas que nunca tive na faculdade nas matérias respectivas, esta que no meu ver é vital para a sobrevivência de toda zona rural deste nosso querido e mal administrado Brasil.

  3. CARLOS MAGNO M SANTOS disse:

    Caro Carlos,

    Tenho acompanhado suas matérias e considero sua forma de disponibilizar informações tão importantes aos envolvidos no agronegócio uma atitude importante para o desenvolvimento da pecuária no Brasil.

    Parabéns