A seqüência de eventos sobre crises de focos de febre aftosa no Brasil tem mudado a percepção do mercado internacional sobre o aspecto sanitário da carne brasileira.
A seqüência de eventos sobre crises de focos de febre aftosa no Brasil tem mudado a percepção do mercado internacional sobre o aspecto sanitário da carne brasileira. Hoje, os cenários econômicos, as preferências dos consumidores e a percepção de qualidade sanitária são conceitos interativos que precisam ser encarados de forma global e todo o que aparece na nossa impressa é rapidamente divulgado pelos nossos concorrentes, sobre tudo tratando-se de declaração do nosso Ministro de Agricultura Dr. Luis Carlos Guedes Pinto.
Assumir um posicionamento oficial afirmando que a principal causa do aparecimento dos focos de aftosa é a falta de vacinação por parte dos pecuaristas, é denegrir a imagem da nossa pecuária e do país, além de ser uma argumentação extremamente frágil por parte do Ministro Guedes Pinto. Argumento, aliás, erodido em questão de segundos quando se analisa o esquálido orçamento que não permite pensar em um sistema de defesa sanitária com capacidade efetiva e inteligência para monitorar problemas, identificar agressores e enfrentar situações emergenciais. Além disso, não existem até hoje nem motivação, nem sinais de mudança de mentalidade para a abordagem correta de antecipação e prevenção de riscos ante a eclosão de crises sanitárias, com a agravante de que a situação de descontrole no trânsito animal nas nossas fronteiras continua, como recentemente noticiado pela imprensa, com um total descaso por parte das autoridades competentes.
Antes de responsabilizar quem quer que seja, deveríamos ter a disposição de iniciar uma abordagem global e integrada dentro da cadeia produtiva da carne bovina, que conduza a uma política de defesa animal mais coerente, eficaz e dinâmica a fim de provocar uma mudança capaz de sanar as atuais e múltiplas lacunas dos serviços de defesa animal, limitado pelos seus atuais procedimentos setoriais e rígidos, que têm restringido a capacidade de responder com rapidez e flexibilidade aos riscos do rebanho brasileiro.
É necessário normatizar os controles e ter como base pareceres científicos reconhecidos internacionalmente; basear-se no princípio da precaução e criar condições de tomar medidas rápidas e eficazes de salvaguarda em resposta a emergências sanitárias. Estas ações, assim como criar canais de comunicações e de coordenação junto aos ambientes organizacionais e tecnológicos, são de responsabilidade do ambiente institucional. Torna-se indispensável um conjunto de medidas destinadas a melhorar e modernizar os serviços de defesa animal antes de responsabilizar os pecuaristas de forma simplista. O momento deve ser de reflexão e não de justificativas banais.
É preciso antecipar as tendências e acompanhar a dinâmica nas principais vertentes de inovação, quando se pretende garantir dentro dos órgãos competentes a capacidade de incorporar, de forma contínua e sustentada, avanços simultâneos na visão da gestão de riscos e da segurança alimentar. Para que isso ocorra a velocidades comparáveis ou superiores à velocidade de avanço tecnológico dos nossos competidores, precisaremos definir, de forma rápida, uma estratégia para lidar com incertezas que surgem quando aparece um foco de febre aftosa.
As medidas e os métodos que definem as novas diretrizes a ser adotadas são claros com referência à necessidade de construir alianças e parcerias com a iniciativa privada. Este foi o caminho do sucesso trilhado pelo FUDEPEC no Estado de São Paulo: não criticar, mas construir soluções.
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Este artigo é uma resposta às declarações do Ministro da Agricultura Dr. Luis Carlos Guedes Pinto, publicada no dia 18/8/2006 no jornal Estado de São Paulo, pagina B13.
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Concordo plenamente com o Sr. Nelson Pineda. Estou formada há 3 anos e meu trabalho de conclusão do curso de Medicina Veterinária foi sobre a febre aftosa, o descaso que o governo (tanto estadual como federal) tem com uma doença extremamente política, capaz de levar a agropecuária desse nosso país ao caos!!!
Jogar a culpa sobre produtores talvez seja a melhor saída para os governos, mas para produtores e profissionais da área como nós é uma vergonha e injustiça. Sabemos que existem irresponsáveis, e esses com toda certeza devem ser punidos agora. Generalizar o fato é inconcebível. Parabéns pelo desabafo!!!
O ministro Guedes Pinto foi sincero, quem vivencia a pecuária brasileira sabe que ainda há pecuaristas que atuam da maneira como o ministro relatou. Esconder o problema ou mesmo minimizá-lo não resolve. Enquanto este comportamento burro e classista continuar a acontecer, o problema da aftosa não será resolvido.
Minha sugestão é de que o ato de declarar ter vacinado e não vacinar o gado seja considerado crime contra a segurança nacional e o responsável punido com cadeia e obrigado a ressarcir os prejuízos causados.
João Cláudio P. P. Manente
Engenheiro Agrônomo e pecuarista
Prezado amigo Nelson, parabéns pela explanação dos problemas e o apontamento das possíveis soluções e que o Ministro Guedes Pinto tome conhecimento deste artigo que muito contribuirá para sua gestão à frente do Ministério, proporcionando uma oportunidade de agir de acordo com a real necessidade da vigilância sanitária no país.
Quanto aos produtores rurais, estes estão fazendo até mais do que poderiam, diante de tantos desmandos e desrespeitos, produzindo cada vez mais quantidade e qualidade, proporcionando o superavit da balança comercial brasileira.
Não adianta tampar o sol com a peneira, a culpa maior é de quem tem o poder de guiar a defesa sanitária no país. Querer culpar o produtor por uma falha do governo é muito simplista. O que falta, é continuidade do serviço de defesa, não tendo interferência política. Esta é uma área que político só poderia ajudar e nunca interferir, pois é área técnica. Pois foi a partir da ajuda da iniciativa privada (entidades de produtores e técnicos) que foi possível ao governo conseguir o status sanitário atual.
Tem hoje uma minoria de produtores que não cumpre sua obrigação, neles que as autoridades deveriam atuar. Não fazem principalmente porque o governo só vem ano a ano cortando o orçamento da defesa sanitária.
Acho que todos os comentários acima tem sua razão de ser e estão extremamente corretos, dependendo da ótica que se utiliza. Nós como elos da cadeia produtiva da carne e leite temos sim que unir forças e sim, fazer o Brasil crescer mais e mais.
Não sou catarinense, mas acho que uma boa forma para se utilizar no controle de aftosa é dada pelo exemplo de Santa Catarina, onde produtor rural não comprava vacina na casa agropecuária mas o órgão do governo realizava, através de pessoal treinado especificamente para tal, a vacinação e emitia bloquetos de cobrança das doses utilizadas. Algumas cidades do Paraná e restante do Brasil já partiram para esse modelo. Que tal a idéia governantes e produtores?
Enfermidades de cunho tal como a aftosa, que pode fazer mercados e valores se modificarem através de simples palavras, tem que ser repensados com muito carinho e cuidado por todos. Quero dizer todos produtores, frigoríficos, varejistas e governo.