Os efeitos do foco de febre aftosa, ocorrido em Mato Grosso do Sul nesta semana, ainda não estão muito claros sobre os preços da carne bovina aos consumidores, mas devem afetar os índices de inflação no país.
A carne bovina tem grande participação na ponderação do índice de inflação da Fipe, que abrange a capital paulista. Trocando em miúdos, a participação da carne é a seguinte: de cada R$ 100 gastos mensalmente pelos paulistanos, R$ 22,72 são com alimentos (industrializados, semi-elaborados, “in natura” etc.). Dentro do item alimentos, só com a carne bovina são gastos R$ 2,53.
Há dois caminhos para os preços da carne: uma forte queda em Mato Grosso do Sul e uma elevação nos demais Estados, pelo menos nas primeiras semanas, segundo Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
A queda em Mato Grosso do Sul deve ocorrer porque o Estado é o maior produtor e exportador nacional de carnes. Com as barreiras internacionais e dos Estados vizinhos, os produtores sul-mato-grossenses não terão para quem vender a carne.
Já nos Estados vizinhos, embora muitos deles também tenham sofrido restrições externas às importações (como São Paulo e Paraná), haverá uma procura maior pela carne, tanto para o cumprimento de contratos de exportações (para os países que continuam importando desses Estados), como para o abastecimento interno dessas regiões (que, em boa parte, era abastecida pela pecuária de Mato Grosso do Sul).
“São Paulo estaria entre os Estados que sofreriam a elevação de preços, o que pressionaria a taxa de inflação”, diz Pichetti, já que a base de coleta de preços da Fipe é o município de São Paulo.
E os preços no mercado físico continuam subindo em São Paulo. Muitos frigoríficos saíram do mercado de compras, após o foco de aftosa em Mato Grosso do Sul, mas os que têm contratos a cumprir pagam 3% a mais do que na sexta-feira.
No curto prazo, a tendência de alta nos preços da carne bovina para os consumidores pode continuar, mas é difícil uma previsão exata do mercado nos próximos meses, segundo Picchetti.
Isso vai depender de quanto tempo e de como vão funcionar as barreiras impostas ao Mato Grosso do Sul.
Mesmo antes da ocorrência do foco de febre aftosa, os preços da carne bovina já vinham subindo, devido à menor oferta de gado neste período do ano.
Na segunda semana de setembro, em relação à segunda de agosto, os preços da carne bovina registravam queda de 0,1% para os consumidores paulistanos. Na primeira semana deste mês, em relação à primeira de setembro, o produto teve alta de 4,6%.
A Fipe registrou alta também nos preços das carnes suínas e de frango, fazendo o item alimentação ter o primeiro aumento médio em 15 semanas: 0,19%.
Fonte: Folha de SP, adaptado por Equipe BeefPoint